Madds e Anna: músicas demais e personagens de menos.
De vez em quando um diretor resolve fazer um filme quase experimental, o resultado geralmente é mais estranho do que propriamente interessante. A coisa fica ainda mais complicada quando esse "experimento" envolve dois personagens reais na cinebiografia de um polêmico romance. Coco Chanel & Igor Stravinsky é quase uma sequência involuntária de outro filme sobre a famosa estilista francesa. Se Coco Antes de Chanel (2009) conseguiu alguma projeção com os romances de Coco (personificada por Audrey Tautou), o mesmo não se pode dizer deste filme. Talvez seja proposital que a história deste aqui comece exatamente onde termina o outro - com a morte do amante de Chanel conhecido como Boy. Neste filme, Coco (a belíssima Anna Mouglays) já se tornava conhecida e gozava de alguma influência na alta sociedade francesa. Em 1913 ela se vestia como uma (elegante) viúva enmquanto assiste a um desastroso balé com música de Igor Stravinsky (Madds Mikelsen), que considera os movimentos dos dançarinos uma ridicularização de sua intensidade musical (o irônico é que torna-se muito engraçado, mesmo). A plateia fica descontente, Stavisnky tem vontade de matar quem preparou aquele espetáculo e Coco sente-se atraída pela energia rítmica do compositor russo. Incompreendido por todos, Stravinsky sente-se desolado e Coco resolve apoia-lo numa espécie de retiro em sua mansão - para onde ele vai carregando a esposa e os filhos. Como o título já anuncia, o filme está fadado ao romance - e nas entrelinhas podemos observar o processo de elaboração da fragância Chanel 5 e o processo de criação de Stravinsky. Mas tudo fica pelo meio do caminho. Explorar a relação de duas personalidades tão vigorosas em seus ofícios poderia render um filme interessante, mas não é isso que vemos. O diretor Jan Kounen opta por deixar as personalidades de ambos meio de lado e explorar a relação de ambos através de poucos diálogos e muita música. A ideia até funciona de início, mas vai cansando o espectador conforme se arrasta as duas horas de duração do filme. O bom dinamarquês Madds Mikelsen faz o que pode e consegue criar um tipo interessante para o artista introspectivo - entre a culpa do adultério e o desejo por Coco ele consegue dar alguma vida aos conflitos sugeridos no roteiro. Já Anna Mouglais é um colírio, mas compreende a personagem mais como uma manequim do que como uma personagem. Parece que todo o seu esforço foi para fazer poses para a câmera enquanto destrata os personagens ao seu redor. Diálogos como o momento em que Stravinky diz à amante "você não é uma artista, é apenas uma comerciante" mostram que o filme poderia ter investido mais na tempestuosa relação de ambos diante de um romance tórrido numa casa em que a esposa dele e os filhos estavam no quarto ao lado. Apesar das belas imagens, a trama corre frouxa até o final melancólico. No fim, o filme cumpre menos do que promete. Com figurinos bem cuidados, bela fotografia, trilha sonora caprichada, ousadas cenas de sexo e um bom ator em cena, Jan Kounen desperdiçou a chance de fazer sua obra-prima ao tropeçar na própria pretensão. Só me pergunto, qual o problema de fazer um filme sobre moda tendo Coco Chanel no centro da trama? Parece que existe um pudor inexplicável de abordar a personagem pelo campo que a tornou famosa para desperdiçar tempo com intrigas amorosas.
Coco Chanel & Igor Stravinsky (França/Japão/Suíça-2009) de Jan Kounen com Madds Mikelsen, Anna Mouglais, Elena Morozova e Anatole Taubman. ☻
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