![]() |
| Julia, Ayo e Andrew: camadas complicadas. |
Maggie (Ayo Edebiri) é uma estudante de doutorado da Universidade de Yale que tem como mentora a professora e Filosofia Alma Imhoff (Julia Roberts). Por serem bastante próximas, a doutoranda frequenta a casa e as festas na casa da docente. Em uma delas, embarca em uma discussão com Hank (Andrew Garfield) outro professor bastante popular do campus, naquela mesma noite, ele lhe dará carona e na manhã seguinte, Maggie conta à Alma que sofreu abuso sexual por parte de Hank e tomará as devidas providências contra ele. Alma fica visivelmente confusa com a acusação ao amigo e decepciona sua pupila ao não parecer acreditar no que houve. Acontece que a situação relatada por Maggie possui camadas que aos poucos serão sobrepostas à narrativa e, uma delas, envolve um segredo do passado da própria professora. Depois da Caçada é o novo filme dirigido por Luca Guadagnino, que já tornou o desejo em sua marca no cinema. Embora filme desde 1997, Hollywood se rendeu a ele com Me Chame Pelo Seu Nome (2017) o romance entre um adolescente e um homem mais velho, depois criou polêmica com um amor canibal em Até os Ossos (2022) e virou do avesso as expectativas de um triângulo amoroso em Rivais (2024). Agora ele poderia pontuar a questão do assédio e seus meandros no ambiente acadêmico, mas ele faz mais o que isso ao abarcar questões que gravitam em torno de questões sobre racismo, gênero e como isso se relaciona com os desejos dos personagens. Obviamente que existe uma tensão sexual entre Hank e Alma desde a primeira cena, assim como existe entre a mentora e sua pupila (e claramente o marido de Alma vivido por Michael Stuhlbarg percebe tudo isso como um espectador fascinado pelo desejo de todos que gravitam em torno de sua esposa). Só que Alma é uma personagem escorregadia e muita gente vai estranhar o roteiro deixar de lado a situação vivida por Maggie para revelar que o foco maior é sobre a culpa que Alma (e o nome não é por acaso) carrega faz tempo. Mesmo com toda sabedoria, toda trajetória e esperteza, aquela marca permanece em sua existência e talvez seus maiores embates com Maggie a desmontem por fazer com que vivencie novamente tudo o que ela preferia ter esquecido. Julia Roberts encara aqui uma personagem complicada, cheia de dores e nós complicados de desatar e, por conta disso, seu nome foi cotado para as premiações até que o filme decepcionasse nas bilheterias. O roteiro de estreia assinado pela atriz Nora Garrett toca em vários temas espinhosos e cria para si alguns becos sem saída e, ao mexer em grandes vespeiros, prefere se concentrar nas impressões de Alma e sua leitura dos fatos perante suas vivências. Essa decisão tira muito do impacto da personagem de Maggie e seu embate com Hank - que é apresentado como se fosse "resolvido" no meio da sessão. A pendenga maior é com Alma e quando as duas precisam acertar as contas. O filme tem uma baita dificuldade em resolver os sentimentos que existem entre as duas, de forma que o avanço temporal até a última cena não parecem satisfatórios para amarrar tudo o que se viu. No entanto, vale dizer que considerei Depois da Caçada um filme com vários personagens complexos e interessantes que são deixados pelo meio do caminho para Guadagnino fazer com Alma o que Todd Field fez com Lydia Tár (2022). No final das contas, Guadagnino demonstra aqui uma rigidez diferente de seus outros trabalhos (cheio de detalhes como os créditos iniciais que lembram dos filmes do cancelado Woody Allen, o título que faz referência a um certo filme dinamarquês ou as músicas de Morrissey) mas nada que prejudique Julia Roberts na construção de uma das mulheres mais complexas de sua carreira.
Depois da Caçada (After the Hunt / EUA - Itália - 2025) de Luca Guadagnino com Julia Robets, Ayo Edebiri, Andrew Garfield, Michael Stuhlbarg, Chloë Sevigny, Lio Mehiel, David Leiber, Thaddea Graham e Will Price. ☻☻☻

Nenhum comentário:
Postar um comentário