Charlotte: retrato de uma mulher despedaçada.
Quando começou a carreira como modelo aos 17 anos, a britânica Charlotte Rampling não demorou muito para chamar atenção dos produtores de cinema. Como atriz, sua carreira começou em A Bossa da Conquista (1964) que recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Desde então ela filmou em vários países, tendo como marca registrada seus olhos gélidos que impressionou o mundo em filmes como Os Malditos (1969) e o clássico O Porteiro da Noite (1964). O tempo passou e Charlotte sempre fez questão de aceitar a passagem dele, não utilizando intervenções estéticas para manter a aparência jovial. Ela abraçou o envelhecimento, a maturidade e a experiência que a tornaram uma das melhores atrizes do cinema mundial. Ao todo são mais de cem filmes no currículo, vinte e sete prêmios e uma indicação ao Oscar pelo seu excepcional trabalho em 45 Anos (2015). Com estilo cada vez mais introspectivo, Charlotte se tornou uma estrela cult que sempre chama atenção para as produções que protagoniza, como é o caso deste Hannah - pelo qual recebeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza do ano passado. Este é o segundo filme do italiano Andrea Pallaoro e ele não tem pudores em deixa-la carregar o filme nas costas. Hannah (Rampling) é uma senhora que acaba de deixar o marido (André Wilms) na prisão após anos de convivência conjugal. Ela tenta preencher a solidão fazendo aulas de teatro e com serviços domésticos durante o dia. Ao chegar em casa sua única companhia é um cão que está sempre esperando o dono voltar - e até se recusa se alimentar. Diante do vazio que se instaura, Hannah tenta reencontrar o filho, se apega a um menino cego que está sempre por perto e investe nas aulas de atuação, mas sempre existe algo que a incomoda. Pallaoro investe em cenas lentas, muito silêncio e cenas que dependem muito da atuação precisa de Charlotte para demonstrar que existe algo sufocante sobre a história daquela mulher. A catarse da personagem nunca chega, sempre é camuflada e silenciada (mesmo quando ela chora em um banheiro público após um aniversário de rasgar o coração) ou deixada para um momento que nunca chega - e a atriz torna a tristeza da personagem palpável de tão comovente. Não fica claro o motivo do esposo ser preso ou o rancor que gira em torno do casal, mas existem momentos pontuais em que a plateia suspeita do que pode ter acontecido. Hannah é um filme difícil de assistir, visualmente ele não possui nenhuma novidade e narrativamente ele pode até ser cansativo para o grande público, mas vale a pena por conta de sua estrela, mais uma vez impecável da primeira até a última cena.
Hannah (Itália/França/Bélgica - 2017) de Andrea Pallaoro com Charlotte Rampling, André Wilms, Simon Bisschop, Faltou Traoré e Gaspard Savini. ☻☻☻
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