quarta-feira, 3 de junho de 2020

Ciclo Palma de Ouro: Pelle, o Conquistador (1988)

Pelle e Max: atuações para emocionar o mundo. 

Pelle, O Conquistador é um caso interessante no Festival de Cannes. O filme foi lançado na Dinamarca e na Suécia na semana do natal e já com algum sucesso, foi selecionado para o Festival que lhe garantiu projeção mundial - tanto que em 1989 o filme foi indicado ao Globo de Ouro e ao Oscar de filme estrangeiro e levou os dois. Se tornou aquele tipo de filme em que se ouve falar por muito tempo, que leva o público às lágrimas e tem fãs fieis. É também aquele tipo de produção que quase não se faz mais, belo visualmente, intenso dramaticamente, longo em sua duração e  cheio de ambição, ou seja, o estilo que por muito tempo era chamado de "filme para ganhar um Oscar" - ou  um marco na estética que o diretor dinamarquês Bille August segue até hoje. Pelle é o quinto filme do diretor para o cinema e tem como base o livro de Martin Andersen Nexø (1869-1954) que conta parte da história da imigração de suecos para a Dinamarca, que percebiam a vizinha como uma terra próspera e ideal para recomeçar a vida. Desde o início a rotina destes imigrantes não é fácil, nas gélidas terras do norte europeu não é fácil atravessar o mar em barcos precários sobre o risco de afogamento e congelamento (e isso o filme mostra várias vezes). A ideia de ter uma vida melhor aparece logo nos primeiros diálogos entre o menino Pelle (Pelle Hvenegaard) e seu pai, Lassefar (o excelente Max Von Sydow), mas assim que chegam a situação mostra-se bem diferente. O pai é considerado velho demais para o trabalho e o menino de doze anos é considerado jovem demais. Eles acabam contratados por um capataz que irá utilizar os dois em uma fazenda afastada e exploratória. O que era para ser um sonho se torna uma rotina de muito trabalho marcado pela brutalidade das relações daquele local. O cotidiano de Pelle é marcado por agressões físicas e verbais, seja de adultos ou crianças, mas a atenção do pai serve para atenuar a crueza daquela realidade. Ainda que a história seja bastante dura com os personagens, o diretor mantem o tom esperançoso e a presença de uma bela fotografia que parece criar verdadeiras pinturas. A trama não gira somente em torno de Pelle, o filme é composto de muitos acontecimentos envolvendo outros personagens, tem o amigo que planeja ir para a América, um rapaz que vive um romance proibido, o fazendeiro infiel, o bastardo com problemas mentais, tudo isso cria material para o filme se estender por mais de duas horas. Feito para emocionar, o filme conquistou plateias do mundo inteiro, especialmente pela desenvoltura do protagonista mirim (que tem cenas complicadas por aqui) e do talento veterano de Max Von Sydow, que conseguiu sua primeira indicação ao Oscar por este trabalho (concorreu como ator coadjuvante e a outra viria somente em 2012 com Tão Forte, Tão Perto, curiosamente, outro filme em que atua ao lado de uma criança). Curiosamente, sempre que ouvia falar deste filme (eu tinha dez anos quando foi lançado) eu imaginava que sobre um homem mulherengo (eu sei, eu sei, desculpem minha ignorância), mas descobrir que a história é outra foi uma grata surpresa. Em 1988 outros vinte filmes concorreram à Palma de Ouro em Cannes, entre eles estava Bird (de Clint Eastwood), Gritos de Revolta (o primeiro filme do ator Gary Sinise como diretor) e Afogando em Números (de Peter Greenway), mas o apelo de Pelle foi considerado irresistível. Bille August é sempre presente no Festival e com seu filme seguinte, As Melhores Intenções (1992), o cineasta levou outra Palma de Ouro para casa. 

Pelle, O Conquistador (Pelle erobreren / Dinamarca - Suécia / 1987) de Bille August com Pelle Hvenegaard, Max Von Sydow, Erik Paaske, Astrid Villaume e Lars Simonsen. ☻☻☻☻

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