sábado, 21 de fevereiro de 2015

Na Tela: Sniper Americano

Cooper: a dura tarefa de se sobrepor aos clichês patrióticos. 

Concorrendo a seis Oscars na cerimonia desse ano, Sniper Americano se beneficiou um bocado do patriotismo dos membros da Academia. Dirigido por Clint Eastwood - que do excepcional Cartas de Iwo Jima/2006 não atiçava tanta simpatia dos acadêmicos (houve até indicações para os seus atores em A Troca/2008 e Invictus/2009, mas o mérito era mais das notoriedades de Anjelina Jolie, Morgan Freeman e Matt Damon) - o filme tem aquelas cenas que parecem feitas para cair somente no gosto do público americano... e funcionou por lá! Afinal, o filme é o mais rentável entre os oito filmes que concorrem na categoria de Melhor Filme lançado em 2014. O filme conta a história de Chris Kyle, famoso sniper (traduzindo: atirador de elite) do exército americano, responsável por mais de 200 mortes em suas ações no Oriente Médio (mas o filme credita a ele pouco mais de 120). Kyle era um texano que ganhava a vida como cowboy, antes de entrar para as forças armadas aos 36 anos. No exército descobriu um dom que o tornaria um verdadeiro herói nos tempos pós-11 de setembro: a pontaria. Bradley Cooper (em ótimo desempenho, que lhe valeu a terceira indicação seguida ao Oscar) consegue dimensionar com precisão os dilemas do personagem, do rapaz descolado, ele se torna cada vez mais introspectivo diante do que faz e observa na guerra. Cooper, imprime uma tensão crescente no personagem, para o desespero de sua esposa (Sienna Miller) que presencia o distanciamento cada vez maior da vida comum que tinham. Se no campo de batalha ele é chamado de herói, na vida domiciliar, ele mal consegue segurar um bebê no colo ou conversar com a esposa. Existe uma tendência do filme a mitificar Chris Kyle, mas o ator é o responsável por estabelecer um equilíbrio entre o homem e o mito, demonstrando seu desconforto com o papel a que lhe foi atribuído entre os colegas - visível no constrangimento quando é reconhecido como um herói, afinal, seu trabalho é matar, independente do fato de ser em nome da pátria (e nessa tarefa não importa se são homens, mulheres ou crianças: se representa uma ameaça, sua função é matar). A direção de Eastwood tenta não tomar partido, mas não consegue, afinal, o roteiro encadeia combates sem maiores explicações, como se tudo girasse em torno da caça aos terroristas (e nem vou entrar no mérito de que o "maior inimigo" de Chris, o sniper iraquiano Mustafa (Sammy Sheik) é apresentado como uma caricatura risível), sem entrar em maiores explicações. Some isso a frases como "os EUA são o melhor país do mundo" que é melhor o se concentrar em momentos como o irmão de Chris, Jeff (Keir O'Donnell) mandando o patriotismo às favas ao ser convocado para a guerra, ou nos momentos em que Chris torce para não ter que apertar o gatilho. Sniper Americano não acrescenta muito aos filmes de guerra, não se tornará um clássico do gênero, tem uma cena de ação realmente marcante (o combate em meio à uma tempestade de areia) e alguns momentos de tensão, no entanto, a dimensão humana da história quase se perde. O maior mérito do filme fica por conta do protagonista em sua árdua tarefa de apresentar os tormentos de seu personagem quando torna-se cada vez mais introspectivo. 

Sniper Americano (American Sniper/EUA-2014) de Clint Eastwood com Bradley Cooper, Sienna Miller, Sammy Sheik, Ben Reed e Keir O'Donnell. ☻☻

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