"Nickel Boys" de RaMell Ross |
segunda-feira, 4 de novembro de 2024
Palpites para o Oscar 2025
PL►Y: Armadilha
Hartnett: atuação esperta em filme nem tanto. |
A esta altura todo mundo já sabe que M. Night Shyamalan está longe de ser o gênio alardeado com O Sexto Sentido (1999). O longa que concorreu a seis Oscars (incluindo melhor filme e duas indicações para Shyamalan, uma em roteiro original e outra em direção) sempre fica na cabeça dos fãs como prova do talento do cineasta, mas que ao longo dos anos rendeu longas bastante irregulares. Nos últimos anos ele teve alguns acertos (Fragmentado/2017 e Batem à Porta/2013) mas também errou feio (alguém curtiu Tempo/2021?), fica então aquela vontade de ver um lançamento com assinatura dele para ver se ele acerta novamente. Armadilha conta a história de um pai (Josh Hartnett) que leva sua filha (Ariel Donoghue) para o show de uma estrela da música pop, a Lady Raven (Saleka Shyamalan, filha do diretor), entre uma música e outra, ele percebe que existe muitos policiais no local e tenta entender do que se trata. Eis que ele descobre que aquele concerto é na verdade uma emboscada para um assassino conhecido como O Açougueiro. Acontece que o pai zeloso é o próprio serial killer. Ele passa então a planejar como escapará daquela armadilha. Durante sua primeira parte, Shyamalan não demonstra muito esforço para articular as ideias do personagem que entre uma brecha aqui e ali, dribla a atenção da filha e de quem mais cruzar o seu caminho para colocar em prática o plano de fuga. Se durante o show o filme se desenvolve sem sobressaltos dentro de uma zona de conforto, curiosamente o filme se torna cada vez menos interessante em sua segunda parte. Na busca por reviravoltas para surpreender o espectador, o filme se torna cada vez mais cansativo em suas saídas nada convincentes para que o protagonista se torne um criminoso genial. O filme se torna cada vez mais arrastado e perde diversas chances de terminar com alguma dignidade e deixa a impressão que seria mais interessante se fosse ambientado somente durante o show, já que tudo o que vem depois soa bastante forçado. A sorte é que Armadilha conta com uma boa atuação de Josh Hartnett (que está cada vez mais agradecido por deixar de ser um galã adolescente). O ator desenvolve tranquilamente as duas personas totalmente opostas que o filme lhe oferece. Ele convence tanto como pai atencioso como doido sanguinário, o problema é que na tentativa de demonstrar como ele é esperto, subestima a inteligência de todos os outros personagens e do próprio espectador. O pior de tudo é aquela última cena que deixa margem para uma continuação - que serviria para alguma coisa somente se fosse para torna-lo um supervilão daquele universo que parece terminado de forma frustrante em Vidro (2019). Não abuse de nossa paciência, Shyamalan.
Armadilha (Trap / EUA - 2024) de M. Night Shyamalan com Josh Hartnett, Ariel Donoghue, Saleka Shyamalan, Alison Pill, Hayley Mills e Jonathan Langdon. ☻
4EVER: Agnaldo Rayol
03 de maio de 1938 ✰ 04 de novembro de 2024 |
domingo, 3 de novembro de 2024
4EVER: Quincy Jones
14 de março de 1933 ✰ 03 de novembro de 2024 |
quinta-feira, 31 de outubro de 2024
PL►Y: A Hipnose
Asta e Herbert: efeito colateral de uma hipnoterapia. |
André (Herbert Nordrum) e Vera (Asta Kamma August) são namorados e parceiros na construção de um aplicativo para saúde feminina. Diante da invenção, os dois agora procuram por investidores para bancar o projeto e precisam saber vender a ideia. Ambos podem ser craques em tecnologia, mas desde a primeira cena fica evidente o quanto Vera é tímida e André é formal demais para conquistar a simpatia de possíveis investidores. No meio de tudo isso, Vera tem hora marcada com uma hipnoterapeuta para que consiga parar de fumar. No primeiro encontro do casal após o procedimento, fica evidente que algo mudou na personalidade da moça (e não se trata do uso dos cigarros). Vera está completamente desinibida (será que o alívio da tensão proporcionado pelo cigarro evitava que demonstrasse tal comportamento?). Capaz de soltar gritos de alegria em público, dançar com a música alta antes de dormir, brincar em momentos indevidos e contar histórias totalmente descabidas. No início o novo comportamento até ajuda a vender a ideia, o problema é que ela parece cada vez mais destrambelhada. A Hipnose é um filme dirigido pelo sueco Ernst de Geer e parte de uma brincadeira bem humorada com a lógica das startups, mas investe cada vez mais na forma como lidamos com os códigos das relações sociais e do valor de uma falsa autenticidade como moeda social. Existe um tanto de como era mais cômodo para o casal que Vera ficasse à sombra do sócio namorado e como o fato dela chamar mais atenção que ele começa a incomodá-lo, mas a ideia de ter alguém de comportamento imprevisível em uma reunião de negócios ou um jantar com investidores pode ser bastante complicada - assim como toda a formalidade de André por vezes também gera encontros desconfortáveis para ele e o grupo (como naquela cena em que ele aparece em uma reunião para qual não foi convidado e não consegue se encaixar). Obviamente que o importante é alcançar um meio termo nessas relações, do que se é e o outro espera que você faça, mas enquanto o tal equilíbrio não vem, André realiza uma atitude bastante questionável que pode comprometer não apenas o seu namoro como os negócios também. A Hipnose é uma comédia romântica europeia, o que funciona sempre bem quando não tenta seguir a cartilha hollywoodiana do gênero. Investindo no humor pela via do desconforto e da vergonha alheia, o filme consegue ser divertido com toda sua casca formal em contraste com os absurdos de algumas cenas (e talvez seja a de André as mais absurdas em cena). Herbert Nordrum (que vimos em A Pior Pessoa do Mundo/2022) está convincente no papel do nerd que quer se aventurar pelo mundo dos negócios, mas é Asta Kamma August que rouba a cena com a guinada surpreendente de sua personagem. Quando o filme terminou eu fiquei imaginando que não ficaria surpreso se num futuro próximo gerasse uma remake em inglês com Emma Stone e Adam Driver nos papéis principais (e claro que aquele último ato seria alterado para ficar menos, digamos, ousada...).
A Hipnose (The Hypnosis / Noruega - Suécia / 2023) de Ernst de Geer com Herbert Nordrum, Asta Kamma August, David Fukamachi Regnfors, Moa Niklasson, Andrea Edwards e Simon Rajala. ☻☻☻
Combo: Dignas de Oscar
Neste Halloween, em homenagem à campanha de Demi Morre para o Oscar por A Substância, resolvi tirar da tumba o Combo no blog, só para lembrar cinco atrizes que mereciam o reconhecimento da Academia e acabaram de fora do páreo de melhor atriz. Quatro são de obras recentes e a primeira colocada é a prova irrefutável de que o Oscar tem problemas com ótimas performances em filmes de terror.