quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

HIGH FI✌E: Fevereiro

Cinco filmes assistidos no mês de fevereiro que merecem destaque:

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"Três Anúncios Para um Crime" de Martin McDonagh
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Na Tela: Pantera Negra

Michael e Chadwick: conflitos ideológicos. 

O herói Pantera Negra da Marvel foi criado em por Stan Lee e Jack Kirby, estreando nas HQs do Quarteto Fantástico em 1952. O personagem ganhou destaque na época por se tornar o primeiro herói essencialmente africano, no caso T'Challa, rei e protetor do reino fictício de Wakanda. Seus poderes surgem por conta de um ritual que aprimora suas habilidades, tornando seus sentidos e agilidade mais aguçada (não são poucos que percebem uma relação entre o herói e o movimento dos Panteras Negras que surgiu em 1966, mas são apenas especulações). Não deixa de ser interessante como  a Marvel introduziu um personagem pouco lembrados dos Quadrinhos em seu universo cinematográfico, criando fôlego de tornar seu voo solo um verdadeiro acontecimento cultural - especialmente num momento em que todo mundo só fala dos filmes indicados ao Oscar. O  Pantera já apareceu em Capitão América - Guerra Civil (2016) e roubou a cena ao demonstrar uma personalidade que não escolhia um lado, mas resolver suas pendengas pessoais. Agora ele recebe um filme só dele e, como a Marvel se especializou nos últimos anos, abraçou um determinado gênero cinematográfico para contar esta nova aventura. Ao ser convidado para dirigir o longa, o cineasta Ryan Coogler se perguntava mais do que sobre o que era ser um herói, mas ser um herói africano de um país que preferia manter segredo sobre sua tecnologia e riqueza enquanto o mundo enfrena a miséria. Wakanda foi concebida para ser tudo o que o continente africano poderia ser, se não fosse historicamente marcada pela colonização predatória e tristes histórias de famílias destruídas e escravidão. São estes fatores que estão por trás da história. Embora Chadwick Boseman continue defendendo o herói com grande habilidade, quem rouba a cena é o vilão vivido por Michael B. Jordan (parceiro de Coogler em seus filmes anteriores) na pele do misterioso Erik Killmonger. Na pele de Erik, Michael apresenta seu melhor trabalho e coloca em cheque a legitimidade de T'Challa se tornar rei de Wakanda. Killmonger é todo fúria e ressentimento sobre um reino construído em cima de uma grande farsa. Pode se dizer que existe aqui uma oposição entre herói e vilão como a existente entre Magneto e Professor Xavier nas HQs do X-Men, que torna um tanto borrado o ponto em que o radicalismo se torna tão sedutor quanto questionável. Mas não é apenas dos dois atores que se faz o filme. Além do excelente visual embalado por uma trilha sonora esperta, o filme conta com boas cenas de ação e duas atrizes que tem atuações bem marcantes. Uma é a oscarizada Lupita N'Yongo, que tem aqui o seu papel de maior destaque desde que foi revelada em 12 Anos de Escravidão (2013). Ela imprime uma elegância ímpar ao interesse amoroso do herói, não perdendo a classe mesmo nas cenas de ação. Porém, todo mundo sabe do que Lupita é capaz, faz tempo... (pena que Hollywood ainda não sabe como lidar com ela), assim, o grande achado é Danai Gurira! Na pele de Okoye, a líder do exército feminino de Wakanda, ela cria a mistura perfeita de Grace Jones com Viola Davis. Uma mistura explosiva que lhe garantiu lugar no aguardado Guerra Infinita que estreia em abril por aqui. Com um elenco repleto de jovens astros negros, a produção ainda arranjou espaço para Angela Basset e Forrest Whitaker, para dar ainda mais peso a personagens secundários da história. No fim das contas os signos e a identidade que transbordam de Pantera Negra acabam falando mais alto do que a história de perseguição ao vilão Klaue (Andy Serkis se divertindo um bocado) que logo se torna uma mistura de pendenga familiar, vingança e busca da identidade. Embora a concepção do filme seja uma grande ousadia, o filme encontra problemas justamente quando repete aspectos que já fazem parte da cartilha da Marvel (do herói que vive o dilema de "não ser nada sem o seu traje ultratecnológico" ao destino do vilão ao final da história) e começam a criar um certo cansaço. De resto, Pantera Negra é um filme pipoca como os outros do estúdio, só que com um orgulho danado de sua negritude. 

Danai e Lupita: coadjuvantes de respeito. 

Pantera Negra (Black Panther/EUA-2018) de Ryan Coogler com Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Andy Serkis, Lupita N'Yongo, Danai Gurira, Angela Basset, Forrest Whitaker, Letitia Wright e Martin Freeman. ☻☻☻

domingo, 25 de fevereiro de 2018

INDICADOS AO OSCAR 2018: MELHOR DIREÇÃO

Christopher Nolan (Dunkirk) O que acontece quando você faz o dever de casa direitinho? Obviamente, será ignorado por quem irá avaliar se você aprendeu a lição. Nolan já poderia ter sido indicado ao prêmio de Melhor Direção faz tempo, seja com o sucesso de O Cavaleiro das Trevas (2008) ou A Origem (2010). Obviamente que ele já tentou outras vezes, mas sabia que com o filme de guerra mais imersivo de todos os tempos, não teria como a Academia ignorá-lo. Dunkirk concorre em oito categorias, colocando Nolan na mira do prêmio de Direção e Melhor Filme. Ele já havia sido indicado anteriormente pelos roteiro Amnésia (2000), além de concorrer também pelo roteiro e produção de A Origem

Greta Gerwig (Lady Bird) Ela queria ser escritora, mas acabou enveredando pela carreira de atriz. Nos últimos anos ela também começou a escrever roteiros e ter um filme dirigido só por ela era inevitável. Depois de se tornar musa indie e ajudar o namorado Noah Baumbach a revigorar a carreira (com Frances Ha/2012), acho que até ela ficou surpresa quando foi indicada ao Oscar de melhor direção. De quebra, também foi lembrada na categoria de melhor roteiro original pela escrita bastante pessoal de uma adolescente em fase de transição para a vida adulta. Greta se tornou a quinta mulher a concorrer nesta categoria, sendo a terceira americana a ser lembrada. É o primeiro ano em que o Oscar lembra dela. 

Guillermo Del Toro (A Forma da Água) Favorito na categoria, ele já levou quase todos os prêmios da temporada por seu trabalho na história de amor entre uma mulher muda e uma criatura marinha. Del Toro já era famoso por suas histórias cheias de monstros e personagens esquisitos, mas aqui ele se superou ao construir uma história que mistura várias referências à história do próprio cinema. Somente uma mente genial para cruzar o discurso dos excluídos com os antigos filmes B de Hollywood! Ele já concorreu ao Oscar pelo roteiro de O Labirinto do Fauno (2006) e, neste ano, também concorre nas categorias de Melhor Filme e Roteiro Original. Se ganhar, se juntará aos amigos Alfonso Cuarón e Alejandro Gonzalez Iñárritú no seleto grupo de mexicanos premiados pela Academia. 

