Protocolo Fantasma: Missão Impossível reencontra o sucesso.
Acabou de chegar em DVD o quarto longa-metragem estrelado por Tom Cruise na pele do agente Ethan Hunt - e este não deve ser o último. Lembro que estava no Segundo Grau quando assisti o que Brian dePalma havia aprontado com o seriado clássico que foi ao ar de 1966 até 1973. No elenco de apoio, nomes robustos como Vanessa Redgrave, John Voight, Emanuelle Beárt e Kristin Scott-Thomas ajudavam a dar o clima de conspiração da história. Como se tornou de praxe nos episódios, o filme começa no meio de uma missão, uma festa refinada em Praga, até que tudo começa a dar errado. Hunt percebe que seus colegas foram alvos de uma armadilha. Ele acredita ser o único sobrevivente da missão - e por isso começa a ser suspeito de traição, até que descobre outra agente (a francesa Emanuelle Beárt) que sobreviveu e está disposta desvendar o que havia por trás daquela missão junto com ele. Mais do que em qualquer longa da série, a atmosfera noir é a que toma conta do roteiro confuso - mas que serviu para apresentar as características que dariam corpo à série: máscaras de disfarce, a modernizada trilha clássica pelas mãos de Adam Clayton e Larry Mullen (U2), duas ou três cenas de ação de tirar o fôlego, os companheiros de origem duvidosa de Hunt (incluindo Ving Rhames na pele de Luther Stickel que sempre aparece como amigo de Hunt), um ator veterano consagrado como mentor e os apetrechos fascinantes que os agentes dispõem para fazer o serviço. A bilheteria robusta garantiu para Cruise uma verdadeira mina de ouro em sua carreira (tratava-se de sua estreia na produção ao lado de sua então agente Paula Wagner). Não é todo dia que cai uma franquia de sucesso em suas mãos - e muito menos originária de um programa de TV. Com o custo de 80 milhões e arrecadação mundial de mais de 450 milhões, o filme credenciou a produção de uma sequência. Pena que Missão Impossível 2 é o pior da série. Diante de um roteiro fraquinho chamaram John Woo para dar uma vitaminada na narrativa. Para Woo é fácil prender a atenção com cenas de ação elaboradas, mas quando se trata de explorar o que há entre elas a coisa complica! O vilão é Sean Ambrose (Dougray Scott), que possui um vírus letal e precisa ser detido por Ethan e seus dois parceiros - o já conhecido Luther e Billy vivido por John Polson, ambos aparecem pouco durante o filme. O roteiro força a exploração de um triângulo amoroso formado por Hunt, Ambrose e a ladra Nyah (uma pouco inspirada Thandie Newton) que não dá liga. Se o roteiro do primeiro longa parecia confuso, este aqui torna-se cheio de reviravoltas que escondem a falta de assunto. Os esforços de Woo e do marketing pesado (até na trilha sonora cheio de bandas pesadas como Limp Biskit, Metallica e até os brasileiros Raimundos) serviu para o longa arrecadar 565 milhões de dólares ao redor do mundo - mas o custo inchado de mais de 120 milhões e as críticas mornas fizeram todos perceberem que alguma coisa precisava ser revista nas aventuras do agente.
Hunt em sua estreia: missão menos confusa que a segunda.
