quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

DVD: Poder Paranormal

Murphy: brincando de Arquivo X. 

Não sei como vocês tem lidado com filmes metidos a ter finais surpresas, mas eu já estou de saco cheio dessa palhaçada. Some isso ao fato da avalanche de filmes com "paranormal" no título que a coisa só piora! Lembro quando vi o trailer de Poder Paranormal e fiquei até animado com algumas cenas - especialmente pelo elenco: Robert DeNiro, Sigourney Weaver e  Cillian Murphy. O diretor Rodrigo Cortés foi mais do que eficiente no claustrofóbico Enterrado Vivo (2010), mas aqui ele prefere fazer um suspense irregular que evidencia sua ingenuidade como autor e diretor. Existem cenas e diálogos em que um pouco mais de pulso não faria mão ao clima desejado em cena. Há tantas explicações e divagações sobre os eventos paranormais investigados pelos personagens que a coisa começa a ficar repetitiva antes da metade e o que interessa parece nunca entrar em cena. Cortés já diz logo ao que veio desde o início, quando o personagem de Murphy afirma que o grande truque do ilusionista é desviar o olhar da plateia do ponto em que está realizando a sua mágica (ok, já ouvi isso antes). Murphy encarna Tom Buckley o assistente nas pesquisas da renomada Margareth Matheson (Weaver), uma cética estudiosa que busca explicações para os fenômenos paranormais que aparecem em seu caminho. Embora tenha explicação para tudo, o clima fica estanho quando um célebre cego paranormal chamado Simon Silver (DeNiro) aparece depois de trinta anos de reclusão e as especulações sobre sua figura polêmica começam a aparecer na mídia. Tudo aponta para um confronto de Matheson com Silver, mas ela aparentemente foge desse aguardado encontro - embora Buckley a pressione para que isso aconteça. Cortés ainda tempera sua trama com toques religiosos (caminho aberto pelo filho de Margareth, que vive através de aparelhos há anos) e simbologias sobre a busca por uma verdade - que pode causar conforto de uma forma e de outra pela fé ou pela dúvida. Embora o elenco seja eficiente - o filme ainda conta com Elizabeth Olsen (a melhor atriz da família Olsen como um flerte de Buckley), Toby Jones como um pesquisador que faz o oposto da dupla Buckley/Matheson e Joely Richardson como a agente de Silver - o roteiro dá mais voltas do que deveria para chegar onde queria. Entre eventos inexplicáveis que parecem golpes, alguns sustos e mortes misteriosas, o filme até consegue prender a atenção do espectador que quer saber o que está  acontecendo. A satisfação deveria ficar por conta do final SURPRESA que pode agradar tanto quanto decepcionar. Eu me decepcionei, mas acredito que há quem goste de ser feito de bobo por quase duas horas. 

Poder Paranormal (Red Light/EUA-2012) de Rodrigo Cortés com Cillian Murphy, Sigourney Weaver, Robert DeNiro, Elizabeth Olsen, Joley Richardson e Toby Jones. ☻☻ 

CATÁLOGO: Nina

Nina: meio gótico, meio psicodélico, meio russo e paulistano...

Às vezes eu queria saber onde é que está escrito que filme brasileiro não pode ser visualmente estimulante. É cansativo ver o cinema nacional se dividir, na grande maioria das vezes, em produções com cara de especial da Globo e outras com cara de filmes amadores (vi alguns que preferi nem citar por aqui, até meu sobrinho de oito anos faz coisa mais interessante com uma câmera na mão). Raros são aqueles que buscam uma estética diferente ou se arrriscam em histórias que desafiam a mesmice. Foi isso que aconteceu com Heitor Dhalia em sua estreia em 2004 com o bem vindo Nina. Dhalia é um dos poucos diretores nacionais que se preocupa bastante com a estética dos filmes. Foi assim na esquisitice de seu trabalho seguinte (O Cheiro do Ralo/2006) e na limpidez do nostálgico À Deriva (2009). Desde o tom sombrio de Nina, percebemos que o diretor odeia a mesmice no seu trabalho. O filme foi gerado como uma adaptação livremente inspirada no clássico Crime e Castigo do russo Fiódor Dostoiéski. Se no livro (lançado em 1866) a trama girava em torno do estudante de direito perseguido por uma agiota - e depois pelos conflitos por conta de  um assassinato - a trama de Dhalia é em torno da jovem que dá nome ao filme. Guta Stresser (a Bebel de A Grande Família) aparece como uma garota que vive em São Paulo distante da família (seu contato com os parentes acontece apenas através de cartas). Sua vida é dividida entre o  trabalho numa lanchonete e as festinhas regadas à música eletrônica e luzes coloridas. Apesar de metida a morderninha, Nina tem lá os seus pudores (por exemplo: não transar com um homem com tatuagem de smurf) e seus compromissos com a vida na cidade grande. A maior pedra no sapato da personagem é Eulalia (a estupenda Myriam Muniz), sua intragável senhoria. Com os atrasos constantes de aluguel do quartinho em que vive, Eulalia começa a maltratar sua inquilina. Sendo humilhada constantemente e impossibilitada de sair do apartamento enquanto não pague o que deve com juros e correção monetária, Nina começa a nutrir  grande raiva pela velha senhora - que se esforça para ser odiosa em todos os sentidos.  Considero louvável que embora pudesse ser mostrada como vítima, a protagonista tem lá os seus caprichos  - como destratar os clientes do trabalho, debochar de um cego enquanto este tenta seduzí-la (em participação memorável de Wagner Moura) ou rejeitar a ajuda financeira de uma amiga. Essa postura de Nina com o mundo ao seu redor mostra como lida de forma superficial com as relações (prova disso é a personagem da sempre subestimada Sabrina Greve que apresenta um carinho especial pela amiga, mas nunca recebe muita atenção). Nina prefere gastar o tempo desenhando (cortesia das obras de Lourenço Mutarelli, autor de Cheiro do Ralo)  e tendo delírios em que mata a senhoria de formas diferenciadas.  A estética do filme é um primor. Do início "bolorento" (que remete ao apartamento decadente de Eulalia) passando pela mistura do psicodélico com o obscuro, o filme consegue ter nessa roupagem moderna para um clássico. Se Stresser está um exagerada, Myriam Muniz está espetacular como uma contemporânea Aliena Ivánovna que persegue a protagonista como um fantasma capaz de personificar as injustiças da sociedade de consumo e até uma espécie de depotismo urbano. Embora se concentre mais na primeira parte da obra de Dostoiévski, o filme de Dhalia consegue ser instigante e contar com uma série de participações especiais encarnando as pessoas que cruzam o caminho de sua heroína. Se você se decepcionou com a empreitada hollywoodiana do diretor pernambucano (o pífio 12 Horas com Amanda Seyfried) vale a pena relembrar o gás desta estreia promissora.

Nina (Brasil/2004) de Heitor Dhalia com Guta Stresser, Myriam Muniz, Wagner Moura, Guilherme Weber, Luiza Mariani, Seltom Mello, Sabrina Greve e Renata Sorrah. ☻☻☻

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

DVD: Na Estrada

O elenco: boas atuações em fraca adaptação. 

Talvez por viver entre o cinema brasileiro e o internacional o diretor Walter Salles sinta-se tão atraído pelos chamados road movies. Acho que ele se identifica com essa sensação de ir e vir, essa inquietação de buscar algo que quer dizer mais sobre você do que os lugares por onde passa. Não sei se essa é a intenção real desse tipo de filme, mas é sempre a impressão que tenho quando assisto filmes do gênero. Salles tem dois de seus filmes mais célebres ambientados em aventuras em estradas: Central do Brasil (1998) que colocou seu nome no circuito internacional cinematográfico e Diários de Motocicleta (2004) que conseguiu dar uma leitura reveladora sobre o jovem Che Guevara. No entanto, tudo que esses dois filmes possuem de interessante e emocionais foi deixado de lado quando Walter teve a coragem de aceitar a proposta de levar para as telonas o clássico On The Road (no Brasil conhecido como Pé na Estrada) de Jack Kerouac. Publicado em 1957, quando o sonho americano dava sinais de desgaste e o american way of life estava prestes a se deparar com o nascimento da cultura hippie e outros movimentos de contracultura, a obra se tornou uma espécie de bíblia da cultura beat. Sua narrativa em formato de jorro mental conquistou tantos fãs (que percebiam tudo que a obra tinha de inovadora) como também conseguiu a ira dos mais conservadores (que consideraram o livro imoral pela forma com que retratava o sexo, o homossexualismo e as drogas). Essa relação do período em que se passa a história é primordial para entender do que se trata o livro e seus personagens. Quem leu a obra sabe perfeitamente o que tudo que está ali quer dizer, no entanto, quando o filme transforma a narrativa de Kerouac em imagens a coisa complica. Apesar de todo o cuidado com as locações e enquadramentos, o filme de Salles é brutalmente entediante, sendo que o único ponto em que mantem o interesse do espectador é o elenco que consegue defender seus personagens com bastante eficiência - pena que eles devem lidar com uma sucessão de cenas em que sexo e drogas aparecem a todo instante sem que  o roteiro explore o universo que está ao redor do escritor Sal Paradise (Sam Riley) e seu amigo Dean Moriarty (Garrett Hedlund). A relação de cumplicidade entre os dois é bem explicita, mas gira em torno de um eixo frouxo. Na relação de Dean com a esposa (Kirsten Dunst) ou com a jovem namorada Marilou (Kirsten Stewart no papel mais serelepe de sua carreira) o rapaz aparece apenas um garanhão que serve de inspiração para o tímido Sal. As viagens de Dean, Sal e Marilou nunca conseguem arrebatar o público, ficando apenas no nível do voyeurismo paciente do espectador. Com a descontextualização da obra, fica apenas sobra apenas o estranhamento diante do marmanjo que deixa a esposa (Elizabeth Moss) na casa de uma mulher que varre lagartos das árvores (Amy Adams, doidona) e seu esposo alucinado (Viggo Mortensen), o motorista que não gosta de mulher (Steve Buscemi) que instiga o lado mais liberado de Dean - mas que Sal não consegue desbravar por conta própria entre outros tipos curiosos. Com intermináveis 124 minutos de duração, o filme não consegue empolgar numa sucessão de situações isoladas e fragmentais. Embora o elenco se esforce (e Hedlund tem cenas espetaculares em que exibe as emoções que estão por baixo da inconsequência de de Dean) o filme não consegue achar o rumo, exemplo disso é a forma desleixada como lida com a busca pelo pai de seu personagem que nunca se aprofunda. Além disso, a trilha sonora jazzística insistente não consegue ser mais do que irritante. Entendo as mudanças na transposição do livro para a tela, compreendo a tentação de ressaltar como Sal é o alter ego de Kerouac e que ser Dean (pseudonimo para Neal Cassady) era seu sonho de consumo, mas o filme revela quase nada do que fez  On The Road uma obra cultuada. Salles deveria ter visto o que Rob Epstein e Jeffrey Friedman fizeram com a adaptação Uivo (2010) de Allen Ginsberg (que aparece em Na Estrada com o nome de Carlo Marx) - filme baseado num livro lançado no mesmo ano e que consegue captar a conexão da obra e seu autor com o período em que foi publicada - evidenciando simbologias e angustias com sentimentos presentes na juventude de qualquer tempo. Já, Na Estrada é um filme que vai do nada ao lugar algum. 

Na Estrada (On The Road/EUA-França-Reino Unido-Brasil/2012) de Walter Salles com Garrett Hedlund, Sam Riley, Kristen Stewart, Amy Adams, Tom Sturridge, Elizabeth Moss, Viggo Mortensen, Kirsten Dunst e Alice Braga. 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

GANHADORES DO OSCAR 2013

Os ganhadores: a Academia zela pelo equilíbrio

Neste ano o Oscar pareceu querer agradar a todo mundo, até a apresentação de Seth MacFarlane foi mais inofensiva do que eu esperava (aquela piada com Capitão Kirk começou engraçada até se estender demais), apesar dele exagerar nas piadinhas sobre o uso de drogas e ações vexatórias aos convidados (o que foi aquela canção no final sobre os perdedores?). Qual é a graça de constranger os convidados queridos do público? Apesar disso percebi o Oscar mais musical do que nunca, mas não achei de bom tom as canções indicadas serem apresentadas somente se pudessem ser defendidas por estrelas (o elenco de Os Miseráveis, Norah Jones ou Adele), os outros acabaram sendo exibidos como clipes modestos - isso depois de Shirley Bassey, Jennifer Hudson e a trupe de Chicago ganharem bastante destaque. Porém, a noite conseguiu me surpreender em algumas categorias. Eu não duvidava que Argo fosse levar o prêmio de melhor filme, mas não imaginava que Christoph Waltz tinha cacife para emendar dois prêmios de coadjuvante em tão curto espaço de tempo em suas parcerias com Quentin Tarantino! Gostei ainda de ver Jennifer Lawrence sair consagrada aos 22 anos perante a Academia (prevejo um futuro de ouro para essa garota!) e até pelas unanimidades Daniel Day Lincoln  Lewis e Anne Hathaway. A melhor surpresa da noite ficou por conta de Ang Lee que levou o prêmio de direção por As Aventuras de Pi! Algo já me dizia que Spielberg teria dificuldades de ganhar seu terceiro prêmio de diretor - mesmo com Ben Affleck fora do páreo. Apesar disso, o resultado foi mais parecido com o Globo de Ouro do que eles gostariam. A seguir os ganhadores do Oscar 2012 com meus singelos comentários e  ☻ marcando os meus acertos. 

Melhor filme: Argo 
Melhor direção: Ang Lee (As Aventuras de Pi)(a melhor surpresa da noite!)
Melhor ator: Daniel Day-Lewis (Lincoln)

Melhor atriz: Jennifer Lawrence (O Lado Bom da Vida)

Melhor ator coadjuvante: Christoph Waltz (Django Livre)
(dá para acreditar?)
Melhor atriz coadjuvante: Anne Hathaway (Os Miseráveis)
Melhor roteiro original: Django Livre (Quentin Tarantino)

Melhor roteiro adaptado: Argo (Chris Terrio)
☻ 
Melhor filme estrangeiro: Amor (Áustria)

Melhor filme de animação: Valente (não vejo nada de especial no filme) 
Melhor fotografia: As Aventuras de Pi

Melhor edição: Argo

Melhor design de prod
ução: Lincoln (O mais indicado só levou dois...)   
Melhor figurino: Anna Karenina 
Melhor maquiagem e cabelo: 
Os Miseráveis
(por sujar e descabelar o elenco)
Melhor trilha sonora original: As Aventuras de Pi (foi mais merecido que meu palpite!)
Melhor canção: Skyfall (007 Operação Skyfall)

Melhor edição de som: A Hora Mais Escura/007 Operação Skyfall
(raro empate)
Melhor mixagem de som: Os Miseráveis 

Melhores efeitos visuais: As Aventuras de Pi

Melhor documentário: Searching for Sugar Man (esse eu palpito no escuro)
Melhor documentário curta: Inocente (Idem)
Melhor curta de ficção: Curfew (Idem)
Melhor curta animado: Paperman

Total de acertos: 14 de 24
Voltei ao número de acertos de 2011! Fui pior do que ano passado (17 de 24). Prometo que ano que vem eu melhoro de verdade! Antes de terminar, vale a pena lembrar o placar da noite - e As Aventuras de Pi foi o mais premiado, quem diria!!