Jordan Peele (Corra!) Outro que demonstrou grande habilidade ao misturar filmes de terror com preconceitos foi este ator que ganhava fama fazendo comédias. Corra! pode até ter seus toques de humor, mas somente debaixo das camadas de uma trama assustadora que brinca com o surreal e o racismo escondido numa família aparentemente normal dos EUA. Lançado na terra do Tio Sam em  fevereiro, o filme ficou na memória do público, da crítica e dos votantes do Oscar que se renderam à estreia do ator atrás das câmeras. O filme concorre a quatro prêmios, três deles são para Peele (que concorre ainda ao prêmio de Roteiro Original e Melhor Filme ao lado dos produtores). São as primeiras indicações de Jordan ao Oscar.

Paul Thomas Anderson (Trama Fantasma) O diretor faz parte de uma safra de cineastas vindos do cinema independente que deu novo fôlego para Hollywood - e a Academia está sempre atenta ao que ele faz (tanto que é o mais indicado de todos os seus concorrentes). Ele já concorreu pelos roteiros de Boogie Nights (1997), Magnólia (1999), Sangue Negro (2007) e Vício Inerente (2014). Como diretor ele já concorreu anteriormente por Sangue Negro, que também lhe indicou ao prêmio de Melhor Filme. Este ano ele concorre pelo tom da estranha história de amor de um estilista e sua jovem musa, ele também concorre ao prêmio de Melhor Filme do ano. Com isso, ele soma oito indicações ao Oscar. 

O ESQUECIDO: Martin McDonaugh (Três Anúncios Para um Crime) A lógica da Academia é realmente muito curiosa, afinal, um dos candidatos mais fortes ao prêmio principal, concorrente a três prêmios de atuação... fica de fora do prêmio de direção! Martin já tem Oscar em casa pelo curta Six Shooter (2006), além disso, já concorreu pelo roteiro de Na Mira do Chefe (2009). Este ano o Oscar conferiu sete indicações ao seu novo filme, mas o ignorou nesta categoria. Pelo menos ele concorre aos prêmios de Roteiro Original e Melhor Filme. Famoso pelo estilo cheio de humor negro e situações violentas, Martin pegou leve desta vez e acabou ficando de fora.

Na Tela: Trama Fantasma

Vicky, Daniel e Lesley: o mais estranho do Oscar. 

Arrisco dizer que dos nove indicados ao Oscar de Melhor Filme deste ano, Trama Fantasma é o mais difícil de assistir. Este também deve ser o motivo pelo qual muita gente ficou surpresa quando a Academia de Hollywood rendeu seis indicações para o novo filme de Paul Thomas Anderson (que concorre como melhor diretor do ano) quando todo mundo só sabia repetir que se trata do último trabalho como ator de Daniel Day Lewis (eu sempre duvido quando ele diz isso - e faz tempo que ele diz, mas acho que ele não resiste quando recebe um roteiro interessante para trabalhar), que conseguiu sua sexta indicação ao prêmio (e ele já tem três em casa). O filme tem uma estética muito interessante que remete diretamente à linguagem clássica do cinema, tem uma pitadinha daqueles filmes ingleses de época que flertam com o gótico, bela fotografia, ótimo trabalha com os figurinos (também indicados), cenários, cabelos, trilha sonora impressionante (que rendeu a primeira indicação ao Radiohead Johnny Greenwood ao Oscar), mas a história mesmo você só descobre aos poucos. O personagem principal da história é o estilista Reynolds Woodcock (Daniel Day Lewis), em atividade em Londres e cultuado pela elite da Europa da década de 1960. Ele costura para nobres e milionárias que acreditam que somente ele pode deixá-las lindas e imponentes. Woodcock (achei este nome tão esquisito) trabalha junto com a irmã, Cyrill (a ótima Lesley Manville, indicada ao Oscar de coadjuvante), uma mulher forte que fala pouco, mas que sabe exatamente como lidar com o irmão, as musas e o trabalho. A história começa mesmo quando Reynolds encontra uma mulher simples, uma garçonete que logo é promovida à musa do estilista. Ela tem as medidas perfeitas que ele procurava à tempos, no entanto, isso não quer dizer que conviver com ele será uma tarefa fácil. Obviamente que por existir um certo culto em torno dele, o homem é um poço de ego e arrogância e a modesta Alma (Vicky Krieps) irá desbotar aos poucos ao ser absorvida pela rotina da casa e do trabalho de Reynolds. Neste ponto o filme parece ser uma abordagem pessimista sobre os relacionamentos, especialmente sobre a dificuldade em perceber o outro como alguém com necessidades, anseios e sonhos próprios. Woodcock não está nem aí para estas coisas. Quando você se acostuma com a história,  Alma tem uma atitude inesperada e... o filme insere seu elemento mais estranho. Embora seja um romance, Trama Fantasma conduz seus dramas fazendo suspense e não tendo vergonha de utilizar um bocado de humor negro nas entrelinhas. O resultado é tão diferente quanto envolvente. Hipnótico na verdade, já que seguimos aqueles personagens sem saber muito bem o que acontecerá no desfecho. Neste ponto, além  da embalagem pomposa, o que faz a diferença é a direção precisa de Anderson e o trio de intérpretes fascinantes. Vicky acerta na transição da personagem com bastante leveza. Lesley está espetacular em toda cena que aparece (roubando a cena com um levantar de sobrancelha no café da manhã) e Day Lewis prova mais uma vez porque é um dos melhores atores (se não for o melhor) ator em atividade. Ele desaparece no personamge, um sujeito alimentado totalmente pelo ego e que, de vez em quando, precisa de um corretivo para lembrar que é um mero mortal. 

Trama Fantasma (Phantom Thread/EUA-2017) de Paul Thomas Anderson com Daniel Day Lewis, Vicky Krieps, Lesley Manville, Camilla Rutherford, Brian Gleeson e Gina McKee. ☻☻☻  

Na Tela: A Grande Jogada

Idris e Jessica: quem tem medo de Molly Bloom?

