sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

FILMED+: O Ano Mais Violento

Isaac e Jessica: lembrando como os anos 1970 foram importantes para o cinema.  

Em clima de ressaca do Oscar entra em cartaz no Brasil O Ano Mais Violento. O terceiro longa-metragem de J.C. Chandor apareceu em algumas listas de melhores lançamentos de 2014, foi indicado ao Globo de Ouro de atriz coadjuvante (Jessica Chastain que também concorreu ao Independent Spirit na mesma categoria ao lado da edição e do roteiro escrito pelo próprio Chandor). O filme ainda criou uma polêmica quando foi considerado pelo National Board of Review o melhor filme do ano e ficou de fora de todas as categorias do Oscar. A Academia não deve ter achado seu formato setentista, reproduzido com impressionante perfeição, interessante. Azar o deles. Do poster que remete aos clássicos dos anos 1970 à fotografia granulada, O Ano Mais Violento consegue reproduzir a atmosfera tensa dos filmes que Sidney Lumet e Martin Scorsese faziam na época. O cinema da década de 1970 de Hollywood era banhado no cinema europeu, que referendou os filmes banhados na desilusão, desconfiança das autoridades e paranoia. Afinal de contas, estamos falando a década da Guerra do Vietnã, do caso Watergate, da evacuação das tropas de Saigon, ou seja, o sonho americano não era mais como antes, estava recheado de corrupção e violência. Divertido é que quando Hollywood reproduz o espetáculo dos musicais de décadas passadas (Chicago/2002) ou o saudosismo do cinema mudo (O Artista/2011), o Oscar adora, mas quando reproduz a atmosfera do período mais crítico de sua cinematografia, a Academia ignora solenemente os méritos de uma obra relevante. O roteiro redondo e sem excessos conta a história do casal formado por Abel  (Oscar Isaac) e Anna (Jessica Chastain) Morales na Nova York de 1981 - que, conforme o título lembra, foi o ano mais violento da cidade. Até ali, a década de 1980 não tinha o colorido que a celebrizou depois, ainda carregava as tintas densas da década passada. Os Morales (não por acasos de famílias de imigrantes) conduzem uma empresa de combustível que sofre constantes roubos de seus caminhões de entrega. Depois de algum tempo os caminhões são encontrados vazios, mas cheios de prejuízo para os dois. Enquanto Abel tenta manter a calma e descobrir quem é o responsável pelos assaltos, Anna pensa que é necessário tomar medidas mais drásticas pedindo a ajuda de sua misteriosa família - o que Abel quer evitar ao máximo para evitar confusões. Não bastasse os assaltos, Abel ainda sofre uma investigação do governo (que suspeita de ilegalidades na empresa) e precisa lidar com os atentados sofridos com alguns funcionários (que começam a pensar que precisam andar armados para se defender). Chandor consegue criar uma atmosfera sufocante sobre todos os seus personagens, destacando o contraste entre o pacífico Abel e a esposa, Anna que parece disposta a destruir seus inimigos com unhas e dentes. Essa dinâmica entre o casal é um dos pontos fortes do filme (ressaltando que que são defendidos com gosto por Isaac e Chastain, ambos com atuações intimistas e intensas para marcarem presença entre as melhores do ano passado). No fundo, os roubos sofridos pelos Morales formam apenas o pretexto para expor a vulnerabilidade de todos à cidade que parece devorá-los. Com seus altos índices de assaltos, estupros e assassinatos, nem mesmo a confortável mansão do casal é segura. O cineasta conduz seu filme com uma segurança que impressiona, revisitando climas e personagens que fizeram a glória do cinema dos anos 1970. A selva de concreto com suas ruas e esconderijos, faz com que Nova York se torne uma espécie de personagem nessa homenagem à década que injetou mais ousadia e consistência no cinema americano, além de provocar uma identificação absurda com a paranoia urbana do século XXI.

O Ano Mais Violento (A Most Violent Year/EUA-2014) de J. C. Chandor com Oscar Isaac, Jessica Chastain,  Albert Brooks, David Oyelowo, Elyes Gabel, Alessandro Nivola e Catalina Sandino Moreno. ☻☻☻☻☻

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