sábado, 14 de agosto de 2010

DVD: Preciosa


Gabourey: uma vida preciosa na sarjeta

Falando em Oscar e em Sandra Bullock recentemente vi Preciosa de Lee Daniels, lembro que um amigo do mestrado disse que tinha visto o filme e que achou tudo aquilo muito caricatural, mas que era interessante a proposta do filme. Acho que ele tem alguma razão, mas até que ponto podemos negar as caricaturas num retrato da realidade? Pra começar me chama a atenção como o filme tem o maior jeitão de filme da década de 1980, a trilha, as roupas e até a proposta me lembra os primórdios do cinema independente americano, tudo muito sujo, tudo muito espontâneo e pouco lapidado antes que se industrializasse com o auxílio da Miramax. Lee Daniels nem tenta disfarçar que sua maior inspiração é A Cor Púrpura (o meu filme favorito de Steven Spielberg), inspiração que brota da própria obra que deu origem à Preciosa, o livro em forma de poema da escritora Saphire. O vínculo do filme com  A Cor Púrpura não para por aí, além de uma personagem mencionar que púrpura é sua cor favorita, a produtora do filme é Oprah Winfrey que foi alçada ao estrelato por sua atuação no papel coadjuvante de Sophia na obra spielbergiana.   Além dessas semelhanças, as obras são protagonizadas por jovens negras que comem o pão que o diabo amassou, com direito a filhos doados sem o seu consentimento, doses de incesto e maus tratos. No entanto, se fizermos um ranking, a rechonchuda Preciosa ganha em desgraças da esguia Cecile. Preciosa é pobre, negra, obesa, tem um filho com síndrome de down que mora com a sua avó, está grávida do esposo de sua mãe pela segunda vez e a senhora em questão é uma das maiores megeras do cinema (cortesia de Mo'Nique, que ganhou mais de trinta prêmios pelo papel incluindo o Oscar e o Globo de Ouro). As coisas vão muito mal na vida de Preciosa, que aos 16 anos já pode ver um futuro pouco promissor. A coisa só melhora quando tem a chance de entrar para um programa para jovens com problemas de aprendizagem e com a ajuda de uma professora (a bela Paula Patton) redescobre sua auto-estima. Apesar dos maiores louros do filme terem ficado com a ex-rapper e comediante Mo'Nique (afinal, ninguém esperava que pudesse suportar tamanha carga dramática nas costas) a alma do filme é Gabourey Sidibe, que desde o Festival de Cannes do ano passado chamou a atenção. A jovem foi indicada ao Oscar de atriz, mas teve uma tarefa árdua para provar que tinha pouca coisa em comum (só o físico) com a personagem, sua atuação é comovente e de uma precisão de veterana - especialmente nas cenas que duela com Mo'Nique. Parte desse mérito é de Lee Daniels, que deu espaço de sobra para suas atrizes (que ainda conta com uma surpreendente Maryah Carey no papel de uma assistente social) construirem seus personagens em suas forças e mazelas. Pela tarefa se tornou o segundo diretor negro a ser indicado ao Oscar de direção (o outro foi John Singleton, por Os donos da rua,  num longínquo 1991). Preciosa é um choque para nos fazer pensar que muitas pessoas precisam apenas de uma chance para se sentirem especiais e mudarem o rumo de uma vida que parece destinada ao fundo do poço. Parece auto-ajuda? Pode até ser, mas com muita sinceridade. Falando em sinceridade, Bullock merecia mesmo o Oscar de atriz? 

Preciosa (Precious/EUA-2009) de Lee Daniels, com Gabourey Sidibe, ´Mo'Nique, Paula Patton, Maryah Carey e Lenny Kravitz.  Cotação: ☻☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário