segunda-feira, 25 de julho de 2011

DVD: Os Famosos e os Duendes da Morte


Tambourine e Diego: Nem famosos e nem duendes.

Aproveitando o clima fúnebre da morte de Amy Winehouse lembrei deste filme brasileiro que aborda  a morte  de forma inteligente e nada melodramática. Lembro que quando começou a passar nos festivais começaram a ficar com o pé atrás por imaginarem que fazia uma apologia do suicídio - o que é uma grande bobagem. Da mesma forma, é simplista demais considerar que o longa de estreia de Esmir Filho é somente sobre esse tema. O filme merece ser conferido pela atmosfera que o diretor consegue criar utilizando poucos recursos. É louvável como consegue dar vida à uma cidade ao ponto dela parecer um personagem. Talvez o filme devesse levar o nome dela (que nem aparece, mas poderia ser algo como A Cidade na Névoa ou A Cidade da Ponte, que não são nomes muito bons mas são infinitamente melhores do que este nome horroroso que recebeu - e deve ter afugentado o público em massa). Apesar de abordar temáticas comuns aos filmes voltados para adolescentes (uso de maconha, a perda da virgindade, a solidão e a internet) o filme deve conquistar mais os adultos, especialmente os que são fãs das obras de David Lynch. Do mestre o diretor utiliza os longos silêncios (quase não há diálogos no filme, e quando existem são menos reveladores do que todo o resto) e o tom fantasmagórico de uma cidade interiorana nos cafundós do Rio Grande do Sul. É difícil falar de um filme que fica marcado principalmente pelas sensações que proporciona, mas eu vou tentar. O protagonista é um rapaz de dezesseis anos (Henrique Sarré) que só tem nome na internet, onde utiliza o nome de Mr. Tamborurine Man para desabafar sobre suas angústias e, embora a proposta do filme seja realista, o rapaz vive entre dos mundos: o real (onde se preocupa com os estudos, um show de Bob Dylan, mora com a mãe e tem um amigo com quem passa o tempo) e um virtual (onde tem como musa uma tal de Jingle Jungle que posta vídeos no youtube que ressalta suas tendências suicidas). No decorrer da trama vamos juntando peças soltas que apontam para a ligação de Jingle com um homem misterioso chamado Julian que vive rondando o protagonista e seu amigo Diego (que nutre ódio por Julian enquanto tenta seguir uma vida normal de adolescente). A relação entre esses personagens aos poucos vai ganhando formas inusitadas durante a sessão quando descobrimos que Jingle e Julian se jogaram da ponte da cidade, mas só ela morreu. Cheio de climas o filme aborda a insatisfação de Tambourine com  a vida provinciana em que está inserido - onde a internet é a fonte de contato com o mundo e o anúncio de uma vida diferente da que se anuncia todos os dias (e ainda mescla passado, presente e futuro de acordo com a intenção do usuário). Esmir merece aplausos por conta de não ter medo de aprofundar seu personagem principal com forte apelo surreal, lhe proporcionando ambiguidades onde a vida e a morte se atraem, se cruzam e repelem - assim como sua sexualidade. Esta vida de insatisfação é muito bem ilustrada pela ponte que divide a cidade - e que representa uma ameaça para o rapaz, principalmente pelos suicídios que se relacionam à ela. O filme capricha nas fotografia, nas locações, nos enquadramentos e na melancolia de seus personagens que se encontram na busca de caminhos próprios. Muita gente vai achar esquisita a cena na estação hidrelétrica onde três personagens se encontram cruzando os universos em que o filme transita e compromete o momento mais feliz do filme (a aguardade festa julina da cidade). Sem utilizar muitas palavras para expressar suas ideias, o filme promete muitas (re)leituras e marca pontos positivos na carreira de seu diretor (Esmir tem 28 anos e já havia estourado na internet com o curta Tapa na Pantera) que tem como base o livro homônimo de Ismael Canepelle (que no filme vive o misterioso Julian). Talvez o título se refira aos personagens que são famosos na cidade por conta da internet e os duendes da morte se deva à sensação quase mística de que ela está sempre presente quando se atravessa as ruas vazias daquela cidade de arrepiar (e não só por causa do frio). Trata-se de um filme brasileiro interessante sobre temáticas jovens, assim como Houve Uma Vez dois Verões (2002) e As Melhores Coisas do Mundo (2010), entretanto é o mais experimental e sombrio (principalmente por sua inspiração Lynchiana).

Os Famosos e os Duendes da Morte (Brasil/França-2009) de Esmir Filho com Henrique Larré, Ismael Caneppele, Tuane Eggers, Samuel Reginatto e Áurea Baptista. ☻☻☻☻

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