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Gaga e Phoenix: o filme mais odiado do ano. |
Se Coringa2 não for o maior fracasso de bilheteria de 2024, ele com certeza merece o título de filme mais odiado do ano. Muito por conta do fenômeno cultural que foi o primeiro filme (um filme baseado em HQ que foi Premiado no Festival de Veneza e rompeu a barreira do bilhão nas bilheterias com um drama sombrio e pessimista). O primeiro Coringa fez tanto sucesso que rendeu todos os prêmios daquela temporada para o colosso Joaquin Phoenix e levou ainda o Oscar de trilha sonora enquanto disputava outras nove categorias no maior prêmio do cinema americano - incluindo filme e direção para Todd Phillips. Ao que parece todo mundo gostou do sucesso de Coringa, menos o diretor. Phillips ficou famoso com a comédia Se Beber Não Case (2009) e disse em entrevistas ter feito seu Joker pensando em como dar risada pode ser considerado ofensivo nos dias atuais. Acontece que a interpretação que muita gente teve de seu vilão foi diferente do que ele imaginava e viu o personage ser considerado por muitos um herói incompreendido num mundo excludente - por mais que Phillips ressaltasse que seu protagonista era um assassino perigoso. Assim como Joker se tornou uma figura cultuada na trama por conta dos crimes que cometeu, o cineasta viu o mesmo acontecer na vida real. Diante do sucesso inesperado do primeiro filme, Todd foi convidado a realizar uma inevitável sequência, mas disse que faria apenas se fosse do seu jeito, sem que os produtores se metessem. Foi assim que ele torrou quatro vezes mais para desconstruir tudo o que muita gente venera no filme anterior. Pista de que isso aconteceria aconteceu quando divulgou que seria um musical e que teria Lady Gaga como a mítica Arlequina. Devo dizer que nenhum desses pontos me desagradou, ainda que os considerasse um bocado arriscados. Pista porque o musical deve ser o gênero menos apreciado ao redor do mundo, mas ainda assim temos ao menos um exemplo brilhante de como podem ser sombrios e assustadores (Sweeney Todd/2007 de Tim Burton, filme que eu adoro), por outro lado, por mais que Lady Gaga seja uma atriz competente, seu fã-clube é proporcional ao número de haters de olho em tudo o que ela faz. No fim das contas, tudo dependeria do roteiro assinado pelo diretor e Scott Silver. A bomba já se denunciava no Festival de Veneza em que o filme era um dos mais aguardados e recebeu críticas mornas. Aqui, Arthur Fleck (Phoenix) está internado no Asilo Arkham aguardando julgamento pelos cinco assassinatos que cometeu. Medicado, calado e controlado, ele mal faz ideia que fora dali tem uma legião de seguidores enquanto serve de chacota para os guardas do local. As coisas parecem melhorar quando ele conhece Harley Quinzel, mais conhecida como Lee (Lady Gaga), que idolatra a imagem insana daquele sujeito e o motiva a ser novamente o imprevisível Coringa. Aos poucos, Fleck volta a encarnar seu alterego e o filme segue em um julgamento que revisita situações e personagens do filme anterior. Com isso Folie a Deux (nome em francês para transtorno delirante induzido) se torna dependente demais do primeiro longa, com uma série de explicações que ninguém pediu. O filme se torna repetitivo em um roteiro que anda em círculos para terminar de forma bastante decepcionante. Todo o teor robusto de Joker não aparece aqui. A culpa nem é das músicas (logo no início o diretor já anuncia sua proposta em um programa de TV: quer provar como o musical pode servir ao drama dos personagens), também não me incomoda o fato de Joaquin não cantar bemm o que incomoda é que para um filme com mais de duas horas, o roteiro soa improvisado, com ideias inventivas que não foram bem desenvolvidas. Meu momento favorito do filme é aquele em que Puddles (Leigh Gill, perfeito!) vai depor e expõe todo horror de perceber que um amigo se transformou em um monstro (ou será que ele sempre foi?). Esta é a intenção de Todd Phillips, mostrar que o vilanesco Coringa não é digno de admiração e acho que este é o grande motivo de ódio perante o filme. De certa forma, ao ver Coringa2 a plateia sente-se tão decepcionada quanto Lee (e Lady Gaga que aparece pouco e subaproveitada com o potencial da personagem) e restou apenas reclamar do filme, que está longe de ser um desastre, mas também não é tão interessante quanto poderia ter sido. Acho que, no fundo, faltou ao diretor a ousadia de radicalizar suas ideias (algo que vimos recentemente em A Substância), distante de toda emulação scorsesiana, Todd deixou o filmeem cima do muro. Resta apenas apelar para o fanservice do desfecho para que se criem teorias a respeito do que acontece depois. Que aconteça nada, por favor.
Coringa: Folie a Deux (EUA-2024) de Todd Phillips com Joaquin Phoenix, Lady Gaga, Brendan Gleeson, Catherine Keener, Zazie Beetz, Leigh Gill, Harry Lawtey e Steve Coogan. ☻☻
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