A Origem deve ser o filme mais aguardado do ano, afinal de contas todo mundo ficou de boca aberta mesmo sem entender nada do que estava vendo no trailer criado pela equipe do cineasta Christopher Nolan. Vi o filme na sexta-feira no seu lançamento, na primeira sessão e até agora estou tentando digerir o que eu vi. Não que eu considere o filme difícil de ser entendido, de fato as várias camadas narrativas tornam a trama complexa, mas Nolan tem habilidade de sobra para lidar com essas coisas, afinal quem viu Amnésia - que ficou conhecido como o "filme de trás para frente" sabe do que o cara é capaz. Mas Inception foi produzido logo após o grande sucesso do cineasta: Batman - O Cavaleiro das Trevas que rompeu a barreira do bilhão na bilheteria mundial e rendeu críticas para a Academia Hollywoodiana que o esnobou na categoria principal. Diante desse quadro é possível que o filme de Nolan esteja entre os dez indicados do Oscar no ano que vem e a academia possa se redimir não só do que fez com seu Batman, mas com o próprio Amnésia que perdeu o Oscar de roteiro - por que nem Christopher e seu irmão Johnatan Nolan (que assinavam a escrita do filme) eram afiliados ao sindicato. Politicagens a parte, A Origem é um espetáculo visual e cinematográfico. Evidente que você irá identificar um mundo de referências na trama do filme: David Lynch, Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças, Matrix, 007, Quero Ser John Malkovich, 11 Homens e um Segredo... mas a graça de tudo é como Nolan manipula todas essas referências e nos oferece uma esperiência única por mais de duas horas na sala escura. Pode-se dizer que ele mescla nossa experiência ao ver o filme com a atividade de sonhar, ou que nos proporciona a mesma sensação de seus personagens, que confunde nossa cabeça propositalmente para não nos darmos conta dos problemas que seu roteiro pode ter, o fato é que o diretor sabe exatamente o que fazer para segurar a nossa atenção durante toda a projeção, aprisionar nosso fôlego até que o fim do filme chegue e não se tenha certeza que terminou. A crítica americana fingiu não entender o que viu ou apenas se acostumou aos filmes bobocas que assolam o ano de 2010? Eles que me desculpem, mas no universo de Nolan tudo me soa coerente e extremamente coeso. O filme pode ser visto como um filme pipoca bem elaborado, mas pode também ser encarado como uma grande analogia sobre nossa atividade de sonhar diante de uma tela de projeção - além das entrelinhas revelarem que Nolan não quer só entreter, mas nos fazer pensar acima de tudo.
Joseph Gordon Levitt: Mais elegante que o Homem Aranha
A história se concentra num ladrão de sonhos, ou melhor um extrator (Leonardo DiCaprio), mas dessa vez ele recebe uma missão diferente: inserir uma idéia na mente de alguém, uma idéia capaz de dilulir o império empresarial milionário herdado por um rapaz (Cillian Murphy). Mas ele é incapaz de encarar essa missão sozinho, ainda mais com o grau de risco que assume (que o fará criar três camadas de sonho). Na equipe desse ladrão ainda está uma espécie de segurança pessoal (Joseph Gordon Levitt, que cria um dos personagens mais elegantes da história do cinema), um simulador (Tom Hardy, que promete fazer barulho nos próximos anos), uma arquiteta de sonhos inexperiente (Ellen Page), um químico capaz de dar-lhe o tempo necessário para a missão, além do empresário que encomendou a missão que é chamado nos posteres de "O Turista" (Ken Watanabe). Sem falar na involuntária sombra (Marion Cotillard, magnífica como sempre) carinhosamente chamada de Mal (engraçado que com o título nacional a coisa toda parece girar em torno da Origem de Mal) que coloca em risco as missões do extrator. Cada personagem tem sua função na narrativa e por vezes se revelam verdadeiros símbolos de nosso inconsciente coletivo - e nesse ponto as atuações precisas ajudam muito, além das pegadinhas que o diretor coloca em cena sobre os seus atores (a música de Piaf que os desperta do sonho, uma paródia de uma cena de Titanic, a bolsa de Gordon Levitt de 500 dias com ela, as ruas vazias de Extermínio na arquitetura dos sonhos de Cillian Murphy... ou seja, o cinema nos provoca essas inserções, tal como o protagonista almeja fazer). Nolan acerta mais uma vez e a trilha sonora de Hans Zimmer completa essa viagem que queremos repetir assim que acaba a sessão. No mínimo, espero que não só os efeitos especiais sejam lembrados no Oscar do ano que vem.
A Origem (Inception/EUA-2010) de Christopher Nolan com Leonardo Dicaprio, Joseph Gordon Levitt, Ellen Page, Marion Cotillard, Ken Watanabe, Cillian Murphy, Tom Hardy, Ken Watanabe, Nicholas Haas e Tom Berenger. Estreou dia 06/08/2010. Cotação: ☻☻☻☻☻
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