sexta-feira, 12 de junho de 2020

PL►Y: A Pé Ele Não Vai Longe

Joaquin e Jonah: temas pesados em leve abordagem. 

Gus Van Sant é um dos nomes mais importantes do cinema indie americano, ironicamente, com as indicações e prêmios que seus filmes Gênio Indomável (1997) e Milk (2008) receberam, seus projetos costumam ser aguardados com a expectativa de repetirem o mesmo feito. Não acho que Gus se preocupe muito com isso, tanto que seus últimos projetos foram bastante despretensiosos e passaram em branco nas premiações - e ele segue fazendo a mesma linha com a cobrança desconfortável que possa existir. A Pé ele Não Vai Longe já chama a atenção por contar com Joaquin Phoenix, Rooney Mara e Jonah Hill, o elenco escolado ajuda a contar a história de um personagem real numa narrativa fragmentada  que pode soar como filme de auto-ajuda para muita gente, mas o filme é mais do que isso. O protagonista, John Callahan (Joaquin), sempre foi um tanto inconsequente e não sabia muito bem o que fazer da vida até que um acidente mudasse sua rotina. Van Sant não conta a história de forma linear, mistura o passado do personagem com o presente, cenas da terapia de grupo, de uma palestra motivacional, de sua dolorosa recuperação e uma espécie de redenção através de quadrinhos polêmicos que despertam desconforto em muita tente. Depois que ficou dependente de uma cadeira de rodas para se locomover, Callahan viu nos quadrinhos a chance de expressar suas inquietações. Sarcástico e debochado, através deste trabalho ele consegue encontrar sua voz e demonstrar um olhar astuto conjugado à um senso de ironia que até então ele mesmo desconhecia. A obra de Callahan aparece costurada em vários momentos do filme (incluindo o título que ao abordar a rotina de um personagem com dificuldades para se locomover soa até ofensivo). Não precisa dizer que Joaquin Phoenix está muito bem, para além do trabalho físico, o ator dá conta do temperamento do personagem com uma facilidade impressionante - e torna mais fácil simpatizar com um personagem difícil. Misturando drama e comédia, o filme dá conta de emoções complicadas do biografado, como a ausência materna desde pequeno, os problemas com bebida, as dificuldades de sua nova realidade e as ofensas que ouviu por conta de suas obras. Rooney Mara que não tem muito o que fazer em cena além de ser o par romântico do protagonista, mesmo assim, ela está luminosa num papel bem mais leve do que costuma interpretar. Destaque mesmo fica por conta de Jonah Hill como o guru gay zen do protagonista, cabeludo, barbudo e com um tom de voz bastante particular, Hill tem aqui um ótimo trabalho que poderia ter lhe rendido uma terceira indicação ao Oscar de coadjuvante. A Pé Ele não Vai Longe é um filme que consegue ser leve apesar do histórico de vários personagens e ainda consegue ser habilidoso ao se esquivar do julgamento moral daquelas pessoas de carne e osso.

A Pé Ele Não Vai Longe (Don't Worry, He Won't Get Far on Foot / EUA -2018) de Gus Van Sant com Joaquin Phoenix, Rooney Mara, Jonah Hill, Jack Black, Kim Gordon e Udo Kier. ☻☻☻☻ 

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