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Jan Gunnar Røise: relacionamento em conflito. |
Avdelingsleder (Thorbjørn Harr) é o chefe de Feier (Jan Gunnar Røise) no trabalho de limpeza de chaminés. Entre um trabalho e outro os dois começam a conversar sobre um sonho que deixou Avde intrigado. Ele sonhou que David Bowie o observava como se apreciasse uma mulher. Ainda que fosse um sonho, a sensação vivenciada por ele foi muito real e o deixou pensativo. Ele não imaginava que após relatar o sonho, o colega iria lhe confidenciar que transou com um homem pela primeira vez no dia anterior. Vale ressaltar que ambos se consideram heterossexuais, são casados com mulheres e possuem filhos numa estrutura familiar bastante convencional e sem maiores conflitos, pelo menos até aquele momento. Feier conta com bastante naturalidade sobre o ocorrido, da mesma forma que contou para a esposa sobre a experiência e acreditou estar tudo bem, afinal, para ele traição seria manter um relacionamento afetivo com alguém fora do casamento, o que não é o caso. Porém, Feier não imaginava que sua esposa, Lege (Anne Marie Ottersen), começaria a questionar um casamento que aparentava total estabilidade. O primeiro filme da trilogia Sex Love Dreams de Dag Johan Haugerud já demonstra que o diretor quer fazer a plateia embarcar em uma reflexão sobre os temas que dão título aos filmes do projeto. Não quer apontar respostas, dizer quem está certo ou errado, mas fazer a cabeça do espectador fermentar perante as ações dos personagens. Ao longo do filme Feier, que parecia tão confiante com sua primeira experiência sexual com outro homem, começa a perceber como isso afeta seu relacionamento com a esposa - além disso, um certo temor começa a se instaurar sobre a percepção que as pessoas possuem dele. Embora ele repita o tempo inteiro que não é gay (da mesma forma que ressalta que beber cerveja não o torna um alcoólico) suas interações com a esposa se tornam cada vez mais difíceis em conversas sobre ciúme, desejo e fidelidade. O ator Jan Gunnar consegue dar conta do personagem em conflito por um viés inusitado, seu rosto de certinho, sua expressão sempre acanhada e uma certa ausência de sex appeal nos desperta uma sensação diferente ao tentar julgá-lo e por vezes gera risos nervosos, como naquele momento em que a esposa pede para que conte (em detalhes) como foi fazer sexo com outro homem. Aos poucos a dinâmica entre os dois se torna uma tortura psicológica, ela cada vez mais cortante e ele cada vez mais esquivo, dando a impressão que somente a demonstração de alguma culpa (algo que ele não apresenta no início) será capaz de amenizar a tensão instaurada. Fosse só a trama de Feier em crise o filme já seria interessante, mas o texto escorrega ao ter de lidar com os sonhos do outro homem da trama. Sem saber muito para onde ir com Avdelingsleder (que nome difícil para um personagem), o que poderia ser uma discussão interessante sobre gênero e religiosidade (este um tema que rende um dos diálogos mais inusitados do filme) fica pelo meio o caminho. Duas curiosidades sobre o filme: ele não possui cenas de sexo e conta com uma pequena participação de Bjorn (Lars Jacob Holm), que recebe mais destaque em Love, o segundo filme da trilogia. O fato é que o longa me deixou ainda mais curioso para ver a terceira parte da trilogia, Dreams, que ainda não tem previsão de estreia por aqui.
Sex (Sex / Noruega - 2024) de Dag Johan Haugerud com Thorbjørn Harr, Jan Gunnar Røise, Siri Forberg, Anne Marie Ottersen e Birgitte Larsen. ☻☻☻☻