sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Na Tela: Livre

Reese: reencontrando seu caminho. 

Esse ano me dei ao luxo de conferir o maior número de indicados ao Oscar até o dia da cerimonia. Livre de Jean-Marc Vallée está em cartaz há mais de um mês no Brasil, mas o conferi só recentemente. Não sei se é por conta de uma antipatia recente sobre os filmes centrados especificamente em um ator em cena a maior parte do tempo (que parece ter uma luz piscante dizendo: "OSCAR! OSCAR!") ou uma ideia inconsciente de que filmes sobre gente em contato com a natureza costuma me deixar entediado a maior parte do tempo. O fato é que demorei para investir meu tempo nessa empreitada de Reese Witherspoon ao lado do diretor do premiado Clube de Compras Dallas/2013. A vida não andava boa para Reese desde que ganhou o Oscar de atriz como a esposa de Jonhy Cash em Johny & June (2005). De lá para cá ela se separou do ator Ryan Phillipe, teve problemas com álcool, sofreu um dos atropelamentos mais estranhos da história... e no trabalho as coisas não estavam melhores. Desde sua premiação teve dois filmes de sucesso (a comédia natalina Surpresas do Amor/2008 e Monstros e Alienígenas/2009 no qual fazia a voz da grandalhona Ginormica), mas nada que de relevante para quem tem um Oscar na estante. Hollywood parecia querer transformá-la em apenas uma loura (basta ver o que ela faz nos intragáveis Como você Sabe?/2010 e Guerra é Guerra/2012). Olhando assim, seus trabalhos eram mais interessantes antes de ganhar a cobiçada estatueta. Seria Reese mais uma vítima da maldição do Oscar que afetou Halle Berry, Jessica Lange e Mira Sorvino? Voltando os olhos para o início de sua carreira nos filmes independentes, Reese reencontrou seu caminho nos últimos anos em filmes de orçamentos modestos - mas de ideias consistentes para suas atuações em  Sem Evidências (2012), Amor Bandido (2012) e o recente Vício Inerente (2014). Essa longa introdução serve para demonstrar o que atraiu Witherspoon na jornada de Cheryl Strayed, que resolveu fazer a trilha pela costa do Pacífico para colocar sua vida sob nova perspectiva. Enquanto caminhava, com fome, sede e um pé maltratado por botas apertadas, Cheryl queria esquecer o fracasso do seu casamento, anos de sexo promíscuo, o vício em heroína e a morte da mãe vítima de câncer. Durante toda a jornada, Cheryl repete para si mesma que ao final voltará a ser a mulher que sua mãe esperava. É verdade que durante o caminho, Chreyl encontra outros desafios, de homens ameaçadores, água escassa, calor, frio, cobras, neve... tendo muitos momentos para pensar na vida e poucos de diversão, são essas experiências (misturadas às memórias em flashback da personagem) que torna sua jornada bastante intimista. No entanto, sua história não me envolveu. Não sei se não percebi, ou se de fato o roteiro nunca explica muito bem qual é a grande angústia da personagem para se impor aquela peregrinação toda. Com exceção da morte da mãe (vivida pela sempre competente Laura Dern, indicada ao Oscar de coadjuvante), todos os outros problemas de Cheryl poderiam ser revolvidos se ela caísse em si a qualquer momento em qualquer lugar. Percebo que existe uma dificuldade para dimensionar as motivações da personagem, mais isso não prejudica em nada a atuação de Reese (indicada ao Oscar de melhor atriz). A atriz se sai bem no desafio de imprimir veracidade às diferentes fases de Cheryl. Talvez a intenção de Vallée é demonstrar que, ao final da cansativa jornada (para Cheryl e para o espectador), a personagem perdoa a si mesma pelos tropeços que cometeu, mas até lá percebe que andar centenas de quilômetros por vários dias não afasta seus fantasmas, pelo contrário, os deixam ainda mais presentes e necessários para sua sobrevivência. 

Livre (Wild/EUA-2014) de Jean-Marc Vallée com Reese Witherspoon, Laura Dern, Thomas Sadoski, Kevin Rankin e Gabby Hoffman. ☻☻

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