quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Pódio: Fernanda Torres

Bronze: a amada versátil.

 3º Eu Sei que Vou te Amar (1986) Nascida em 15 de setembro de 1965 na cidade do Rio de Janeiro. Fernanda Torres é filha dos atores Fernanda Montenegro e Fernando Torres. Ela estreou adolescente em programas de TV, mas foi no cinema que recebeu mais destaque - tanto que em seu terceiro filme recebeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes. Na odisseia romântica imaginada por Arnaldo Jabor, ela já dava mostras de toda a versatilidade que corria em suas veias. Nunca viu o filme? Vale a pena procurar. Além dos prêmios, o filme rendeu um trauma para a atriz, já que ao ser aclamada no maior Festival de Cinema do mundo, ela não estava lá por conta das gravações da novela Selva de Pedra. Foi sua primeira e última novela.

Prata: a devota casamenteira.
2º A Marvada Carne (1985) Eu fiquei surpreso quando descobri que este longa de André Klotzel é apenas o segundo longa-metragem de Fernanda. Dá para acreditar? Sua performance sagaz como Carula já lhe valeu um lugar entre os personagens mais icônicos do cinema brasileiro. Quem viu o filme (não viu? bora procurar!) sabe que o sonho de Carula é se casar, nem que para isso precise torturar Santo Antônio todos os dias. Quando Nhô Quim aparece como pretendente, ele terá que passar por vários desafios (alguns até Deus duvidaria). Filmão divertido, clássico, brejeiro e muito esperto que vale um lugar no coração de todos os fãs que lembram dele até hoje. 
 

Ouro: a mãe coragem.
1º Ainda Estou Aqui (2024) Faz tempo que a atriz já provou que seu talento vai além dos papéis cômicos, se alguém ainda duvidava do quilate do talento de Fernandinha, sua performance como Eunice Paiva espanta qualquer desconfiança. Em um trabalho contido e inesquecível, ela encarna uma mulher, mãe e esposa que precisou seguir em frente quando os pesadelos da ditadura passou a rondar sua família. Em performance digna de Oscar, Fernandinha ganhou um país inteiro de torcida para vê-la cravar uma indicação à estatueta de Melhor Atriz - o que será um feito incrível levando em conta que sua mãe já disputou a estatueta  e não levou. Está na hora de Fernandona ser vingada!

FILMED+: Ainda Estou Aqui

Os Paiva: a calmaria antes da tempestade. 

