Redford: personagem sem nome encarando a morte.
Sempre que me deparo com Até o Fim, penso na dificuldade que J.C. Chandor deve ter encontrado para vender a ideia de seu segundo longa metragem. Afinal, trata-se de um filme estrelado por um único ator, em um único cenário e sem diálogos. A trama sobre o homem que viaja sozinho de barco pelo Oceano Índico (e tem a jornada comprometida quando seu barco colide com um container) gira em torno de uma única situação e a necessidade do diretor costurar seus poucos elementos numa trama envolvente para a platreia. Lembram quando o personagem de Max Von Sydow joga xadrez com a morte em O Sétimo Selo, a ideia aqui é quase a mesma, já que o personagem sem nome e sem história (durante todo o filme sabemos que é apenas um homem num barco) evita que as adversidades faça com que a morte vença e ele pereça ao final dos mais de noventa minutos em cena. Vivido por Robert Redford (indicado ao Globo de Ouro de ator dramático), o protagonista terá que enfrentar todas as ameaças de naufrágio do seu barco - e ainda sobreviver sem água potável e alimento no meio do nada. Chandor quer exibir aqui que pode ser um diretor mais envolvente do que vimos em sua estreia com Margin Call (2011), filme sobre a crise financeira americana que, cheio de personagens e elementos variados, lhe rendeu uma indicação ao Oscar de roteiro original. Aqui ele corta tudo isso e apresenta um filme simples em suas intenções, mas intenso em sua abordagem. As cenas em que acompanhamos a tempestade do interior do barco é vertiginosa com seus movimentos de câmera, som e fúria influenciados pelo que acontece lá fora. Chega a ser arrepiante o momento em que percebemos que o barco virou completamente em meio ao oceano. Com poucas falas, Redford cumpre a missão de expressar toda a angústia de seu personagem com o rosto marcado pelo tempo - o que torna até suas poucas falas supérfluas. Chandor não pouPa a plateia de toda a aflição dessa jornada no desespero do personagem até a cena em que é a prévia de um suicídio. Talvez, quando se acha que tudo está perdido (como diz o título original do filme) é o momento de arriscar tudo o que se tem. Triste e desolador, existem ainda momentos poéticos durante o filme. A cena em que recebe um refrescante banho de chuva, ou o cardume de peixes ameaçado por predadores (que retrata como a morte está sempre próxima) são tratadas com o mesmo cuidados de momentos mirabolantes nessa aventura fadada à tragédia. Outro destaque do filme é a belíssima trilha sonora que ganhou o Globo de Ouro no ano passado (mas ficou de fora do Oscar, que lembrou de indicá-lo somente na categoria de edição de som). Até o Fim exige fôlego da plateia para embarcar numa viagem única (e ousada) do cinema recente.
Até o Fim (All is Lost/EUA-2013) de J.C. Chandor com Robert Redford. ☻☻☻☻
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