Cruise penou um bocado para encontrar o diretor adequado para o terceiro filme da franquia. Seu sonho de consumo era David Fincher, depois se contentou com Joe Carnahan (Narc/2002) que desistiu pouco depois. Parecia que o astro não conseguiria tirar o filme do papel. Na época sua imagem começava a dar sinais de desgaste e um sucesso de bilheteria era tudo o que precisava para colocar a carreira nos eixos. Como os cineastas convidados não toparam, Cruise resolveu convidar um diretor vindo da TV, JJ Abrams que estava no auge com o sucesso da cultuada série Lost. Abrams já provara que entendia desse negócio de agente secreto (já que criou o aclamado seriado Alias que revelou Jennifer Garner na pele de uma espiã). Abrams conseguiu dar o trato no roteiro que a franquia precisava, resgatando aspectos que o segundo filme havia ignorado (mas que eram capazes de agradar os fãs): abordou a vida pessoal do protagonista, deu mais destaque aos personagens que compõem a equipe de Hunt (como acontecia no seriado), colocou um vilão inesquecível na trama e mostrou como as lendárias máscaras de disfarce são produzidas. Como de costume, o filme começa com uma missão que serve de anúncio para as outras que aparecem no roteiro - além de apresentar o vilão traficante de armas Owen Davian (Phillip Seymour Hoffman). Embora sombrio, trata-se do filme mais bem costurado da franquia e o mais fiel ao clima do seriado original ao destacar os parceiros de Hunt na trama - Declan (Johnatan Rhys Meyers) e Zhen (Maggie Q). Claro que as cenas de ação ajudam a não perceber alguns aspectos repetitivos dos filmes M:I (a conspiração dentro da agência Missão: Impossível e sempre colocando Hunt como alvo de perseguição quando mais precisa de ajuda), aspectos que podem ter colaborado para o filme não ser um sucesso. Com orçamento de 150 milhões, o filme só conseguiu o dobro disso nas bilheterias mundiais, tornando-se a menor bilheteria do agente Tom Cruise. Mesmo assim, ao final de 2011 foi lançado Missão Impossível: Protocolo Fantasma, com direção assinada por Brad Bird (da oscarizada animação Os Incríveis/2004). Bird se sai muito bem em sua primeira aventura com atores de carne e osso, conseguindo imprimir bom ritmo na narrativa e inserindo mais humor na trama. Para anabolizar o elenco, Cruise escolheu o astro em ascensão Jeremy Renner (para viver um analista que entra quase de penetra na missão), o britânico Simon Pegg (para ficar responsável pelas partes cômicas) e a linda Paula Patton (como a agente que exala sensualidade e inteligência em iguais proporções). Com os agentes ganhando ainda mais espaço na trama (com conflitos e dramas pessoais), o problema ficou por conta de Michael Nyqvist (da trilogia sueca Millenium) que tem quase nada para fazer como vilão disposto a destruir o mundo numa explosão nuclear. Mais uma vez, Hunt precisa agir fora da burocracia da agência que faz parte, assumindo riscos cada vez maiores ao se confrontar com acusações, uma vida pessoal em frangalhos e uma mercenária que pode colocar tudo a perder. Cenas como a fuga da prisão, o encontro de Rachel com a tal mercenária e da tempestade de areia valeram a compra do ingresso com respaldo da crítica. Com orçamento de 145 milhões e o triplo disso em bilheteria mundial, o filme colocou a franquia novamente nos eixos. Protocolo Fantasma ainda traz uma série de novos elementos que revitalizam a franquia - fique atento às pistas de que na próxima trama a vida pessoal de Hunt voltará a entrar em pauta.
Hoffman na terceira missão: o melhor vilão da franquia.
Missão: Impossível (Mission: Impossible / EUA-França/1996) com Tom Cruise, Emanelle Beárt, Henry Czerny, Jon Voight, Vanessa Redgrave, Ving Rhames, Kristin Scott Thomas e Emilio Estevez. ☻☻☻
Missão: Impossível 2 (M:I 2 / Alemanha-EUA/ 2000) de John Woo com Tom Cruise, Thandie Newton, Dougray Scott, Anthony Hopkins, Ving Rhames e John Polson. ☻☻
Missão: Impossível III (Mission: Impossible III - EUA-China-Alemanha / 2006) de J.J. Abrams com Tom Cruise, Phillip Seymour Hoffman, Maggie Q, Johnatan Rhys Meyers, Keri Russel, Michelle Monaghan, Billy Crudup e Simon Pegg. ☻☻☻☻
Missão Impossível: Protocolo Fantasma (Mission: Impossible - Ghost Protocol/EUA- Emirados Árabes / 2011) com Tom Cruise, Jeremy Renner, Paula Patton, Simon Pegg, Michael Nyqvist e Josh Holloway.
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