Existem tantos fatores que fazem de Ainda Estou Aqui um marco cinematográfico que vou começar do início, quando o filme começou a ser pensado por Walter Salles. O filme é baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, lançado em 2015, a obra foi dedicada à sua mãe, Eunice. A base da trama é o dia em que o pai de Marcelo foi levado para um depoimento e nunca mais voltou. Era o início dos anos 1970 e quem leu o livro mais famoso de Paiva (Feliz Ano Velho, que também virou filme pelas mãos de Roberto Gervitz e merece ser redescoberto) já conhecia pedacinho dessa história. O interesse de Salles não surgiu por acaso, já que foi amigo da família e percebeu ali a oportunidade de contar uma história importante de forma bastante pessoal (não por acaso, soa como uma máquina do tempo amparada pela ótima reconstituição de época). O filme marca o reencontro de Walter com Fernanda Torres, com quem trabalhou em Terra Estrangeira (1996) e O Primeiro Dia (1999) além de contar com uma participação mais do que especial de Fernanda Montenegro, a diva master brasileira que foi indicada ao Oscar de Melhor atriz por sua performance em Central do Brasil (1998), também de Walter e indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro, mas... o resto da história todo mundo lembra (até a Glenn Close). Uma mistura dessas rendeu um longa que foi selecionado para o Festival de Veneza e, após ser aplaudido de pé por dez minutos, foi ganhou o prêmio de melhor roteiro. Ali, Ainda Estou Aqui nasceu para o mundo e desde então segue elogiado em festivais, além de ser o candidato brasileiro à uma vaga no Oscar de Melhor Filme Internacional. Com campanha competente da Sony Classics (e quem é antenado sabe o quanto isso é importante para o apelo de um filme junto ao público e votantes) o filme deve quebrar o jejum de vinte e cinco anos em que o Brasil não entra na disputa. Ajuda muito a torcida de um público que fez o longa um campeão de bilheteria desde a sua estreia nas salas de cinema por aqui. Faz tempo que um filme brasileiro não é tão celebrado - e se levarmos em conta a polaridade política que se instaurou por aqui nos últimos anos o feito se torna ainda mais impressionante. Afinal, o período em que o filme se passa é da Ditadura Militar, aquele período sombrio que para um grupo específico de pessoas não foi ruim. Não foi para quem? Para Eunice Paiva foi um período terrível, já que o marido foi levado de casa e por décadas ela e os quatro filhos não tiveram mais notícias dele. Sua angústia era vivenciada enquanto precisava dar conta das despesas da casa, da criação dos filhos, da vida que seguia com os olhos à espreita de um carro estranho estacionado sempre à frente de sua casa. Fernanda Torres está magnífica na pele de Eunice, ela encarna a mãe, a esposa, a mulher que se viu num turbilhão de incertezas e que prosseguir. Todos estes sentimentos complicados são internalizados e expostos de forma verdadeiramente emocionante durante o filme. O premiado roteiro, pega a história de nosso país e a conta através da história de uma família que subitamente foi transformada para sempre sem que entendessem o motivo. A trama se desenvolve com base nas vivências de Eunice, do dia em que teve que conviver com desconhecidos debaixo de seu teto a vez em que foi levada para depor encapuzada junto com sua filha de dezesseis anos e só voltou dias depois para casa, aquele momento em que percebe que o marido não vai mais voltar e terá que lidar com a dor em silêncio para preservar os filhos do horror que pairava sobre eles. Não por acaso o filme começa solar, alegre, com trilha sonora perfeita e aos poucos a atmosfera pesa. Se torna sombria, opressora, claustrofóbica. Incerta. Walter Salles trabalha essas camadas e tonalidades com maestria e envolve o espectador na história de uma família liderada por uma mulher que se nega a cair no abismo. Chega então aquela cena final em que a memória de quem passou por tudo isso não deve ser apagada, mas preservada pelas gerações futuras para evitar que algo tão sombrio se repita. Não satisfeito, Salles ainda termina com aqueles créditos com a casa vazia, triste, tão fantasmagórica como belamente filmada. Muito se fala se o filme trará um Oscar para o Brasil, eu adoraria que isso acontecesse, mas acho que o filme ainda fala mais alto para nós que vimos o país se tornar um território estranho nos últimos tempos. Ao menos na sala de cinema, banhado no silêncio respeitoso, nos sons de choros aqui e ali, tive a impressão que as pessoas entenderam a importância do filme como o acontecimento cultural que a gente precisava. Não sei se Fernanda Torres será indicada ao Oscar de atriz, só sei que ela merece (e muito), assim como o filme merece ser visto e lembrado. 

Ainda Estou Aqui (Brasil-2024) de Walter Salles com Fernanda Torres, Fernanda Montenegro, Valentina Herzage, Maeve Jinkins, Dan Stulbach, Humberto Carrão, Charles Fricks, Antonio Saboia, Olívia Torres e Marjorie Estiano. ☻☻

PALPITES PARA O OSCAR 2025 - PARTE FINAL

"A Lição de Piano" de Malcolm Washington
 
O astro Denzel Washington continua em sua missão de adaptar as peças de August Wilson para as telas. Desta vez ele produz o filme de estreia de seu filho na direção, que conta com a presença do outro filho, John David Washington no elenco. A peça é considerada uma obra-prima e conta a história de uma família dona de um piano herdado que é decorado por desenhos esculpidos por um ancestral escravizado. O elenco estelar ainda conta com Samuel L. Jackson, Ray Fisher, Erykah Badu e Danielle Deadwyler (que está cotadíssima para o Oscar de atriz coadjuvante). O longa é uma das apostas da Netflix para a temporada de prêmios. 