As Aventuras de Pi: 04   
Argo: 03 
Os Miseráveis: 03  
007-Operação Skyfall: 03 
Lincoln: 02 
Django Livre: 02 
O Lado Bom da Vida: 01       
Amor: 01       
A Hora Mais Escura: 01
Anna Karenina: 01 

domingo, 24 de fevereiro de 2013

PALPITES PARA O OSCAR 2013


Chegou o dia do veredicto final da temporada de ouro de Hollywood! E a grande pergunta é se as 12 indicações de Lincoln irão garantir a vitória sobre Argo (7 indicações)? Faz tempo que não vejo indicados que conseguissem chamar tanta atenção do público! Num ano de lançamentos fraquíssimos (parece cada vez pior), o final de ano mostrou que a tendência de lançar filmes importantes ao final do ano se tornou mais forte nos últimos anos, ou seja, até setembro, nós vemos numa avalanche de comediotas, paródias, reciclagens, continuações e adaptações de HQs para depois os estúdios começam a liberar os seus trunfos para ganhar prestígio da indústria. Não vou nem comentar que o Oscar legitima mais uma vez o Festival de Cannes colocando Amour e Indomável Sonhadora entre os indicados a melhor filme! Espero que eu acerte mais do que ano passado (17 acertos de 24 palpites):

Melhor filme: Argo
Melhor direção: Steven Spielberg (Lincoln)
Melhor ator: Daniel Day-Lewis (Lincoln)
Melhor atriz: Jennifer Lawrence (O Lado Bom da Vida)

Melhor ator coadjuvante: Philip Seymour Hoffman (O Mestre)
Melhor atriz coadjuvante: Anne Hathaway (Os Miseráveis)
Melhor roteiro original: Django Livre (Quentin Tarantino)
Melhor roteiro adaptado: Argo (Chris Terrio)
Melhor filme estrangeiro: Amor (Áustria)
Melhor filme de animação: Detona Ralph
Melhor fotografia: As Aventuras de Pi
Melhor edição: Argo
Melhor design de produção: Anna Karenina
Melhor figurino: Anna Karenina
Melhor maquiagem: 
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
Melhor trilha sonora original: Lincoln
Melhor canção: Skyfall (007 Operação Skyfall)
Melhor edição de som: Argo
Melhor mixagem de som: Os Miseráveis
Melhores efeitos visuais: As Aventuras de Pi
Melhor documentário: The Invisible War
Melhor documentário curta: Open Heart
Melhor curta: Henry
Melhor curta animado: Paperman

INDICADOS AO OSCAR 2013: Melhor Filme

Amor (Amour) conta a história de Georges e Anne, um casal de aposentados que costumava dar aula de música. Com uma filha musicista que mora em outro país o casamento de ambos será testado quando Anne tiver um derrame que deixará parte de seu corpo paralisado. Ganhador da Palma de Ouro em Cannes, o filme de Michael Haneke é a versão lírica de seus filmes mais árduos. O filme concorre em cinco categorias: Filme, diretor (Haneke), atriz (Emmanuelle Riva), roteiro original e deve levar somente o de filme estrangeiro depois das vitórias do conterrâneo O Artista no ano passado. 

Argo é o terceiro filme dirigido por Ben Affleck e se tornou o seu maior sucesso atrás ou diante das câmeras. O filme sobre a inusitada operação de resgate da CIA aos funcionários da embaixada americana no Irã no ano de 1980 é tão inacreditável que somente nas mãos certas iria funcionar. O casamento bem sucedido entre tensão e ironias rendeu sete indicações ao Oscar: Filme, ator coadjuvante (Alan Arkin), roteiro adaptado, edição, trilha sonora, edição de som e mixagem de som. Já somando cinquenta prêmios no currículo, o filme ficou de fora da categoria de direção (menos mal que Affleck ganhará como produtor) mas deve ganhar o reconhecimento da Academia como sua cereja no bolo. 