A esquiadora Molly Bloom treinou desde pequena para se tornar uma medalhista olímpica. Como consequência se tornou vítima de uma escoliose precoce que lhe rendeu uma dolorosa cirurgia corretiva na coluna. Os médicos conselharam que ela abandonasse o esporte. Ela prosseguiu. Molly quase se tornou uma campeã, mas um acidente na prova, que ela não tinha condições de evitar sepultaram de vez sua carreira como atleta. Sem saber muito bem o que fazer, ela trabalhou como garçonete, secretária e... a vida seguiu até o ponto em que ela se tornou a maior organizadora de partidas de pôquer com alto risco de que se tem notícia. Embora sempre se certificasse de que não estava violando a lei, ela terminou presa pelo FBI com suspeita de envolvimento com a máfia russa e perdeu todo o dinheiro que conseguiu juntar durante seus serviços. Fosse uma história de ficção, provavelmente ninguém acreditaria nesta trama, mas Molly Bloom existiu de verdade e, os segredos que sempre preferiu esconder sobre os homens que jogavam pôquer em suas partidas se tornaram seu maior segredo. Logo se percebe o interesse do roteirista Aaron Sorkin para estrear na direção com a história de Molly, afinal, sua trajetória é tão cheia de altos, baixos, reviravoltas, contatos com celebridades, reis e mafiosos que se torna um prato cheio para o escritor caprichar nos diálogos ditos por seus personagens. Sorkin também foi sábio em escolher Jessica Chastain para o papel principal, ela consegue criar uma personagem irresistível pelo caminho mais complicado. Sua Molly não é propriamente inocente ou simpática, mas ela consegue imprimir seriedade e inteligência a cada gesto e olhar, assim, o que deixa a história ainda melhor por conhecermos como ela se tornou a mulher que é. Chastain convence no estranho equilíbrio de alguém que se acha mais esperta do que todos que estão por perto, mas, que ao mesmo tempo, sabe que está se arriscando cada vez mais pelo submundo. Molly não tem medo de cara feia e, por isso mesmo, incomoda os homens poderosos que cruzam o seu caminho. O roteiro não linear ajuda a entender a história da personagem sem perder parte do suspense, embora, ao chegar no final, fica a sensação de que a forma como a história é contada é muito mais interessante do que o seu desfecho. Também temos outros personagens interessantes, como o astro vivido por Michael Cera (que dizem ser uma mistura de Tobey Maguire, Leonardo DiCaprio, Matt Damon e Ben Affleck... já que reza a lenda que eles participavam das partidas organizadas pela protagonista) e o advogado vivido por Idris Elba, que passa a confiar na personagem conforme a história se desenrola. Embora Sorkin consiga manter um bom ritmo na narrativa e seja esperto em não perder tempo com jogadas de pôquer, ele sente dificuldade para enxugar a narrativa em off de algumas cenas (basta ver a cena, não precisa de alguém falando o que acontece o tempo todo) ou criar o acerto de contas de Molly com sua figura paterna (vivida por Kevin Costner), que cria uma curva desnecessária na história. Faltou o desapego de um diretor para cortar um pouco a vaidade de Sorkin, são tropeços que não comprometeu o reconhecimento da Academia novamente - que lhe rendeu a terceira indicação ao prêmio de melhor roteiro adaptado (ele já foi premiado pelo texto de A Rede Social/2010 de David Fincher). Talvez Sorkin esperasse mais, mas sua estreia é uma promessa de filmes ainda melhores no futuro. Jessica foi lembrada no Globo de Ouro, mas poderia ter marcado preesença entre as indicadas ao Oscar, seu trabalho é mais interessante do que o de Meryl Streep em The Post. O que não é pouca coisa. 

A Grande Jogada (Molly's Game/EUA-2017) de Aaron Sorkin com Jessica Chastain, Idris Elba, Michael Cera, Kevin Costner, Chris O'Dowd e Brian D'Arcy James. ☻☻☻  

sábado, 24 de fevereiro de 2018

10+: Rejeitados pelo Oscar

#01 Donald Sutherland
Todo ano o Oscar gera alguma controvérsia por ter esquecido uma atuação memorável no ano que passou. No entanto, ao longo do tempo, muitos artistas talentosos ficaram a ver navios, sem ter o seu talento reconhecido pela Academia durante a carreira. Homenageado com um Oscar honorário na festa do dia 04 de março, o veterano Donald Sutherland foi um destes casos mais marcantes. Atuando desde a década de 1960, seus trabalhos eram até indicados a outros prêmios (ele tem dois Globos de Ouro na estante e outras cinco indicações). Com quase duzentos trabalhos no currículo, o Oscar sempre o deixou de fora. Prestes a completar 83 anos, seus colegas finalmente lembraram que o fato dele nunca ter um Oscar é um erro - e não ter uma única indicação em toda a carreira é um erro maior ainda. Ele poderia ter várias indicações, especialmente por seus trabalhos em M.A.S.H (1970 - pelo qual ganhou seu primeiro Globo de Ouro), no suspense Klute - O Passado Condena (1971 - em que viu a colega Jane Fonda ganhar quase todos os prêmios da temporada) e Gente como a Gente* (1980 - em que três colegas foram indicados ao Oscar, Timothy Hutton até ganhou um... e ele: nada). Esta lista serve para lembrar outros nove atores que colecionam não indicações ao maior prêmio do cinema americano (*meus favoritos).

#02 Armie Hammer
Nascido em 1986, Armand Douglas Hammer ainda terá muitos anos de carreira pela frente, mas sua trajetória é uma das mais curiosas. Ele não consegue ser indicado ao Oscar nem quando é um dos favoritos! Tanto que é conhecido como um dos atores mais pé-frios da nova geração. Embora chame atenção da crítica e dos produtores o rapaz não consegue emplacar um sucesso de bilheteria. Às vezes, até quando parece que a coisa vai bem... algo sai errado (como foi a polêmica envolvendo O Nascimento de Uma Nação/2016 que foi limado do Oscar por conta da acusação de estupro ao diretor da produção). Armie ficou conhecido quando fez os gêmeos Winklevoss em A Rede Social (2010) pelo qual foi indicado ao SAG junto com o elenco. Impressionado com o moço, Clint Eastwood o escolheu para ser o protegido de Leonardo DiCaprio em J. Edgar* (2011) e o SAG lembrou dele novamente. Com Me Chame pelo Seu Nome (2017) sua indicação era tida como certa no próximo Oscar. Várias premiações lembraram dele, incluindo o Globo de Ouro e quando saíram as indicações... melhor sorte da próxima vez, rapaz!

#03 Chadwick Boseman
Em cartaz no Brasil com o sucesso Pantera Negra, Chadwick já tinha ficado conhecido de muita gente com trabalhos fortes sobres personagens reais. Por conta dos trabalhos marcantes ele entra como pré-candidato a premiações, mas sempre fica de fora na contagem final. Sorte que ele caiu no radar da Marvel e tende a ficar cada vez mais conhecido para conquistar fãs entre os votantes da Academia. Boseman já tinha vários trabalhos na TV quando foi escolhido por Brian Helegeland para viver o jogador de beisebol Jackie Robinson que venceu vários preconceitos retratados no drama biográfico 42: A História de uma Lenda (2013). No ano seguinte ele chamou atenção novamente ao incorporar o ícone James Brown em Get On Up* (2014), num interpretação cheia de energia. Neste ano ele entrou no radar do Oscar pela primeira vez vivendo o primeiro advogado afro-americano a trabalhar na Suprema Corte dos EUA em  Marshall (2018), pena que o Oscar resolveu indicar só a canção do filme...