"A Complete Unknown" de James Mangold
 
Depois de fazer sucesso com uma cinebiografia de Johnny Cash (Johnny & June/2005), Mangold pretende retornar ao radar das premiações com uma história baseada na ascensão do ícone Bob Dylan ao estrelato nos anos 1960. O filme recebeu elogios pela forma como reconstrói a cena musical do período e tem uma performance inspirada de Thimothée Chalamet (um dos favoritos ao Oscar de melhora ator). O elenco ainda conta com Edward Norton, Elle Fanning, Boyd Holbrook,Will Harrison e uma elogiadíssima Monica Barbaro no papel de Joan Baez. O filme é aguardado com grandes expectativas para a temporada. 

"Queer" de Luca Guadagnino
 
Embora a recepção no Festival de Veneza não tenha sido das mais empolgantes, a adaptação da obra de William S. Burroughs não gera só polêmicas em torno de seu teor homoerótico, mas também gera expectativas para ver se Daniel Craig finalmente será indicado ao Oscar. Ele vive Lee, um militar aposentado da Marinha dos Estados Unidos que vive na cidade do México dos anos 1940 e que se apaixona por um homem muito mais jovem.  O filme ainda tem no elenco Jason Schwartzman, Lesley Manville e Omar Apollo. A produção também está cotado para o Oscar de melhor fotografia. 

"Um Homem Diferente" de Aaron Schimberg

Premiado no Festival de Berlim deste ano, Sebastian Stan ainda tem sua cota de admiradores em torno de seu trabalho neste drama com maior jeito de thriller psicológico. Ele vive Edward, um ator que resolve mudar drasticamente sua aparência e acarreta efeitos indesejados em sua carreira. O filme também pode aparecer entre os indicados a melhor roteiro original (assinado pelo próprio diretor) e até surpreender com seu elenco de coadjuvantes bem defendidos por Renate Reinsvie e Adam Pearson. 

"Maria" de Pablo Larraín

De vez em quando Angelina Jolie lembra que é atriz e resolve atuar novamente nos cinemas. Quando surge em um projeto mais sério começam logo as especulações em torno do tempo que faz de  sua última indicação (por A Troca/2008) ou de quando ganhou um Oscar de coadjuvante (por Garota Interrompida/1999). Na nova biopic do diretor chileno sobre personalidades femininas, Jolie vive a diva Maria Callas em um período de crise que comprometeu a sua belíssima voz. Centrado nos últimos anos de vida da cantora, o filme tem poucas chances de figurar em outras categorias além de melhor atriz. 

"The Last Showgirl" de Gia Coppola

Comprovando que a disputa por uma indicação ao Oscar de melhor atriz está acirradíssimo no próximo Oscar, até mesmo a estrela da série SOS Malibu (1989-2001) surge com chances de uma respeitosa indicação. Pamela Anderson já foi uma das figuras mais faladas de Hollywood, mas nunca foi levada a sério como atriz no cinema, pelo menos até encarnar Shelly, uma showgirl de Las Vegas que perde o emprego após seu espetáculo ser cancelado após trinta anos em cartaz. Por dar conta dos dramas da personagem, Pamela se tornou o ponto mais elogiado do filme que conta ainda com Dave Bautista, Jamie Lee Curtis e Kiernan Shipka. Façam suas apostas!

domingo, 10 de novembro de 2024

PL►Y: Twister | Twisters

 Daisy e Glen: atraídos pelo perigo.