As Aventuras de Pi  (Life of Pi) é adaptado do livro de Yann Martel (que quando publicado foi acusado de plágio da obra do brasileiro Moacir Scliar) e rendeu um dos filmes em 3D mais poéticos de que se tem notícia. A história do jovem indiano que após um naufrágio tenta sobreviver num barco ao lado de um tigre de bengala transcende o uso de efeitos especiais e está indicado em 11 categorias: filme, direção (Ang Lee), roteiro adaptado, fotografia, efeitos especiais, edição, trilha sonora, canção original, direção de arte, mixagem de som e edição de som. Apesar do sucesso o filme deve ganhar somente categorias técnicas. 

Django Livre comprova que o liquidificador de referências de Quentin Tarantino continua funcionando a todo vapor. O filme conta a história de um escravo liberto que arma um plano para resgatar sua esposa que trabalha para um fazendeiro malévolo.  A violência estilizada e total ausência de precisão histórica agradou aos fãs do diretor, a crítica e a Academia, já que o filme concorre em cinco categorias: Filme, ator coadjuvante, edição de som, fotografia e tornou-se o favorito na categoria de melhor roteiro original. 

A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty) Houve uma época em que o novo filme de Kathryn Bigelow tornou-se o favorito ao Oscar, mas esse tempo durou poucas semanas quando o filme começou a gerar polêmica sobre sua visão de como foi orquestrada a operação de capturar Osama Bin Laden - especialmente pelo uso de tortura (como se alguém acreditasse que ela não ocorreu). As polêmicas acabaram custando a indicação da diretora, mas o filme concorre em categorias nobres como (filme, atriz-Jessica Chastain e roteiro original), além de edição e edição de som. 

Indomável Sonhadora (Beasts of Southern Wild) exibido, aclamado e premiado em Cannes, o filme de Behn Zeitlin conseguiu se tornar um dos destaques da noite com seu tom de fábula e crítica social. A história de uma menina encantadora que precisa ajudar a região onde mora depois de uma enchente se tornou um dos filmes mais queridos do ano. Talvez o filme não leve nada, mas já entrou para a história por ter a mais jovem candidata ao Oscar de atriz: Quvenzhané Wallis de apenas oito anos. O filme ainda concorre nas categorias de direção (Zeitlin) e roteiro adaptado, num total de quatro categorias. 

O Lado Bom da Vida (Silver Linnings Playbook) prova que David O. Russel gosta mesmo é de fazer comédias - e de preferência com personagens complicados. Esta comédia romântica protagonizada por uma garota problemática que ajuda um homem bipolar a colocar a vida nos eixos já ganhou vários elogios e prêmios e deve levar alguma das oito categorias a que concorre neste ano: Filme, direção (Russell), ator (Bradley Cooper), atriz (Jennifer Lawrence), ator coadjuvante (Robert DeNiro), atriz coadjuvante (Jacki Weaver), roteiro adaptado e edição. Se você perceber o filme é o único que concorre em todas as cinco categorias principais - seria um sinal?

Les Misérables é a sexta adaptação que a obra de Vitor Hugo recebeu para o cinema (se somarmos com as feitas para TV serão nove!). Desta vez a empreitada ficou com um visual ainda mais ambicioso sob a assinatura de Tom Hooper - em seu primeiro filme depois do Oscar por O Discurso do Rei (2010). O musical feito a partir das mazelas francesas do século XIX conta a história de Jean Valjean que é perseguido pelo sistema enquanto tenta seguir sua vida cuidando a filha adotiva Cosette. Além da categoria de melhor filme, o longa ainda concorre nas categorias ator (Hugh Jackman), atriz coadjuvante (Anne Hathaway),  figurino, maquiagem, melhor canção, direção de arte e mixagem de som. 