#04 Ewan McGregor
O escocês Ewan McGregor escolheu ser ator por conta de um tio na família e chamou atenção desde que apareceu em Cova Rasa (1994), filme de estreia de Danny Boyle. Boyle e Ewan continuaram a parceria no ano seguinte e fizeram Trainspotting* (1996), onde o ator provou que não estava para brincadeira. O filme foi aclamado em Cannes e lhe valeu uma indicação ao BAFTA de melhor ator (assim como ocorreu com a continuação lançada no ano passado). O O Oscar preferiu apenas indicar o filme mais falado do ano ao prêmio de roteiro adaptado. Por um tempo, Ewan fez papéis polêmicos e controversos até ir para Hollywood e se tornar uma espécie de galã. Nesta fase nem sua performance em Moulin Rouge (2001) foi capaz de lhe render o reconhecimento da Academia. O moço teve que se contentar com a indicação ao Globo de Ouro. Ewan já começava a ficar repetitivo quando topou ser o objeto de afeição de Jim Carrey em O Golpista do Ano (2010), mas  o filme dividiu tanto as opiniões que ele acabou esquecido mais uma vez. Eu poderia fazer uma lista só de filmes que do ator que mereciam uma indicação, mas vou seguir a regra e listar somente três...

#05 Gael Garcia Bernal
Eu sei que alguns vão dizer que Gael é mexicano e a Academia tem lá seus preconceitos e tal... mas o cara já virou estrela de Hollywood faz tempo. Eu até entendo que era cedo demais esperar uma indicação ao Oscar por seu magnífico trabalho em Amores Brutos (2000), o famigerado filme de estreia de Alejandro Gonzalez Iñárritú. Mas todo mundo esperava que ele fosse lembrado pela Academia por seu papel do jovem Che Guevara em Diários de Motocicleta* (2004), mas o filme foi indicado somente ao prêmio de melhor canção (e foi premiado). Depois ele fez vários outros trabalhos (e se mostrou um pé quente para o Oscar, com sete indicados ao Oscar em seu currículo). A última vez que o moço chegou perto foi como o jornalista Mazia Bahari, um jornalista iraniano-canadense que é preso por suspeita de espionagem em 118 dias (2014). Mas o fato dele ser mexicano deve ter pesado mais ainda neste caso...  

#06 Idris Elba
O ator inglês foi o motivo de uma das maiores polêmicas de toda a história do Oscar - mas mesmo assim, ele não perdeu um grama de sua fleuma britânica enquanto Hollywood se engalfinhava. Muita gente já considerava que o ator merecia uma indicação por seu trabalho em Mandela: O Caminho para a Liberdade (2014), que lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro ao viver o líder sul-africano. Todo mundo imaginava que o reconhecimento de seu avassalador trabalho em Beasts of no Nation* (2015) era a chance da Academia se redimir. Ele ganhou o Globo de Ouro, o Independent Spirit e o SAG de ator coadjuvante pelo papel do vilão do filme. Foi indicado ao BAFTA pelo trabalho e quando saíram as indicações ao Oscar... ponhonhóim: a Academia ignorou o filme completamente. Dizem que foi por conta de ser uma produção da Netflix, mas no ano em que todos os indicados foram brancos o assunto deu o que falar com a campanha #OscarSoWhite. Elba aceitou o destino e continuou seus trabalhos como se nada houvesse acontecido. Neste ano, algumas pessoas acreditavam que ele seria indicado pelo papel do advogado de Jessica Chastain em A Grande Jogada (2017), mas... não deu. 

#07 Jamie Bell
O ator inglês se tornou uma paixão mundial quando foi revelado como o menino filho de carvoeiros que queria ser bailarino em Billy Elliot* (2000). O filmão de estreia de Stephen Daldry apareceu em várias premiações e colocou Jamie entre os indicados no British Independent Award, SAG e vários outros prêmios. Ele ganhou alguns prêmios de ator revelação aos 14 anos e levou para casa o BAFTA de melhor ator pelo papel. Nada mal para um menino que não tinha experiência diante da câmera. O Oscar indicou o longa aos prêmios de direção, atriz coadjuvante, roteiro original e... Jamie ficou de fora. Ele continuou sua carreira fazendo um filme atrás do outro e a Academia o esqueceu de vez. Assim, bons trabalhos como em Jane Eyre (2011) foram esquecidos. Neste ano ele poderia ter sido lembrado por Film Stars Don't Die in Liverpool (2017), que lhe valeu  elogios e uma indicação ao BAFTA de melhor ator. O Oscar ignorou o filme completamente, mais uma vez.  

#08 Jeff Daniels
Daniels tinha a maior pinta de galã. Sua aparência caía como uma luva para papéis de bom moço, especialmente se fosse um tanto perdido. Depois de trabalhar no teatro ele foi para a TV nos anos 1980 e em 1983 já aparecia somo o genro de Shirley MacLaine em Laços de Ternura (1983). O filme foi indicado à onze estatuetas e surpreendeu ao levar cinco para casa - incluindo melhor filme. MacLaine e Jack Nicholson foram premiados. Debra Winger e John Lithgow foram indicados e Jeff... ficou de fora. Ele poderia ter melhor sorte no ano seguinte ao viver um dos melhores personagens criados por Woody Allen, o personagem que sai da tela para namorar uma cinéfila frágil e suspirante em A Rosa Púrpura do Cairo* (1985). O Globo de Ouro o indicou a melhor ator de comédia e musical, mas o Oscar só lembrou do roteiro. Depois ele fez de tudo: suspenses, dramas, comédias e até Débi e Loide (1994). O tempo passou. Ele envelheceu e acharam que com o elogiado A Lula e A Baleia (2005) ele poderia ser indicado ao Oscar de ator pelo pai egocêntrico em crise do filme. Mera ilusão. Com vários trabalhos marcantes (e cada vez melhor em seu ofício), Jeff é forte candidato a um Oscar honorário em 2038, quando completará 83 anos...

#09 Michael Stuhlbarg
Aos cinquenta anos, Mike já se consagrou como o ator coadjuvante do momento. Não apenas neste ano ele está em três filmes indicados ao Oscar de Melhor Filme (o que é impressionante), como ele já participou de doze filmes já lembrados pela Academia. Sete concorrendo como melhor filme. Pouco conhecido pelo público, ele começou a chamar atenção ao protagonizar Um Homem Sério* (2009) dos irmãos Coen - oncd vive um professor que tenta não se desesperar quando a vida caminha para a ruína. Pelo papel ele foi lembrado no Globo de Ouro, mas o Oscar preferiu indicar o longa ao prêmio de Melhor Filme e Roteiro Original. Outra vez que acharam que sua indicação era certa foi quando fez Andy Hertzfeld, amigo de Steve Jobs (2015). Mas o Oscar só teve olhos para seus colegas Michael Fassbender e Kate Winslet. Neste ano ele era um dos favoritos ao prêmio de coadjuvante pelo papel do pai que tem a cena mais comovente de Me Chame Pelo Seu Nome (2017), mas... foi esquecido novamente. 