Quando assisti ao trailer de Twister em 1996, ele se tornou o filme que eu mais queria ver naquele ano. Mais do que Independence Day. Eu não lembrava de nenhuma produção que houvesse feito tornados de forma tão convincente até então. Estrelado por Helen Hunt (já famosa pela série Mad About You e perto de ganhar o Oscar por Melhor É Impossível/1997) e Bill Paxton (que faleceu em 2027) encarnando um casal que acaba de se desfazer. Os dois eram caçadores de tornados e criaram um experimento (a Dorothy) que seria capaz de rastrear os movimentos desses fenômenos imprevisíveis da natureza. Só que ele já havia deixado essa vida de aventuras e só precisa que ela assina os documentos do divórcio. Enquanto a assinatura não sai, ele segue atrás dela em uma temporada de tornados. A química entre os dois se tornou fundamental para que o público embarcasse na história e se importasse com os dois toda hora que os efeitos especiais aparecem para destruir tudo e fazer vacas voarem pelos ares (cena que se tornou clássica).  Jan de Bont acabava de sair de outro sucesso que investia em uma ideia diferente nos filme de ação (Velocidade Máxima/1994) e demonstrava mais uma vez ser capaz de fazer as engrenagens de uma narrativa de ação funcionar a seu favor. Twister ficou entre os filmes mais vistos daquele ano e fez o maior sucesso nas locadoras (vixe...) e repetiu várias vezes na televisão. Gerou algumas cópias descaradas, mas sem o mesmo sucesso, afinal, embora o texto não fosse lá grande coisa, a produção funcionava como filme pipoca que era uma beleza (e funciona até hoje)! O interessante é que todo o sucesso não gerou uma sequência para o filme até que em 2024 resolveram reativar a ideia. Ainda que não seja um remake, o filme tem muita semelhança com o primeiro, aqui Helen Hunt não aparece para uma participação especial, mas mencionam a Dorothy e sua importância para o trabalho no estudo dos tornados (e personagens usam codinomes de outros personagens do Mágico de Oz). Mais uma vez a trama é sustentada por um casal. Kate Carter (Daisy Edgar Jones) é uma cientista que procura informações sobre tornados com uma pesquisa que ainda precisa de mais dados, mas uma tragédia envolvendo seu grupo de pesquisa irá comprometer sua trajetória. Ela vai então para a cidade trabalhar de forma mais segura, mas o convite de um amigo (Anthony Ramos) faz com que ela volte a campo. Ela descobre que os tempos são outros e precisa lidar com a popularidade de Tyler Owens (Glen Powell), que junto com a sua trupe barulhente persegue tornados para postar vídeos na internet. Logo se estabelece uma rixa entre o grupo de cientistas (que ainda conta com o novo Superman, David Corenswet) e a trupe de Tyler, mas que não demora muito para o público adivinhar o que acontece quando se coloca os rostinhos bonitos de Daisy e Glen no mesmo filme. A sorte é que os dois também são talentosos e conseguem gerar torcida na plateia enquanto compartilham o mesmo fascínio pelos tornados. Os efeitos especiais continuam feitos no capricho e tenho a impressão que existem mais cenas de devastação por aqui, no entanto, o primeiro me parecia construir uma tensão mais estruturada e criava uma sensação de você estar no meio de toda aquela destruição. Talvez essa diferença aconteça por conta da direção de Lee Isaac Chung experimentar aqui o seu primeiro filme de ação. Chung ficou famoso por seu trabalho em Minari (2020), que lhe rendeu o Oscar de roteiro original e uma indicação ao Oscar de direção. Ele não poderia ter embarcado em um projeto mais diferente. No entanto, o fato de ser nascido em Denver, no Colorado, lhe proporciona uma certa intimidade com aquela realidade devastadora. O mais incrível de sua direção é a forma poética como filma Kate observando os sinais da natureza para a força destruidora que se aproxima. Seja soltando um dente de leão no ar ou vendo os campos de trigo, Chung torna convincente estes momentos, sei que parece bobagem, mas isso faz toda a diferença na essência do filme. Ainda que eu prefira o primeiro, este aqui consegue ser interessante, mas talvez se houvesse mudado o foco de bancar uma comédia romântica nas entrelinhas, o filme teria ficado mais original (mas teria feito o mesmo sucesso?). Vale lembrar que os dois filmes estão disponíveis no Max (e alguns de seus genéricos também). 

Helen e Bill: o apelo continua intacto.

