domingo, 8 de fevereiro de 2015

Na Tela: Dois Dias, Uma Noite

Os amigos e Sandra: o individual e o coletivo (forma por indivíduos). 

A ausência de Marion Cotillard nas listas de premiações já deviam ter deixado a atriz convencida de que não tinha chances de ser indicada ao Oscar desse ano. Com todo o favoritismo de Julianne Moore (Alice Para Sempre), os elogios recebidos por Rosamund Pike (Garota Exemplar), o reconhecimento de Felicity Jones (A Teoria de Tudo) e o retorno de Reese Witherspoon (Livre), a quinta vaga parecia estar garantida para Jennifer Aniston (por Cake). Então, os deuses do cinema conspiraram a favor da atriz francesa que foi indicada ao Oscar novamente por um filme falado em francês. Vale lembrar que Marion é a única atriz estrangeira na história do Oscar  a ganhar o prêmio de atriz por um filme não falado em inglês (Piaf/2007) e, depois de sua participação em vários filmes americanos, ela tornou-se bastante influente entre os votantes da Academia. O longa Dois Dias, Uma Noite dos irmãos Jean Pierre e Luc Dardenne competiu em Cannes e foi o escolhido francês para concorrer a uma vaga no Oscar de filme estrangeiro, mas acabou ficando de fora. Bastante atual e filmado com a câmera na mão (mas sem os tremeliques irritantes de tantos outros), existe um ar quase documental à peregrinação de Sandra (Marion), funcionária de uma fábrica que, um dia, acorda com o telefonema anunciando a sua demissão. A decisão foi tomada para que seus colegas de trabalho possam receber um gordo bônus salarial. A partir daí, Sandra aceita (a contragosto) a sugestão de procurar cada um dos dezesseis votantes para convencê-los de que ela precisa do trabalho, mais do que eles precisam do bônus. Com o apoio do esposo e um casal de amigo, ela começa uma tarefa difícil (e um tanto humilhante) no curto prazo anunciado pelo título para que haja uma nova votação na segunda-feira que se aproxima. A trama é bastante simples, mas entre um encontro e outro, o texto dos irmãos Dardenne apresenta um olhar bastante complexo das relações trabalhistas no mundo moderno, onde o individual e o coletivo (que não podemos esquecer que é formado por individualidades) entram em choque todo o tempo. Sem apontar para heróis ou vilões, o filme prefere expor alguns laços, ainda que frágeis, que se desenham entre a personagem e seus colegas. A estrutura da narrativa pode incomodar os mais dispersos, mas vale a pena conferir a produção que conta com uma atuação memorável de Marion, que mergulha nas nuances mais variadas de sua personagem complicada. Cotilard é uma das melhores atrizes do cinema atual e vendo sua performance logo percebe-se o motivo: um simples gesto ou olhar já consegue transmitir a alma da personagem. Seus silêncios são tão marcantes que os votantes da academia lembraram se sua atuação límpida, sem truques de maquiagem ou visual, trata-se de uma atriz que se defende apenas vestindo o personagem como ele merece e, assim, colocar a cara a tapa diante da câmera. Só ela já vale o filme. 

Dois Dias, Uma Noite (Deux Jours, une nuit/França-2015) de Luc e Jean Pierre Dardenne, com Marion Cotillard, Fabrizio Rongione, Catherine Salée e Batiste Sornin. ☻☻☻☻

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