terça-feira, 9 de junho de 2020

Ciclo Palma de Ouro: Apocalypse Now (1979)

Sheen: ataque cardíaco e filmagens conturbadas. 

Francis Ford Coppola demorou 238 dias para concluir as filmagens de Apocalypse Now com sua equipe nas Filipinas. Durante a tarefa, todo tipo de obstáculo surgiu: intervenção das forças armadas das Filipinas, contratempos com o clima local, problemas variados com o elenco (brigas com Dennis Hooper, discussões com Marlon Bando sem estudar o papel, demissão de Harvey Keitel... mas o pior foi o ataque cardíaco do ator principal, Martin Sheen, que retornou ao batente cinco semanas depois)... foram tantos empecilhos que um clima de pessimismo e insatisfação começou a contaminar a equipe. O que era para ser 16 semanas de filmagens se estenderam para 34 com orçamento estourado e inchando cada vez mais. A ideia de fazer um filme de guerra inspirado no clássico O Coração das Trevas de Joseph Conrad se tornou um verdadeiro "Apocalipse de um Cineasta" (nome de um documentário de 1991 que conta a saga desta empreitada estafante). Reza a lenda que diante de tantos percalços desta odisseia cinematográfica, o longa recebeu o apelido de "A Idiocéia" por Coppola não ter noção do que estava se metendo. Quando o filme foi exibido no Festival de Cannes de 1979 ainda estava incompleto, a estratégia era mais do que apresentar o filme, Coppola buscava comover os financiadores para um projeto que corria sério risco de não ter dinheiro para ser finalizado. Logo em seus primeiros minutos, Apocalypse Now já se revela uma obra prima e o filme levou a Palma de Ouro daquele ano com louvor. O impacto de suas cores, diálogos e sonoridade até hoje podem ser sentidos com a mesma intensidade. O longa não envelheceu e se consagra através do tempo como o melhor filme de guerra já realizado. O filme traz a história de Conrad para a Guerra do Vietnã (e sinceramente, prefiro esta releitura de Coppola do que o livro), na trama, o capitão Willard (Martin Sheen) é encarregado de encontrar e matar Coronel Kurtz (Marlon Brando), que se tornou um desertor e vive no meio da floresta como um líder excêntrico. Nesta jornada, Willard precisa lidar com os fantasmas pessoais (que já são mostrados desde a primeira cena antológica ao som de The End do Doors para logo depois se render à Cavalgada das Valquírias de Wagner em outro momento clássico do cinema). Os horrores da guerra são costurados com momentos surreais, cenas de puro pesadelo, choques culturais, uso de drogas, massacres, psicoses e reflexões filosóficas. A loucura em meio a explosões, tiroteios e gritos revela a guerra como até então nunca foi mostrada no cinema. O cenário de paraíso destruído serve de palco para uma selvageria desumana sem sentido, "o horror! O horror" que brota desde o cheiro de Napalm pela manhã. É visível o trabalho que o filme deu para sua equipe, mas dizem compor um retrato fiel do que foi a Guerra do Vietnã. Em Cannes a produção eclipsou seus vinte concorrentes (entre eles estava "Norma Rae" de Martin Ritt, "Síndrome da China" de James Bridges e "Cinzas do Paraíso" de Terrence Mallick). No Oscar recebeu apenas duas estatuetas (som e fotografia), perdendo as outras seis a que concorria (incluindo melho filme, direção, roteiro adaptado, edição, direção de arte e ator coadjuvante para Robert Duvall), mas foi o tempo que o transformou em clássico e um padrão de excelência ainda a ser superado no gênero.   

Apocalypse Now (EUA - 1979) de Francis Ford Coppola com Martin Sheen, Marlon Brando, Robert Duvall, Dennis Hopper, Scott Glenn, Albert Hall, Laurence Fishburne e Harrison Ford. 

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