Twister (EUA - 1996) de Jan de Bont com Helen Hunt, Bill Paxton, Philip Seuymour Hoffman, Jamie Gertz, Cary Elwes, Alan Ruck, Lois Smith e Jeremy Davies. ☻☻

Twisters (EUA - 2024) de Lee Isaac Chung com Daisy Edgar-Jones, Glen Powell, Anthony Ramos, David Corensweat, Sasha Lane, Maura Tierney, Daryl McCormack, Kiernan Shipka, Austin Brooks e James Paxton.

sábado, 9 de novembro de 2024

§8^) Fac Simile: Ryan Gosling

Ryan Thomas Gosling

Nosso repórter imaginário andava preocupado já que nenhum grande artista queria conceder-lhe uma entrevista ao longo do ano. Ele estava um tanto deprimido em uma Starbucks lotada no Canadá e ficou surpreso quando Ryan Gosling sentou diante dele perguntando se poderia dividir a mesa. Fac implorou por uma entrevista, que se transformou num bate papo que nunca aconteceu:

§8^) Você tem algum conselho após o fracasso de O Dublê?

Ryan Siga em frente, nada como um filme após o outro, digo... nada como um dia após o outro, mas falando de filmes, invista em filmes de baixo orçamento!

§8^) Acha que o fracasso do filme rendeu aquele comentário de que o Glenn Powell gera mais bilheteria porque ele é atraente para mulheres e homens?

Ryan Acho que a pessoa que disse isso não faz a mínima ideia do que acontece comigo, mas é melhor não entrar em detalhes.

 §8^) Alguns amigos fizeram um abaixo assinado para a Academia declarar um empate entre você e Robert Downey Jr. após sua apresentação cantando I Am Ken no Oscar desse ano. A Academia  entrou em contato com você?

Ryan Não. Mas eu não me importo com isso não. Claro que o reconhecimento é legal, mas olha quanto tempo demorou para o Robert ganhar um Oscar! Acredite, vou ganhar o Oscar por um filme que ninguém vai me achar merecedor. Aquele show foi bom para mostrar mais uma vez que interpreto, canto, danço, sapateio... e foi um momento tão divertido! Quando começaram a gostar da música eu só pensava "Meu Deus, o que foi que eu fiz!", mas quando chegamos no Oscar eu relaxei e fluiu. Por muito tempo eu fiz muitos filmes sombrios, densos e eu estava me sentindo um tanto pra baixo. Eu imaginava que não daria conta de ser engraçado. Aquela apresentação foi um desses momentos em que eu tinha que lembrar em ser o mais ridículo possível sem cair na gargalhada.

§8^) Essa foi sua estratégia quando interpretou o Ken?

Ryan Exatamente e em todas as outras comédias que eu fiz. O segredo é fazer graça sem rir. As pessoas levam a sério o que você está fazendo por conta disso. 

§8^) Algumas pessoas disseram que você estava velho para o papel...

Ryan Avisa para elas que o Ken tem mais de sessenta anos e eu tenho bem menos que isso. São essas picuinhas bobas que fizeram a minha esposa (Eva Mendes) parar de fazer filmes, acho que você viu recentemente ela dizendo que nunca foi uma boa atriz. Olha isso! É incrível o efeito desses ataques na autoimagem de uma pessoa. Ela sempre foi maravilhosa.

§8^) Você não vai acreditar qual o filme que você fez que é o favorito da minha mãe...

Ryan La La Land?

§8^) Half Nelson!

Ryan Uau! Sua mãe deve ser incrível. Poucas pessoas comentam este filme comigo.

§8^) E eu tenho os DVDs de Tolerância Zero e O Mundo de Leeland...

Ryan Oh meu Deus, você é um fã!

§8^) Sim! E meu voto desempatou Blade Runner 2049 com Moonlight em melhor filme lançado no Brasil em 2017 na votação do blog para qual trabalho!

Ryan Que legal! Muito obrigado, cara! Obrigado mesmo. 

§8^) Mas falando em La La Land, você não conseguiu conter o riso naquela confusão no Oscar de melhor filme com Moonlight...

Ryan Eu não sou de ferro, né? Topa outro capuccino?

PL►Y: O Dublê

Ryan e Emily: juntos em um dos flops do ano.