#10 Vincent Cassel
Eu sei que vocês vão dizer que o cara é francês e tem feito mais filme no Brasil do que em Hollywood. Mas... quantas atuações memoráveis você já viu do oscarizado francês Jean Dujardin? Pois é. Vincent Cassel é famoso por suas atuações intensas e marcantes, principalmente quando precisa dar conta de personagens esquisitos. Com 52 anos, ele filma mais na França do que em qualquer outro lugar, mas já fez filmes em todo o canto. Imaginaram que ele poderia ser lembrado no Oscar quando fez o papel do bandidão Jacques Mesrine em Inimigo Público Nº 1* (2008). Não foi (mas pelo menos ele ganhou o César). Depois ele provocou arrepios com Sheitan (2013), onde infernizava a vida de quem cruzava o seu caminho. Esquecido novamente. Recentemente ele fez Meu Rei (2015), e, ainda que tenha colhido elogios, a Academia o ignorou novamente. Fora isso, Cassel tem vários filmes americanos com diretores renomados (Darren Aronofsky, Danny Boyle, David Cronenberg, Paul Greengrass...) mas a Academia nem o percebe, ou, pelo menos, finge muito bem. Pelas minhas contas, o Oscar honorário dele sairá em 2049. 

domingo, 18 de fevereiro de 2018

PL►Y: Uma Mulher Fantástica

Daniela: luto incompreendido. 

Candidato ao Oscar de Filme Estrangeiro deste ano, o chileno Uma Mulher Fantástica já tem o prestígio de ganhar três prêmios no Festival de Berlim de 2017. O filme de Sebastián Lelio levou para casa o Urso de Prata (espécie de segundo lugar do Festival), o prêmio do júri ecumênico e o Teddy (o prêmio voltado para o público LGBTQ) por contar a história de Marina Vidal, uma mulher transexual que atravessa uma série de situações após a morte de seu namorado, Orlando (Francisco Reyes). Se até o fatídico episódio os dois formam um casal apaixonado como tantos outros, a coisa complica quando o leva ao hospital. A partir dali, além de lidar com a morte do parceiro, Marina precisa passar por uma série de procedimentos que parecem comuns, mas que sempre resultam em momentos humilhantes e constrangedores. Entre ter que relembrar os últimos momentos do namorado, Marina ainda precisa passar por um exame de corpo de delito e encontrar com a família do falecido que não via com bons olhos o relacionamento dos dois - a única exceção é por parte do irmão dele, Gabo (Luis Gneco) que demonstra ser compreensivo, mas bastante passivo diante da atitude dos demais. Marina escuta todo tipo de insultos, xingamentos, ofensas e até sofre agressões físicas e psicológicas durante o filme, deixando claro que as pessoas a percebem com uma espécie de coisa rotulada e incapaz de ter sentimentos sobre a perda que acabou de sofrer. Uma Mulher Fantástica soa como uma espécie de manifesto sobre a incapacidade de parte dos seres humanos perceberem o diferente como um semelhante, com dores, amores, tristezas, alegrias e merecedor de respeito. Poderia ser apenas isso, não fosse um exercício do diretor em apresentar Marina como uma personagem única e é justamente por ser uma transgênero que sua identidade se constrói. Dependendo do ângulo, de um gesto, de um sorriso estamos diante mesmo de uma mulher completa, mas ao mesmo tempo, o mundo gosta de lhe infligir momentos para lembrá-la que ela não é uma mulher qualquer - e as provocações mexem com o imaginário do espectador que cria especulações sobre o próprio corpo da personagem.´Não por acaso, em determinado momento alguém diz que ela é uma quimera - que em sua essência é um ser mítico, imaginário. Curioso notar que a frase revela mais sobre quem a diz do que sobre a protagonista, já que reflete a incapacidade da antagonista perceber em Marina uma pessoa de carne e osso, a limitando a um reflexo do que o imaginário é capaz de conceber.  Sebastián Lelio já havia feito um trabalho notável com uma personagem feminina em Glória (2013) e aqui faz o mesmo com a ajuda da atriz Daniela Vega em seu segundo papel no cinema. Daniela não apenas é atriz como também é cantora lírica (e no filme ela também mostra o que é capaz de fazer com sua voz) e tem uma atuação contida, internalizada que faz com que a plateia projete as emoções nela sem pensar duas vezes. Uma Mulher Fantástica pode até não levar o Oscar, mas já é um marco ao ser reconhecido pela Academia de Hollywood como um registro de como a sociedade ainda tem muito o que aprender sobre lidar com as diferenças. 

Uma Mulher Fantástica (Una Mujer Fantástica / Chile-Alemanha-Espanha-EUA / 2017) de Sebastián Lelio com Daniela Vega, Francisco Reyes, Luis Gneco e Nicolás Saavedra. ☻☻☻☻

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Na Tela: Viva - A Vida é Uma Festa

Miguel e sua família de cadáveres: feliz dia dos mortos. 

Viva - A Vida é uma Festa é o filme favorito para levar o Oscar de melhor animação deste ano e ao assisti-lo fica fácil entender o motivo. Além de ter uma direção de arte arrebatadora e um bom ritmo narrativo, ele ainda conta com um roteiro bem amarrado de grande apelo emocional e personagens cativantes. Quando ouvi falar sobre o filme, logo lembrei de Festa no Céu (2014), mas o filme aborda o tradicional Dia dos Mortos mexicano de um ponto de vista diferente, sendo irresistível apreciar esta festa cultural que sempre parece ser um tanto mórbida para quem observa de fora. Aqui é ressaltado dois pilares importantes desta festa: a família e a importância da lembrança. A trama gira em torno do menino Miguel, que sonha dedicar a vida à música, mas sua família é completamente contra e, por conta de uma competição no dia dos mortos ele chega a dizer que não se importa com a comemoração. O grande ídolo de Miguel é o cantor Ernesto de la Cruz  e, por conta de algumas pistas, ele acredita que o astro é seu bisavô do qual a família quase não fala. Ele acaba cometendo uma violação das regras da tradicional festa e fica entre o mundo dos mortos e dos vivos, sendo que a única chance de voltar para perto de sua família é recebendo a benção de um membro falecido de sua família. A tarefa parece fácil, já que vários de seus ancestrais o reconhecem e zelam por ele, pelo menos até perceberem que ele pretende ser músico. Diante do impasse, resta apenas ele procurar de la Cruz e tentar retomar sua vida normal. No caminho ele encontra com Frida Kahlo, guias espirituais e Hector, um personagem que está prestes a ser esquecido pela filha (e com isso, desaparecerá para sempre). Claro que no meio do caminho ele irá descobrir o motivo de sua família rejeitar tanto a ideia de ter um músico na família e... melhor você ver o filme. O nome Viva - A Vida é uma Festa não tem muita relação com a história, mas faz uma alusão ao colorido irresistível do filme que tem ótimos números musicais (que emocionam de verdade). Entre surpresas e cenas de aventura bem realizadas, o filme prende a atenção do espectador e ainda traz doses consideráveis de encantamento para uma festa que é bem diferente do nosso mórbido dia de finados.

