segunda-feira, 30 de maio de 2011

CATÁLOGO: Entre Quatro Paredes


Wilkinson e Spassek: lar cheio de silêncio e fúria.

Todd Field era um ator que tinha como maior destaque o papel de pianista em De Olhos Bem Fechados (1999) ao lado de Tom Cruise. Eu sei que você não deve se lembrar do rosto dele, mas com certeza deve ter ouvido falar de seus méritos como diretor. Quando lançou Entre Quatro Paredes acho que ninguém esperava tanto sucesso com um drama intimista longo e repleto de silêncios. Claro que ninguém escala atores do porte de tom Wilkinson, Sissy Spacek e Marisa Tomei para deixar tudo passar em branco, mas Field era esperto o suficiente para saber que se tudo desse errado os atores estariam lá para segurar o filme. É exatamente este o maior mérito de Entre Quatro Paredes, seus atores. Field escolheu uma trama cheia de camadas e de alma explosiva, mas sem os atores que escolheu dificilmente o filme teria recebido as preciosas indicações aos prêmios que concorreu. Ainda ajudou muito nessa projeção do longa um acidente doloroso na história americana: os ataques de onze de setembro. O que uma coisa tem a ver com a outra? Eu explico. O filme de estreia de Field conta a história de uma família que busca superar a morte do filho, mas existe muito mais por debaixo disso, especialmente quando pensamos na força de sua trinca principal: o pai (Wilkinson, indicado ao Oscar de ator), a mãe (Spacek, ganhadora do Globo de Ouro e indicada ao Oscar de atriz) e a namorada viúva (Marisa, indicada ao Oscar de coadjuvante). A vítima é o jovem Frank (Nick Sathl, que por motivos desconhecidos nunca decola na carreira) que está cada vez mais apaixonado por Natalie, uma mulher mais experiente, divorciada e com filho para criar após um relacionamento complicado. Frank e Natalie fazem planos para o futuro e são incentivados pelo pai dele, enquanto a mãe não vê com bons olhos aquele relacionamento. A coisa só complica quando o ex de Natalie aparece e obriga a todos conviverem com sua presença agressiva e ameaçadora (cortesia de William Mapother, que vivia dando as caras em Lost), até que o inevitável a acontece e todas as expectativas morrem. É neste momento que o filme mergulha num silêncio, numa cadência arrastada que é propositalmente utilizada para exibir o vazio em que se tornou a vida daqueles personagens. O assassino é preso, mas enquanto o pai tenta seguir a vida naturalmente, a mãe torna-se cada vez mais calada e insatisfeita com os rumos que aquele romance gerou. Spassek torna palpável o silêncio de sua personagem como embalagem para a tensão e o ódio que abriga, nada é capaz de sanar a ausência do filho - e os ressentimentos pelo esposo e a ex-nora virão à tona quando descobrir que o assassino será libertado pelo bom comportamento. É neste momento que a fúria dos pais cresce e acontecimentos imprevisíveis guiam o filme até o final polêmico. Apesar dos maiores elogios terem ido para Spacek na época de lançamento, Wilkinson tem um papel fundamental para guiar nossas emoções até a última e desconcertante cena. O silêncio do quarto rumo ao amanhecer ilusta bem a sensação dos americanos quando viram o filme: um desejo de vingança pelas pessoas perdidas nas Torres Gêmeas. Pena que Field não era (ainda) um mestre na direção, capaz de gerar tensão a cada silêncio e palavra não dita e o que era para ser um crescente suspense melancólico pode se tornar um martírio para alguns. 

Entre Quatro Paredes (In The Bedroom/EUA-2001) de Todd Field com Sissy Spacek, Tom Wilkinson, Marisa Tomei, Nick Stahl e William Mapother. ☻☻    

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