Ryan Gosling e Emily Blunt estrelaram os dois maiores sucessos do ano passado, ele interpretou Ken em Barbie, ela foi a esposa de Oppenheimer. Ambos os filmes foram indicados ao Oscar de Melhor Filme e o casal foi indicado aos prêmios de coadjuvante muito próximos dos favoritos da categoria. Juntar dois artistas tão populares parecia promessa de um campeão de bilheteria, bastava temperar com humor, romance e ação, mas não foi isso que aconteceu com O Dublê. O longa que prometia ser um dos mais queridos da temporada, amargou uma bilheteria de 178 milhões de dólares, pouco perante o investimento de 125 milhões. O diretor David Leitch (que inaugurou a famosa saga John Wick/2014 um marco da ação do século XXI) pode ter uma mente arrojada para criar cenas de ação, mas a ideia de abraçar vários gêneros e públicos ao mesmo tempo deixou o filme um tanto confuso. Não que a história tenha algo de muito complicado, mas tentar disfarçar uma trama simplória com uma montagem embaralhada não foi uma boa ideia, antes houvesse se rendido ao apelo nostálgico da trama inspirada na série Duro na Queda (1981-1986) e a trilha sonora que apela para um hit do Kiss a cada quinze minutos, que ganha até uma versão repaginada com foco nos mais jovens, esse olhar focado em dois grupos tão diferentes me parece o maior problema do filme. Mirar em gerações tão diferentes é um risco gigante para uma produção de orçamento tão inchado. A trama conta a história de Colt Seavers (Ryan Gosling) que é dublê de um dos maiores astros de Hollywood, Tom Ryder (Aaron Taylor-Johnson). No início Colt é um dos mais respeitados do ramo e está em ótima fase na carreira e na vida amorosa, afinal, ele está apaixonado pela assistente de direção Jody Moreno (Emily Blunt). Tudo seria ótimo em sua vida se um acidente não colocasse tudo a perder. O tempo passa e ele deixa a carreira e o prestígio para viver longe das câmeras. Eis que recebe o convite de uma produtora (Hannah Waddingham) para voltar a trabalhar como dublê, no filme de estreia de Jody como cineasta.  Obviamente que ele fica todo animado, mas existe um bocado de ressentimentos a serem trabalhados durante as filmagens, com muita lavagem de roupa suja em público e você tem a impressão que aquela discussão irá se arrastar por todo o filme até que você descobre que a produtora precisa de Colt para encontrar Tom que está desaparecido - o que compromete a continuação das filmagens e... a situação se complica cada vez mais. O filme tem dois aspectos que me incomodaram muito durante as longas duas horas de duração. O primeiro deles é a montagem caótica, que interrompe momentos empolgantes para apresentar conversas triviais entre dois personagens, causando quebras de ritmo irreparáveis achando que isso deixa o filme mais esperto e "moderninho". Não é, deixa apenas a narrativa menos fluída e mais irritante. A outra é que por mais que eu gosto de Emily Blunt, achei sua personagem uma chata. É muito difícil simpatizar com alguém que gosta de torturar um sujeito que perdeu tudo após um acidente que o quebrou todo. Entendo toda a mágoa que ela carrega no coração, mas não era mais fácil sentar e conversar já que o filme repete o tempo inteiro que os dois se amam? Que amor é esse? Eu não sei, mas é ele que motiva o filme a andar no meio da conspiração que é armada em torno do protagonista. O Dublê é um daqueles filmes que exageram nas cenas de ação (muitas vezes sem sentido) para disfarçar um roteiro boboca, o triste é ver nomes tão talentosos envolvidos num flop dessa magnitude. 

O Dublês (The Fall Guy / EUA - 2024) de David Leitch com Ryan Gosling, Emily Blunt, Hannah Waddinghan, Aaron Taylor Johnson, Winston Duke, Teresa Palmer e Stephanie Hsu. ☻☻

FILMED+ : O Banquete de Casamento

Mitchel e Chao: preciosa pérola de Ang Lee.
 