Viva - A Vida é uma Festa (Coco/EUA-2017) de Lee Unkrich e Adrian Molina, com vozes de Anthony Gonzalez, Gael García Bernal, Benjamin Bratt, Alanna Ubach, Jaime Camilm e Gabriel Iglesias.  ☻☻☻☻

PL►Y: Divórcio

Camila e Murilo: guerra de casal em Ribeirão Preto. 

Se você olhara para o nome de quem assina a comédia Divórcio você provavelmente não ficará empolgado. O diretor Pedro Amorim é o responsável pelos horríveis Mato Sem Cachorro (2013) e Superpai (2014), mas aqui, com a colaboração do roteirista Paulo Cursino, ele consegue finalmente fazer um filme engraçado e, o melhor, que foge da cartilha manjadas das atuais comédias nacionais. Visualmente, o filme é totalmente concebido para o cinema. O uso dos ângulos, enquadramentos e movimentos de câmera são bem cuidados e conferem uma boa versatilidade à narrativa. Colabora muito também o elenco escolhido para o filme, especialmente a atriz Camila Morgado que está ótima na pele de Noeli, filha de um fazendeiro de Ribeirão Preto que abandona seu noivo arranjado no altar para se casar com o carioca Júlio (Murilo Benício). Quando o filme começa os dois se entendem que é uma beleza e enriquecem quando constroem uma empresa de massa de tomate que fica célebre com a receita secreta dela. Se Júlio comanda a empresa para sempre gerar mais lucros, o fato de terem duas filhas deixa a esposa cada vez mais em casa para cuidar das meninas e, tem como maior diversão, comprar sapatos. No entanto, a relação entre os dois não é mais a mesma. Cresce um abismo entre o casal e incomoda cada vez mais ela. Depois de uma situação lamentável ao voltarem de uma festa, Noeli pede o divórcio e... começa uma guerra entre o casal. O roteiro começa a explorar alguns clichês do gênero, mas ganha pontos ao brincar com as questões legais de uma separação, investe no resgate de uma habilidade antiga da protagonista e não perde a chance de brincar com a imagem que muitas pessoas tem dos moradores do interior de São Paulo. Do sotaque dos personagens, passando por uma onça,  músicas neo-sertanejas e seus ídolos (Noeli até reencontra um antigo pretendente, o Catanduva - vivido com gosto por Gustavo Vaz), o roteiro sabe como misturar estes ingredientes com muita desenvoltura, além de pintar um painel bastante ácido das mágoas de um casal. Com ótimo elenco e ritmo bastante eficiente, Divórcio é uma das comédias mais divertidas feitas recentemente no Brasil.  

Divórcio (Brasil/2017) de Pedro Amorim com Camila Morgado, Murilo Benício, Gustavo Vaz, Robson Nunes, Antônio Petrin, Paulinho Serra e Sabrina Sato. ☻☻☻

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

INDICADOS AO OSCAR 2018: Melhor Atriz

Frances McDormand (Três Anúncios para Um Crime) Favorita na categoria deste ano, a esposa do cineasta Joel Coen, já tem um Oscar na estante por sua inesquecível atuação em Fargo/1996 e outras três indicações ao prêmio de atriz coadjuvante. Frances é conhecida por temperar seus personagens com dureza e humor, o que faz toda a diferença na pele da sofrida Mildred que tem sede de justiça em busca do assassino de sua filha. Pela interpretação vigorosa ela já recebeu o Globo de Ouro de Atriz dramática, o SAG e o Critic's Choice Awards de melhor atriz. Considerada imbatível, Frances é tão generosa que já disse que de vez em quando lembram dela nas premiações, mas que ela considera melhor incentivar as mais jovens. Não é um amor?

Sally Hawkins (A Forma da Água) Dar conta de expressar as emoções sem dizer uma palavra em cena é um desafio e tanto! Ainda mais quando se é uma mulher apaixonada por um monstro marinho! No papel da muda Elisa, Sally realmente impressiona, não apenas pelo seu carisma em cena, mas pela forma como injeta erotismo em uma romance de fantasia. Esta é a segunda indicação desta atriz inglesa ao Oscar (a primeira foi de atriz coadjuvante pelo seu papel em Blue Jasmine/2013). Sally não é a favorita, mas acredito que a Academia lembrará dela em outras oportunidades, especialmente quando lembrar desta bela atuação no currículo. 

Saoirse Ronan (Lady Bird) Aos 23 anos, Saoirse já tem fama de veterana. Esta é sua terceira indicação ao Oscar, a primeira foi na categoria de atriz coadjuvante aos treze anos - quando ela atrapalhava o romance de Desejo e Reparação  (2007). Depois ela cresceu e apareceu como a protagonista inspiradora de Brooklyn (2015) que lhe rendeu sua primeira indicação ao prêmio de melhor atriz. Agora ela volta ao páreo na pele de uma adolescente que ainda está em busca de si mesma - e não para de discutir com a mãe. Por Lady Bird, Saoirse já recebeu o Globo de Ouro de atriz de comédia e é uma das mais cotadas se a Academia quiser surpreender nesta categoria. Outra forte concorrente é...

Margot Robbie (Eu, Tonya) Resolveu produzir um filme sobre uma personagem que a maioria das atrizes sairia correndo se a proposta chegasse até elas. Vivendo a ascensão e queda da patinadora Tonya Harding (acusada ter se envolvido num caso de agressão à uma concorrente no mundo da patinação artística em 1994). Margot está ótima e se confirma como uma atriz destemida. Além de passar meses treinando patinação no gelo, ela transita entre o drama e a comédia com uma desenvoltura impressionante (e levou para a casa o Critic's Choice Awards de melhor atriz de comédia). Esta é a primeira indicação da atriz australiana ao Oscar, mas bem que já poderia ter concorrido como coadjuvante por O Lobo de Wall Street/2013, filme que a revelou para o mundo. 

Meryl Streep (The Post - A Guerra Secreta) É indiscutível que Meryl é uma grande atriz, uma das melhores do mundo, tanto que conquistou sua vigésima primeira indicação ao Oscar por seu papel de dona do jornal Washington Post. Embora esteja bem em cena, não chega a ser uma das atuações mais marcantes da atriz, o que a deixa na desconfortável posição de azarão da noite. Meryl nem deve ligar para isso, já que ela faz parte do seleto grupo de intérpretes com três estatuetas na estante. Ela ganhou a primeira como coadjuvante por Kramer vs. Kramer/1979, depois veio a de melhor atriz por A Escolha de Sofia/1983 e por A Dama de Ferro/2011. 

