sábado, 29 de novembro de 2025

PL►Y: Belén - Uma História de Injustiça

Julieta (Camila Plaate): direitos x moralismo. 

Nossos vizinhos argentinos escolheram Belén para tentar uma vaga ao Oscar de Melhor Filme Internacional no ano que vem, mas diante da concorrência acirrada, o filme tem poucas chances - mas a Amazon vai fazer forte campanha para cravar seu nome na disputada quinta vaga da categoria. Conta muito a favor do filme sua temática de cunho feminista e a atualidade de um tema central que é sempre polêmico: o aborto. No entanto, o filme gira em torno de um caso real que ilustrou de forma assustadora que a abordagem do tema pode ser permeada por uma espécie de cegueira moralista que impede que as pessoas observem fatos reais e não apenas suas convicções religiosas. O roteiro conta a história de Julieta (Camila Plaate), jovem que chegou com fortes dores em um hospital público e percebeu se tratar de um aborto espontâneo. Enquanto era atendida pelos médicos, ela foi surpreendida com a presença da polícia que a acusou de ter induzido o aborto e ter afogado o feto enquanto foi ao banheiro. Ninguém da família entendeu as acusações e negaram que o feto encontrado era de Julieta. No entanto, a jovem permaneceu presa por dois anos e o processo em torno de seu caso foi tratado com total descuido pelos envolvidos. O caso chama atenção de uma advogada (vivida pela diretora e roteirista Dolores Fonzi) que resolve reabrir o caso e provar que as acusações em torno da condenada eram infundados. Aos poucos vemos que toda a polêmica em torno do caso girava em torno de um moralismo que impedia que a as pessoas de fato estudassem a situação e percebessem as inconsistências dos registros no processo. A situação do feto mudava de relatório para relatório, não houve exame de DNA do corpo que foi encontrado e, sendo a principal prova do caso, o mesmo desapareceu. Ou seja, todo o estardalhaço em torno de Julieta se tornou maior do que a situação em si, a colocando como alvo de uma verdadeira cruzada pela moral disfarçada de cumprimento da lei. A situação chamou atenção de grupos que perceberam como tudo aquilo ilustrava uma situação insustentável - vale destacar que estamos falando de um caso verídico ocorrido em 2014! O filme é bastante didático ao ilustrar a opinião pública sobre  o caso e como ela dificultou os trabalhos para encontrar a verdade no meio de tudo aquilo. Todo absurdo da situação gerou um verdadeiro movimento social que se tornou um marco na luta pelos direitos reprodutivos no país. A diretora Dolores Fonzi, que apresenta aqui seu segundo longa metragem, faz um bom trabalho na condução do elenco e na fluência da narrativa, embora aborde um tema espinhoso, ela demonstra bastante ponderação na condução. Embora tenha poucas chances de cravar uma indicação ao Oscar, o filme merece atenção devido à sua temática. 

Belén: Uma História de Injustiça (Argentina / 2025) de Dolores Fonzi com Dolores Fonzi, Camila Plaate, Laura Paredes, Julieta Cardinalli, Sergio Prina e Luís Machín.  

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