Desde o horroroso Projeto Gemini (2019) o diretor taiwanês está sem dirigir um filme (reza a lenda que ele está desenvolvendo Thrilla em Mannila, mas até agora o que se sabe é somente o título da produção). Ao longo de sua carreira, Lee mostrou-se um dos diretores mais versáteis de sua geração, por conta disso tem dois Oscars de melhor direção na estante filmes completamente diferentes, Brokeback Mountain (2005) e As Aventuras de Pi (2012). Embora sejam merecidos, ambos parecem prêmios de consolação, já que foram laureados por longas indicados ao Oscar de Melhor Filme e perderam. No entanto, quem acompanha a carreira do diretor desde o início, sabe que ele caiu no radar na Academia enquanto ainda filmava no oriente, e não estou falando de O Tigre e Dragão/2000 (que lhe rendeu a primeira indicação ao prêmio de direção e levou a estatueta de filme estrangeiro). Lee caiu no radar da Academia com seu segundo longa-metragem, O Banquete de Casamento. Lançado em 1993 o filme fez sucesso em um tempo em que falar sobre casais gays em grandes produções de estúdio era uma raridade, se fosse abordar casamento entre pessoas do mesmo sexo... a coisa complicaria mais ainda (a prática foi legalizada nos EUA  somente em 2015). O filme conta a história de Wai-Tung (Winston Chao), um rapaz que foi estudar nos Estados Unidos e conheceu Simon (Mitchell Lichtenstein), os dois se apaixonaram e começaram a viver juntos em Manhattan. No entanto, os pais de Wai-Tung não sabem que ele é gay e insistem para que ele se case e lhe dê um neto. Obviamente que a ideia está fora de cogitação para o moço, mas quando Wei Wei (May Chin), uma amiga estudante de arte, corre o risco de ser deportada, Simon tem a ideia de que a moça se case com seu parceiro (que tem cidadania americana), resolvendo o problema dela e amenizando a ansiedade dos pais de Wai-Tung. No entanto, após se prepararem para todas as burocracias com o greencard o trio não imaginava que Sr. e Srª Gao (Ah Lei-Gua e Sihung Lung) querem uma festança de casamento com parentes a amigos, e não apenas no cartório. Além disso, os sogros resolvem ficar na casa deles por um longo período, tornando a farsa mais complicada de ser convincente, o que afeta diretamente o relacionamento de todos os envolvidos. Lee realiza aqui uma deliciosa comédia de costumes e consegue manter a leveza mesmo nos momentos mais complicados da história, deixando sempre que a afetividade entre seus personagens fale mais alto. Existem aqueles momentos de dar gargalhada (as brincadeiras tontas no casamento ou a discussão entre Simon e Wai-Tung no café da manhã sem que os pais entendam o motivo) e outros de marejar os olhos (como os segredos que o casal de visitantes resolvem esconder um do outro ou a cena de despedida) e o resultado é irresistível. O elenco está excelente, em uma sintonia perfeita ao longo de toda a trama, convincentes tanto nas partes mais cômicas quanto nas mais emotivas. Atento a cada detalhes entre seus personagens (olhares, gestos, tom de voz...), o filme serve de registro de um tempo em que a maioria dos  relacionamentos homossexuais precisavam ser escondidos, mas Lee acena com uma esperança de que mudanças estavam por vir. Outro detalhe importante é que a produção se tornou um dos raros filmes com personagens homossexuais que termina de forma otimista. Para muitos, o filme se tornou o mais lucrativo de seu ano de lançamento, já que custou cerca de um milhão de dólares e rendeu mais de vinte e três milhões mundialmente! Na época, Lee não esperava que uma das espectadoras do filme, a atriz Emma Thompson, lhe convidaria para fazer uma adaptação da obra de Jane Austen que se tornaria um marco referencial do gênero. Lee dirigiu Razão e Sensibilidade (1995), ajudou Thompson a levar o Oscar de roteiro adaptado e o viu ser indicado em outras seis categorias (incluindo melhor filme), mas o cineasta ficou inexplicavelmente de fora do páreo de melhor direção. O Banquete de Casamento se tornou um divisor de águas na carreira do diretor que apresentou aqui sua capacidade de abordar sentimentos bastante íntimos de forma deliciosamente sutil. 

O Banquete de Casamento (Xi Yan - Taiwan / EUA - 1993) de Ang Lee com Winston Chao, Mitchell Lichtenstein, Ah Lei Gua, Sihung Lung, Dion Birney e Neal Huff. ☻☻☻☻