A ESQUECIDA: Jessica Chastain (A Grande Jogada) Desde que souberam que Jessica estaria no filme de estreia na direção do roteirista Aaron Sorkin, ela foi colocada na posição de uma das favoritas a conseguir um lugar entre as indicadas. Considerando que ela foi lembrada no Globo de Ouro de atriz dramática, a ruiva realmente chegou perto. Ela vive a controversa Molly Brown, uma esquiadora olímpica que se tornou a diretora de uma das mesas de poker mais exclusivas do mundo - até se tornar alvo do FBI. Se fosse lembrada, seria a terceira indicação de Jessica ao prêmio. Ela já concorreu como coadjuvante em Histórias Cruzadas (2011) e melhor atriz por A Hora Mais Escura (2012). 

Na Tela: Três Anúncios Para um Crime

Frances: entre a justiça e a vingança. 

A filha adolescente de Mildred foi estuprada, queimada e morta há meses e a polícia não faz ideia de quem possa ter cometido o crime. Tudo aconteceu na aparentemente tranquila cidade de Ebbing no estado de Missouri nos Estados Unidos. Insatisfeita com a situação, considerando que existe um descaso com a tragédia que atravessou sua vida, Mildred resolve utilizar três outdoors em uma estrada da cidade indagando sobre os rumos da investigação que não aponta responsáveis. Fosse lançado há algum tempo atrás, Três Anúncios Para um Crime seria um corpo estranho entre os indicados ao Oscar, mas hoje ele ocupa o posto de favorito entre os nove indicados na categoria de Melhor Filme - e tem chance de levar alguns dos sete prêmios a que concorre, especialmente o de melhor atriz para Frances McDormand, que entrega outra atuação memorável na pele da endurecida Mildred. Quem conhece o trabalho de Frances já está acostumado em vê-la dar um toque especial em seus personagens, tanto que já tem um Oscar na estante pela policial de Fargo (1996). Aqui ela vive uma mulher cansada de silenciar a raiva e indignação diante do descaso das autoridades, o problema é que quando ela libera todo o ódio que estava cansada de segurar, acarreta um emaranhado de situações que revelam o que a pacata Ebbing preferia manter escondido. É neste momento que o filme opta por sempre seguir um caminho diferente ao abordar seus personagens, seja a própria Mildred, o delegado Willoughby (Woody Harrelson, indicado ao prêmio de coadjuvante) que demonstra sensibilizado, mas impotente diante do caso ou o policial Dixon (Sam Rockwell, favorito à estatueta de coadjuvante deste ano após levar para casa praticamente todas as premiações do ano), um grosseiro, racista, homofóbico e que abusa de autoridade sempre que possível. No entanto, além de aparecer em seu relacionamento com a mãe - apresentada como uma bela professora para o filho ser tudo o que é - Dixon recebe o arco mais transformador do filme. Escrito e dirigido pelo inglês Martin McDonagh (que já foi indicado ao Oscar por Na Mira do Chefe/2008 e já tem um Oscar na estante pelo curta Six Shooter/2004) ele conjuga aqui os dois pilares de seu estilo (a violência e o humor negro) mas os costura com uma linha mais emocional sem medo de expandir a história para vários personagens - seja o filho (Lucas Hedges) de Mildred que se incomoda com as ações da mãe, o jovem administrador dos outdoors (Caleb Laundry Jones) ou a esposa do delegado (Abbie Cornish).  Mais contido em seu humor, McDonagh conta uma história que libera a raiva aos poucos, acarretando sempre consequências destruidoras que não atingem o foco e por isso mesmo, gera a ânsia por uma catarse que nunca chega. Enquanto vira a cidade do avesso, Três Anúncios para Um Crime nos faz pensar até que ponto a vingança não se confunde com justiça, quanto a ineficiência do sistema pode gerar mais violência e o quanto o mundo se parece cada vez mais  com aquela cidadezinha com suas intolerâncias e incompreensões. Talvez por isso a última cena nos deixe com um nó na garganta imaginando onde aquilo tudo irá parar... ou se vai parar. Não foi por acaso que Três Anúncios para Um Crime se configurou como o favorito da temporada, torna-se impossível não torcer pela justiça que Mildred tanto espera, mas aos poucos começamos a repensar suas atitudes e perceber que se perder no caminho é mais fácil do que se imagina.  

Três Anúncios Para um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri/EUA-2017) de Martin McDonagh com Frances McDormand, Sam Rockwell, Woody Harrelson, Lucas Hedges, Peter Dinklage, Caleb Laundry Jones e Abbie Cornish. ☻☻☻☻

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

FILMED+: Eu, Tonya

Margot: o benefício da dúvida. 

Tonya Harding foi a primeira mulher americana (a segunda do mundo) a conseguir fazer um Triplo Axel numa competição de patinação artística num verdadeiro desafio às leis da Física. Ganhando campeonatos e participando de jogos olímpicos, Tonya se tornou umas das melhores patinadoras da história. Embora estivesse longe de ter a graça e a leveza de suas concorrentes, sobre o gelo, ela vivia momentos de glória... até que se envolveu num escândalo em 1994. Tonya foi acusada de conspirar contra outra patinadora, Nancy Kerrigan, que teve seu joelho quebrado por um agressor durante os treinos em Detroit. A confusão custou todo o brilho e carreira de Tonya que foi afastada para sempre das competições. Quem lembra da história, irá lembrar que Harding foi pintada como uma das pessoas mais torpes e traiçoeiras da face da Terra e ninguém deu bola para sua versão da história. Eis que no ano passado, a australiana Margot Robbie se deparou com Eu, Tonya e viu todas as possibilidades que a história possuía e resolveu produzi-lo.  Tão logo apareceu nos festivais, o filme borrou a percepção que tínhamos sobre a verdade dos fatos. Dirigido pelo australiano Craig Gillespie, o filme dramatiza as situações e apresenta uma narrativa enviesada por depoimentos de personagens reais para a câmera, como se fosse um documentário. Não por acaso, no início é explicado que o longa é baseado em alguns dos depoimentos mais "contraditórios e inacreditáveis" em torno de uma investigação. Sorte que ele não gira em torno da rivalidade entre as patinadoras, mas prefere apresentar a protagonista desde a sua infância - desde cedo treinando pesado para se tornar uma campeã sob a pressão da mãe carrasca, LaVona Golden (uma espetacular Allison Janney, favorita ao Oscar de coadjuvante). Desde o início a relação da patinadora com a mãe é complicada, mas piora consideravelmente quando ela cresce - e passa a ser interpretada por Robbie. Depois de apanhar e ser ofendida pela mãe, Tonya se casa com um homem para também apanhar e ser ofendida. Jeff Gilooly (Sebastian Stan) é o tipo de pessoa capaz de te levar para o fundo do poço e, ainda que o filme carregue no humor negro, a agressividade entre os dois chegava aos extremos. A plateia ri nervosa da história e, ainda que não acredite na inocência de Tonya, consegue visualizar um cenário bastante hostil em torno dela, o que lhe concede o benefício da dúvida. Contribui muito para isso a luminosa interpretação de Margot, que não erra o tom em momento algum (mesmo quando o filme se enrola no emaranhado de situações que procura abrigar). Robbie está mais do que convincente em cena e merece todos os elogios que recebeu por um papel complicado (e está indicada ao Oscar de atriz deste ano). Ela ri, chora, fala com o espectador como se estivesse confessando seus pecados e aparece estupenda nas cenas de patinação (a primeira ao som de ZZ Top é um verdadeiro achado), mesmo sendo hostilizada pelos jurados que não conseguiam ver naquela garota a imagem que queria para uma campeã americana. Eu, Tonya é um filme ousado em sua proposta e consegue ser tão divertido quanto denso. Esse equilíbrio complicado também se deve às mãos de Gillespie, um diretor que adora personagens controversos, mas que consegue olhar com carinho para todos eles (basta lembrar de Ryan Gosling apaixonado por uma boneca em A Garota Ideal/2007). Com um roteiro insano, edição engenhosa (indicada ao Oscar) e um elenco exemplar, Eu, Tonya é realmente surpreendente. 