Lincoln é a visão de Steven Spielberg sobre um momento crucial na vida do presidente americano. Sendo o mais indicado da noite, o filme confirma o gosto da Academia por Spielberg filmando épicos históricos, no entanto, o filme tem uma grande pedra em seu sapato: Argo.    O filme concorre ao careca dourado nas categorias filme, direção (Spielberg), ator (Daniel Day Lewis), ator coadjuvante (Tommy Lee Jones), atriz coadjuvante (Sally Field), roteiro adaptado, mixagem de som, direção de arte, trilha sonora, edição, figurinos e fotografia. Certeza mesmo só na categoria de Melhor Ator, porque acho que a Academia não deve dar o terceiro Oscar de direção para Spielberg. 

O ESQUECIDO: AS SESSÕES Eu poderia colocar aqui 007 Operação Skyfall, mas conhecendo a política da Academia com filmes de ação eu já imaginava que estaria fora do páreo. Esse não era o caso de As Sessões, o tipo de filme que pensei que seria coberto de indicações por lidar de forma tão espirituosa com temas espinhosos. A história do deficiente que deseja perder a virgindade antes de morrer e contrata uma terapeuta diferente (Helen Hunt, a única lembrada pela Academia) merecia aparecer pelo menos nas categorias de filme, direção,  ator (John Hawkes, estupendo), ator coadjuvante (William H. Macy) e roteiro adaptado. Sendo indicado somente em uma categoria (que provavelmente não ganhará) o filme entra para o grupo de esquecidos pela Academia. 

sábado, 23 de fevereiro de 2013

CATÁLOGO: Medo da Verdade

Amy, Casey e Michelle: promissora estreia de Ben Affleck na direção. 

Ben Affleck estava numa fase tão ruim que os fãs de Dennis Lehanne tinham calafrios em imaginar o que ele poderia fazer com a adaptação cinematográfica de Gone Baby Gone. Os tempos em que era querido pelos indies por suas parcerias com Kevin Smith estava longe, muito longe. O namoro confuso com Jennifer Lopez também não ajudou - e suas atuações se tornavam cada vez mais canastronas. Quando começou o namoro com Jennifer Garner a vida pessoal parecia voltar aos eixos. Affleck nem parecia que havia recebido o Oscar de roteiro original pela parceria com Matt Damon em Gênio Indomável (1997), estava tão desacreditado por suas atuações claudicantes que sua carreira parecia ir para a gaveta. Ele até ficou otimista quando ganhou o (questionado) prêmio de ator em Veneza por Hollywoodland (2006), chegou a ser indicado ao Globo de Ouro por sua atuação como George Reeves, mas o Oscar achou que não era para tanto. Com algum crédito com o prêmio, ele resolveu encarar seu primeiro trabalho na direção de um longa metragem (antes já havia dirigido em 1993 o curta "I Killed my Lesbian Wife...") e o resultado pegou muita gente de surpresa. No filme, Affleck mostra-se bastante eficiente ao evitar soluções fáceis. Sua estreia tem tem ritmo lento e solene ao abordar o desaparecimento de uma garotinha. No centro da trama estava seu irmão, Casey Affleck, que sempre recebeu bastante simpatia da crítica (e estava no auge com a exibição de O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford em festivais, filme que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de coadjuvante). Casey é Patrick Kensie, um detetive que é contratado junto com a parceira Angela Gennaro (Michelle Monaghan) para encontrar uma menina de quatro anos que foi sequestrada. Ajudando a polícia nas investigações, Kensie tira proveito do fato de morar na região, no entanto, isso acaba tendo seus prós e contras durante o trabalho - já que seu envolvimento com os moradores coloca em risco seus valores éticos. Durante a investigação nem tudo é o que parece, especialmente quando descobrem que a mãe da garota desaparecida (numa aclamada atuação de Amy Ryan, indicado ao Oscar de coadjuvante pelo papel) é mais problemática do que imaginavam - especialmente pelas dívidas com traficantes. Ryan e Ed Harris - que interpreta o policial que instiga Kensie nas investigações -  roubam fácil a cena, já que Casey Affleck opta por uma atuação internalizada e Michelle Monagahn não tem muito o que fazer em cena. Outro rosto conhecido do elenco é Morgan Freeman, que não empolga mas consegue dar força ao final surpreendente. Ainda que no desenvolvimento dos personagens o diretor Affleck não alcance todas as notas que queria (não sei se é culpa dele ou do roteiro escrito em parceria com Aaron Scotckard), existem momentos que demonstram o quanto Affleck sente-se confortável na direção. O diretor consegue criar mudanças algumas mudanças de tom valiosos na narrativa, contrastando momentos arrastados com momentos de grande tensão (será de propósito?). Além do dilema moral ao final (que deixa o espectador com uma interrogação na cabeça por semanas), o filme tem um corte tão brusco na metade da sessão que a partir dali acompanhamos quase outro filme, mais rico e interessante. Além da explorar diferentes atmosferas em sua estreia, Affleck já demonstrava interesse por personagens complexos e a valorização do seu elenco. No entanto, o filme acabou tendo problemas de distribuição por ter muitas semelhanças com o desaparecimento (ainda insolúvel) da menina Madeline. O filme fez com que Affleck conseguisse mais respeito atrás do que diante das câmeras, notou-se que era um diretor preocupado em desenvolver um estilo próprio com ecos dos filmes policiais da década de 1970 - estilo que aprimorou em Atração Perigosa (2010) e chegou ao auge com o recente Argo (2012). 

