quinta-feira, 4 de outubro de 2018

PL►Y: Noite de Lobos

Jeffrey e Riley: mistério no Alasca. 

Jeremy Saulnier é um dos diretores mais interessantes que apareceram no cinema indie recentemente. Embora muitos não tenham se importado muito com a estreia com o terror descarado de Murder Party (2007), era impossível ficar indiferente com o resultado de Blue Ruin (2013), um dos filmes mais impressionantes desta década. A mistura de melancolia, vingança e violência o colocaram no radar da crítica, ao ponto de verem condições de seu filme seguinte, Sala Verde (2015) ter condições para concorrer ao Oscar (não era para tanto com a violência chocante sobre uma banda punk que cai em uma grande armadilha). A capacidade do diretor produzir uma atmosfera tensa e não fazer concessões ao público (não existem romances, alívios cômicos ou desvios narrativos - é pancada atrás de pancada até o final). Depois de dar o tom da nova temporada de True Detective da HBO (um resgate, na verdade - já que o cineasta assina os dois primeiros episódios da temporada 2019), o diretor lançou Noite de Lobos, seu quarto longa-metragem. A história é baseada no livro de William Giraldi (e tem roteiro de Macon Blair, o ator assinatura do diretor, que aqui faz uma pequena participação), o resultado é uma trama bastante enigmática. Ambientado no gélido Alasca o filme acompanha um escritor especialista em lobos (Jeffrey Wright), que é convidado por uma jovem mãe a encontrar os lobos responsáveis por devorarem seu filho. Ela se chama Medora Slone (Riley Keough) e amarga a perda ao fato do esposo estar em combate no Afeganistão. Desde o início o escrito percebe que existe algo de estranho naquela casa localizada num vilarejo perto de um bosque... e a coisa só complica. Nesta primeira parte a atmosfera deixa claro que nada é o que parece - e o filme assume um grande risco quando muda o tom em seu segundo ato. Da metade em diante o protagonismo fica por conta do esposo de Medora, Vernon (Alexander Skarsgaard) e do policial encarregado do caso (James Badge Dale). Se antes havia a tensão e o estranhamento a partir de silêncios, melancolia e esquisitices, na segunda parte, os elementos narrativos favoritos de Saulnier tomam conta da história. Vingança e violência dão as mãos mais uma vez, mas ganham um verniz quase folclórico diante do que vemos em cena. Existe a sensação de que tudo se passa em um lugar de regras próprias e, mesmo ao chegar no desfecho, temos a impressão de que não conseguimos compreender todas as camadas do que aconteceu, incluindo as analogias sobre a natureza humana e a dos lobos, especialmente sobre o casal protagonista em seu aspecto mais amplo. Saulnier ousa ao deixar muitas lacunas para a imaginação do próprio espectador preencher, mas conduz seu filme com uma cadência envolvente. Em cartaz na Netflix, o resultado pode não agradar a todos, mas deixará muita gente pensando no que viu por vários dias.

Noite de Lobos (Hold The Dark /  EUA- 2018) de Jeremy Saulnier com Jeffrey Wright, Riley Keough, Alexander Skarsgaard, James Badge Dale e Julian Black Antelope. ☻☻☻☻

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