Os três amigos: admirável bobagem.
Eu sou um dos que não foi ao cinema ver E aí, Comeu? Como eu poderia dar crédito a um filme que se entitula dessa forma? Enquanto o filme ultrapassava a marca de um milhão de espectadores (o que tem acontecido bastante com as comédias brasileiras de tom mais escrachado) eu ouvia as críticas positivas e negativas (onde eu percebia um surpreendente equilíbrio). Eis que com a chegada do filme nas locadoras eu me deparei com ele e, num acesso de curiosidade mórbida aceitei o desafio auto-imposto de ouvir as baixarias de Bruno Mazzeo & Cia. O mais curioso é que eu não sei se minhas expectativas eram tão baixas ou se as pessoas realmente não gostaram do filme que toparam assistir, o fato é que o filme me fez rir em alguns momentos (me fez sentir constrangido em outros, mas abordo isso depois). Além disso, é bem filmado! Não é todo dia que vemos um filme produzido pela Globo Filmes com atores globais e que não parece programa da Globo. O cineasta Felipe Joffily tem uma preocupação com os enquadramentos e planos que mostram que estamos de fato diante de uma obra de cinema, além disso investe em cenas delirantes que são menos comuns do que deveria nesse tipo de comédia (ainda que seu cinema ainda seja mais pretensioso do que inovador). Quanto à baixaria, o que poderiamos esperar de um filme protagonizado por três amigos que conversam sobre sexo numa mesa de bar? Apesar do palavrãometro atingir o ápice logo no início, aos poucos o filme encontra sua trama e para de posar de bad movie, explorando alguns aspectos que são vastamente conhecidos do sexo masculino e feminino - chegando a investir em algumas fibras emotivas do trio protagonista. Acho que o maior erro de Joffily é não confiar na história que pretende tocar e mascará-la nos minutos iniciais com alguns dos diálogos mais bobos do cinema. Depois o filme investe em piadinhas que fazem referências variadas à famigerada guerra dos sexos - elas vão desde momentos gastos como o marido que vai comprar sapatos com a esposa e, enquanto ela pede uma opinião sobre os pares, ele se distrai com o futebol até momentos mais elaborados como a discussão sobre ter sexo com uma mulher inteligente (e o efeito delas lerem Freud). Existem piadas sexuais que funcionam mais do que o esperado (como a impagável cena com Ana Paula 'Tarja Preta' e sua transa com medo se ser multada) e outras piadas que parecem estar ali só para preencher o tempo (como os comentários sobre as mulheres totalmente depiladas). Talvez a necessidade de fazer rir tenha feito o roteiro investir em piadas que nem sempre funcionam (aquela descrição sobre sexo oral soa totalmente cretina e desnecessária) para disfarçar os conflitos amorosos dos personagens. Fernando (Mazzeo) é o homem recém divorciado e que flerta com a vizinha de dezessete anos (a magrela Laura Neiva), Honório (Marcos Palmeira) é o homem casado em crise com a esposa (Dira Paes) e com três filhas para criar. Ele prefere encher a cara com os amigos do que sair com a esposa ou até conversar com ela sobre suas suspeitas sobre os passeios noturnos dela. Nessa crise, a atração de Afonsinho (Emílio Orcciolo Netto) por mulheres casadas (ou prostitutas) o deixa ainda mais preocupado com o comportamento da esposa. Para costurar a história está Seu Jorge fazendo o papel de um garçom que parece... o Seu Jorge (?!). Na verdade, o filme é sobre três personagens aprendendo a lidar com seus sentimentos, claro que isso não é dito com essas palavras, mas está no texto o tempo inteiro, desde o momento em que expõem suas máscaras machistas até o momento em que percebem que não vão deixar de ser machos se desejar apenas uma mulher. Ainda que seus relacionamentos sejam desenhados a partir de clichês manjadíssimos (um gosta da ninfeta, o outro quer tirar uma prostituta do ofício e o outro morre de medo de ter um par de chifres), E aí, Comeu? Tenta disfarçar que é uma comédia romântica como todas as outras, mas não consegue. O mais interessante é que sendo voltado para o sexo masculino, o filme apresenta noventa porcento das personagens femininas sendo mais espertas que os homens - enquanto nos filmes do gênero, voltados para a mulherada, elas são sempre mostradas como umas patetas.
E aí, Comeu? (Brasil/2012) de Fellipe Joffily com Bruno Mazzeo, Marcos Palmeira, Emílio Orcciolo Netto, Dira Paes, Laura Neiva, Taina Müller e Juliana Schalch. ☻☻
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