domingo, 28 de janeiro de 2018

Na Tela: O Artista do Desastre

Os irmãos Franco: celebrando a catástrofe. 

Por muito tempo o pior filme da história era responsabilidade do cineasta americano Ed Wood (1924-1978), artista que recebeu sua própria cinebiografia (excelente por sinal) pelas mãos de Tim Burton em 1994. Mas o reinado de Wood foi ameaçado em 2003 quando o desconhecido Tommy Wiseau lançou o cultuado The Room. Além de bancar o filme do próprio bolso (com uma grana que ninguém sabe de onde vinha) e sua permanência em cartaz por algumas semanas - para que o filme pudesse concorrer ao Oscar (sim, ele acreditava realmente nisso!), Tommy exibe o filme ainda hoje ao redor do mundo para uma legião de fãs fiéis do filme que é tão ruim  que chega a ser bom. Imaginar que o filme poderia ser bom de alguma forma soa como exagero, já que The Room se tornou o exemplo de como uma pessoa não faz a mínima ideia de como fazer um filme. Com problemas de continuidade, atuações exageradas, personagens que desaparecem da história sem qualquer explicação e trama sem o menor sentido, The Room é realmente um desastre cinematográfico e, por isso mesmo, diverte plateias até hoje. A jornada de produção deste filme antológico virou livro pelas mãos de Greg Sestero, amigo de Wiseau e estrela do filme,  a obra instigou James Franco e transforma-lo em filme e, o melhor de tudo, você não precisa assistir um filme para saborear o outro. O Artista do Desastre tem momentos hilariantes ao abordar um personagem excêntrico, estranho e que ninguém faz a mínima ideia de sua idade e origem (algumas fontes dizem que ele tem mais de sessenta anos e nasceu na Polônia), mas imagina-se que ele herdou uma fortuna, além de ser solitário e ter um carinho especial por Greg (de quem tem crises de ciúmes bastante intensas). O filme começa quando os dois faziam um curso de teatro e resolveram partir para tentar a carreira em Los Angeles. Diante das constantes rejeições, Wiseau resolveu fazer seu próprio filme ao lado do amigo e aí começa a aventura. Desde o início, Wiseau demonstra não ter a mínima noção de como fazer um filme - e sua equipe percebe isso em vários momentos, mas continua o serviço já que o pagamento está sempre em dia. Entre crises de egocentrismo, megalomania, ciúmes e surtos quando alguém dizia que ele era a imagem perfeita de um vilão, Wiseau tem atitudes inacreditáveis (repete uma cena simplória ao infinito, tem xilique para manter uma cena de sexo com seu traseiro em destaque, castiga a equipe sem água ou ar condicionado...) e concede material para James Franco demonstrar que como ator ele realmente não tem pudores. Franco realiza aqui o seu filme mais acessível como diretor e um dos seus melhores trabalhos como ator, tanto que recebeu o Globo de Ouro de ator de comédia pela performance - mas ficou de fora do Oscar (dizem que foi por causa das denúncias de assédio que começaram a surgir contra ele, ou talvez por ser o James Franco mesmo...). No Globo de Ouro, Franco ainda rendeu um dos momentos mais constrangedores da noite ao impedir que o verdadeiro Tommy Wiseau chegasse ao microfone. O momento apenas ressaltou que sobra ego e falta humildade a James. Muita gente ficou curiosa em saber o que Tommy diria no microfone, um repórter do Los Angeles Times conseguiu descobrir, o artista do desastre em pessoa diria "Se muitas pessoas amassem umas às outras, o mundo seria um lugar melhor para viver. Vejam The Room, se divirtam, aproveitem a vida. O Sonho Americano está vivo, e é real". O Artista do Desastre concorre ao Oscar na categoria de  melhor roteiro adaptado. 

O Artista do Desastre (The Disaster Artist/EUA-2017) de James Franco com James Franco, Dave Franco, Seth Rogen, Ari Graynor, Alison Brie, Jackie Weaver, Megan Mullally, Josh Hutherson e Paul Scheer. ☻☻☻☻

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