Bullock e seus filhos: apenas um "feel good movie".
Sabe quando você chega no McDonald's e vê aquele cartaz com o funcionário do mês? Pois é, às vezes a Academia de Hollywood resolve premiar seu funcionário do ano. Ano passado foi um ano de alardeada crise nas bilheterias. A crise econômica mundial (aquela da marolinha do Lula, lembra?) prometia massacrar vários filmes candidatos a campeões de bilheteria. No meio do verão americano entre os fracassos uma atriz ressurgia após um período de fracassos pessoais. Sandra Bullock com a comédia A Proposta mostrava ser uma comediante de mão cheia interpretando uma megera que pedia seu assistente em casamento para que não fosse mandada de volta ao Canadá. Nada muito original, mas o custo modesto de produção acoplado à uma graça mais cool do que Bullock estava acostumada conquistou o público, o filme se tornou um sucesso sem efeitos especiais ou sanguinolência. Não bastasse esse sucesso, Bullock teria outro ao chegar o final de 2009, The Blind Side ficou entre os filmes mais vistos nos EUA por meses e lhe deu uma vaga na indicação ao prêmio de Melhor Atriz Dramática no Globo de Ouro (ela ainda foi indicada como Atriz de Comédia por A Proposta). No início ela era considerada o azarão da categoria, mas quando derrotou suas concorrentes na categoria ela era apontada como a favorita ao Oscar - o qual acabou ganhando também. Foi merecido? Bem, se analisarmos que Bullock se tornou um símbolo de sintonia entre uma estrela e seu público, convertendo tudo isso em ingressos vendidos, ela mereceu mesmo. Dois sucessos num ano de recessão não é para qualquer um, especialmente uma atriz - já que por mais que finjam, Hollywood ainda é uma terrinha machista. Nessa semana eu vi The Blind Side, por aqui chamado de Um Sonho Possível, propositalmente esperei toda a poeira baixar e as possíveis críticas à Bullock se dissiparem em meu inconsciente e... posso dizer que o filme é confortável como um chinelo velho. A trama do garoto negro e pobre (Quinton Aaron) que é adotado por uma família de classe média já foi contada dezenas de vezes (talvez centenas), mas o truque da produção é ter seu foco na mulher que decide adotá-lo. Bullock interpreta Leigh Anne Touhy, uma mulher cristã (o filme apela para esse elemento diversas vezes), casada e com um casal de filhos (o menino caçula recebe com dotes esmpresariais recebe mais destaque do que a mocinha que faz sua filha). A mãe adotiva tem uma forma muito especial de dominar o que está ao seu redor, inclusive o treinador de seu filho adotivo, já que o rapagão está prestes a se tornar um grande jogador de futebol americano, como sabemos ao descobrir que o filme é baseado numa história real. O filme não traz novidades a um gênero desgastado e sem sua estrela provavelmente teria passado em branco nos cinemas, não chegando nunca a uma das dez vagas do Oscar de Melhor Filme (um exagero), mas é o tipo de filme que fará o maior sucesso na sessão da tarde. Mesmo que arranhe temas sociais espinhosos (preconceito, violência...) tudo está bem longe de incomodar. No fim das contas, Bullock se aproveita dos momentos cômicos de sua personagem para aproximar o público e deixar o filme bem longe do tom pezaroso de Preciosa (outro indicado ao Oscar cujo a atriz principal, Gabourey Sidibe, merecia mais prêmios do que ela, mas era negra, obesa e desconhecida demais para a Acadmia). Seria maldade dizer que Sandra não está correta no filme, assim como seria cruel lembrar que ela ganhou o framboesa de ouro de pior atriz no mesmo ano que ela levou o Oscar para a casa. Vamos ver o que ela fará daqui para frente quando ver sua estatueta na estante.
Um Sonho Possível (The Blind Side/EUA-2009) de John Lee Hancock com Sandra Bullock, Tim McGraw, Quinton Aaron e Kathy Bates. ☻☻
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