Eu, Tonya (I, Tonya/EUA-2017) de Craig Gillespie com Margot Robbie, Allison Janney, Sebastian Stan, Julianne Nicholson, Paul Walter Hauser, McKenna Grace e Bob Cannavale. ☻☻☻

Na Tela: O Touro Ferdinando

Ferdinando: touro adorável. 

Desde que comecei a ouvir falar do filme O Touro Ferdinando a história não me parecia desconhecida. Eu imaginei que era uma espécie de versão do bicho para a história de Arenas Sangrentas (1956), clássico com roteiro de Dalton Trumbo disfarçado de Robert Rich (no período de caça-às-bruxas de Hollywood). Não chega a tanto. Bastou uma pesquisa na internet para encontrar um curta com o mesmo nome que assisti na televisão quando era pequeno. O fato é que nada disso interessa quando se assiste ao longa assinado pelo brasileiro Carlos Saldanha que concorre ao Oscar de Melhor Animação. Baseado no livro de Munro Leaf, não é surpresa alguma dizer que é candidato mais infantil ao prêmio da Academia. Feito especialmente para a criançada, os adultos podem até se divertir com a história, mas é para os menores que a obra será considerada mais interessante. No entanto, isto não impede que o filme toque num assunto sério e, assim como o recente Okja (2017) nos faça repensar na relação de temos com os animais, seja para alimentação ou "entretenimento". Ambientado na Espanha, Ferdinando é um touro que se despediu do seu pai ainda pequeno e nunca mais o viu. Por conta de algumas confusões ele acaba sendo encontrado e criado com todo amor e carinho por uma garotinha. Mas Ferdinando cresce e eis que um dia ele resolve ir à um festival de sua maior paixão (as flores) e, por conta de um acidente, ele acaba sendo considerado perigoso e transportado para muito longe, onde poderá se tornar o escolhido para uma tourada - o que ele descobre ser algo fatal. Pode se dizer que o protagonista é pacifista desde menino e ele se vê num dilema quando percebe que se não for bom para a arena, ele será enviado para o abate. Resta-lhe planejar a fuga. Bem cuidado visualmente, Saldanha faz um filme agitado, com muito movimento, gritaria, piadinhas, competição de dança e com isto prende atenção de uma geração que tem verdadeiro fascínio pela aceleração. Confesso que em determinados momentos eu achei a narrativa um pouco cansativa em sua histeria, mas nada que comprometa o resultado final, especialmente pelo lado sério que a história traz para a tela de cinema. É impossível não gostar de Ferdinando e alguns dos seus amigos, por isso mesmo é realmente doloroso ver um personagem tão adorável tendo uma espada apontada para a cabeça e imaginar que aquilo realmente acontece há tempos e já se tornou uma tradição cultural voltada para divertir plateias. Entre piadas e risadas, o filme pode até parecer inofensivo, mas deixa a reflexão para a plateia quando as luzes acendem. 

O Touro Ferdinando (Ferdinand/EUA-2017) de Carlos Saldanha com vozes de John Cena, Gina Rodriguez, Jeremy Sisto e Peyton Manning.
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terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

PL►Y: Kong - A Ilha da Caveira

Kong: pobre, macaco!

Embora tenha apenas oito filmes no currículo, King Kong é um dos maiores personagens de Hollywood (e não me refiro somente à sua altura). O primeiro filme protagonizado pelo macaco gigante foi lançado em 1933 e desde então ele viveu outras aventuras. Em 1976 ele deve ter recebido sua versão mais famosa pelas mãos do produtor Dino De Laurentis (na versão estrelada por Jeff Bridges e Jessica Lange). O filme fez tanto sucesso que ressuscitaram o bichão em King Kong Lives (1986), mas nem precisava. Em 2005 Peter Jackson refilmou a versão clássica do personagem tendo Naomi Watts como a nova musa da criatura e... poderia ter parado por aí, mas Hollywood é implacável quando precisa fazer dinheiro sem muito esforço. Na versão de Jackson já havia indícios de que a famigerada Ilha da Caveira, habitat natural de Kong, poderia ser mais explorada pelo cinema e... Kong - A Ilha da Caveira chegou aos cinemas no ano passado. Indicado ao Oscar de Efeitos Visuais, o filme não tem nada demais e sua tentativa de criar uma nova história para o célebre personagem padece de uma preguiça impressionante. O roteiro nem gasta muito tempo criando uma história, sabe-se apenas que em plena Segunda Guerra Mundial dois pilotos se perdem no meio daquele lugar no Oceano Pacífico. Vinte e nove anos depois uma expedição é enviada para explorar a ilha recém descoberta. Para ajudar foi convocado o ex-capitão britânico James Conrad (Tom Hiddleston), o tenente-coronel Preston-Packard (Samuel L. Jackson), a fotojornalista Mason Weaver (Brie Larson) e outros personagens vividos por John Goodman, Tobby Kebbel e Thomas Mann para se depararem com o macaco gigante no meio da floresta (vivido por Terry Notary que está em cartaz atualmente com The Square/2017). Por conta de Kong o grupo acaba se dividindo, encontrando o soldado perdido há décadas (agora vivido por John C. Reilly) e um bando de criaturas estranhas que são combatidas por Kong - que continua sendo cultuado feito um deus pelos nativos da região. Sabe-se lá o motivo para que convidassem o diretor Jordan Vogt-Roberts (de Os Reis do Verão/2013) para tirar do papel este reboot de King Kong com o tom mais trivial de aventura. Sem novidades, o filme gira em torno do próprio rabo até que chega o desejado final. Apesar do bom elenco (que são bem melhores do que os papéis que receberam, mas estão ali justamente para segurarem nossa atenção perante a história insossa - mesmo assim eu cochilo várias vezes ao tentar ver o filme), o que vale são os efeitos especiais. Pobre, Kong! Deixem o bicho em paz. 

O elenco: artistas talentosos pagando mico.

Kong - A Ilha da Caveira (Kong - Skull Island/EUA - 2017) de Jordan Vogt-Roberts com Tom Hiddleston, Brie Larson, John Goodman, John C. Reilly, Tobby Kebbell e Thomas Mann.