quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

CATÁLOGO: Pi

Max (de Máximo?): Conheço essa sensação, amigo...

Continuando nossa retrospectiva da cinematografia de Darren Aronofsky (até a estréia de Cisne Negro) o filme escolhido dessa semana é Pi, o filme de estréia do diretor. Nos atuais momentos finais de minha dissertação, Pi é o filme que mais me vem à cabeça por passar aquela sensação de que você pode investir o máximo de si por um estudo e ainda assim ter a impressão de que não é suficiente. Lembro de ter visto o filme enquanto estava na faculdade e meus amigos matemáticos o odiarem, pudera, acho que metade da humanidade deve ter a mesma reação. Pi conta a história de Max Cohen (Sean Gullete, o ator fetiche de Darren no início da carreira e que também ajuda no roteiro), um gênio matemático obstinado em descobrir alguma lógica na cotação da bolsa de valores. O surpreendente é que em meio aos seus cálculos se depara com Pi, aquela constante matemática da razão entre a circunferência de qualquer círculo e seu diâmetro, ou seja 3,1415265... e uma infinidade de números que Max encontra por acaso em seu sitema caótico. Sua descoberta é matemáticamente expressiva, mas para os engravatados da bolsa de valores não serve para nada, estes começam a persegui-lo em busca das respostas prometidas pelo matemático. Ao mesmo tempo, a perfeição de sua descoberta o faz ser perseguido por judeus ortodoxos que estudam a cabala - e chegam a cogitar que o número é a comprovação científica da existência divina. O roteiro tem contornos de ficção científica ao colocar o matemático entre o mercado capitalista e a religião. Afinal de contas a ciência deve servir a quem? Esta é uma das perguntas que deve passar pela cabeça de Max enquanto sofre dores de cabeça insuportáveis na busca por respostas cada vez mais imprecisas. Aronofsky é um diretor voltado para personagens obstinados, que enfrentam seus limites para alcançar sua realização e Pi é um excelente cartão de visitas desse interesse em sua obra. O filme causou sensação ao ser exibido em Sundance - imagino o furor que as cenas do cérebro sendo comido por insetos, da sensação da furadeira estar entrando em seu ouvido (num efeito sonoro impressionante) e do mundo em preto e branco (sem meio tom) em que o protagonista vive - Darren já mostrava seu interesse pelo cinema sensorial e nem precisa de 3D! Ao fim da jornada de Max (entre perseguições e auto-descobertas que o coloca no limite entre a genialidade e a loucura) escolhe o que considera melhor para continuar vivo. Até fevereiro, quando estréia Cisne Negro, terei os meus dias de Pi até a conclusão de meu mestrado e até lá o cérebro permanecerá com aquele zunido de insetos a devorá-lo dia após dia.

Pi (EUA-1998) de Darren Aronofsky com Sean Gullette, Mark Margolis e Ben Shenkman. ☻☻☻☻

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