sábado, 27 de janeiro de 2018

NªTV: Mosaic

Sharon e Reuben: sabor de decepção. 

Durante toda a semana assisti Mosaic, a nova série criada por Steve Soderbergh que foi ao ar pela HBO. Originalmente a obra foi concebida para ser vista através de um aplicativo de celular ou tablet nos Estados Unidos e o objetivo era que diante dos recortes de várias partes da história, o espectador clicasse nas janelas e montasse a trama como bem entendesse, seguindo determinado personagem  ou pista sobre a morte de uma personagem. A ideia já é por si só revolucionária (e fica com ares de um Você Decide mais elaborado para a era digital). No Brasil a ideia ganhou uma narrativa linear em formato de série convencional pela HBO na forma como o diretor preferiu seguir a própria história. O resultado pode ser muito moderno em aplicativos, mas em termos de série de TV me pareceu uma grande decepção. A história gira em torno da investigação de um crime e desde o início sabemos que a vítima foi Olivia Lake (Sharon Stone no seu projeto mais ambicioso em tempos), escritora de livros infantis e que recentemente criou uma fundação filantrópica. Nos primeiros capítulos conhecemos a personagem e os homens que cruzaram o seu caminho e se tornaram os suspeitos do crime. Entre eles está Joel (Garrett Hedlund) um jovem ilustrador que trabalha como garçom para pagar as contas e  Eric (Frederik Weller), que tem interesses em Olivia para além do carnal. Misture a isso uma subtrama sobre interesses imobiliários e o que temos é uma série que atira para muitos lados e confunde mais do que prende a atenção. Na versão do diretor, Mosaic não conseguiu prender a minha atenção, achei tudo (ironicamente) desconectado e com uma narrativa pouco empolgante, com todos os atores dizendo seus diálogos no mesmo tom e sem muita emoção. Esqueça aquela atmosfera de tensão crescente em torno do suspense, aqui ela simplesmente não existe. Em alguns momentos o programa até prende atenção (sobretudo quando Garrett Hedlund está em cena), mas o tratamento dado aos personagens torna muito difícil se envolver com os seus dilemas. Neste ponto a própria Olivia Lake se torna o melhor exemplo. Sharon Stone continua linda e reluzente quando aparece em cena, mas sua Olivia não consegue ser mais do que o arquétipo da beldade que não aceitou a passagem do tempo e se tornou uma megera insegura (ou seria uma paródia daquela outra escritora vivida pela atriz em Instinto Selvagem/1992?). Montada em seis episódios, Mosaic finge ter resolução no quinto episódio, mas aí aparece o último e você não faz a mínima ideia do que ele está fazendo ali. Talvez no aplicativo seja uma delícia montar a sua história, mas não deixa de ser engraçado que Soderbergh concebesse uma versão tão monótona para um projeto feito para ser tão inovador. 

Mosaic  (EUA-2018) de Steve Soderbergh com Sharon Stone, Garrett Hedlund, Frederick Weller, James Ransone, Paul Reubens, Beau Bridges e Maya Kazan.

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