Medo da Verdade (Gone Baby Gone/EUA-2007) de Ben Affleck com Casey Affleck, Ed Harris, Amy Ryan e Morgan Freeman. ☻☻☻

FILMED+: Argo

Affleck: diretor esnobado no Oscar, só no Oscar...

Às vezes eu demoro para escrever o comentário sobre um filme (só para você ter ideia, a minha lista de filmes vistos e esperando um comentário ultrapassa, atualmente, dez títulos). Alguns se perdem em algum canto da memória e quando revejo escrevo sobre ele. Outros quando vejo eu preciso de um tempo para digerir até que um texto seja produzido. Também existem aqueles que prefiro dar uma outra olhada para ter certeza que não estou sendo vítima de alguma campanha de marketing. Deve ser por isso que somente agora me sinto preparado para escrever sobre Argo, o terceiro longa de Ben Affleck na direção e um dos mais celebrados do ano. Se você perceber, ele entrou na minha lista de dez melhores filmes de 2012 e quase desbancou Drive ao título de meu favorito entre os lançamentos do ano passado em terras brasileiras. O fato é que nunca duvidei que Ben Affleck houvesse construído um ótimo filme. Desde que apareceu o primeiro lampejo sobre Argo na imprensa, o filme recebeu minha atenção com sua trama inacreditável. É visível como em cada filme Affleck tornava-se cada vez mais seguro ao conduzir a trama enquanto manteve firme sua astúcia para escalação de elenco. Affleck sabe como uma estrela sofre para ser levada a sério e, por isso mesmo, gosta de escalar bons atores que nem sempre tem um vasto fã clube. Mais que eficiente na condução das atuações, Ben sempre garantiu uma vaga para seu elenco entre os favoritos da Academia. Foi assim em sua estreia com Medo da Verdade/2007 (onde a mãe maluquete de Amy Ryan lhe valeu vários prêmios e uma indicação ao Oscar de atriz coadjuvante), o feito se repetiu com Atração Perigosa/2010 (que confirmou Jeremy Renner como um ator respeitável - indicado ao prêmio de ator coadjuvante) e agora Alan Arkin como uma raposa de Hollywood sendo indicado ao prêmio de ator coadjuvante. Nem vou comentar que o filme levou para a casa o Prêmio do Sindicato dos Atores de Melhor Elenco, prêmio que acabou ofuscado diante do Globo de Ouro de Melhor Filme e diretor (dobradinha que se repetiu no BAFTA e no prêmio da Crítica Americana). Ben Affleck pode se gabar de criar um dos filmes mais tensos dos últimos anos, com uma narrativa espetacular que mescla drama e humor com uma eficiência raramente vista - auxiliado pela edição absurda de William Goldenberg e um senso estético apurado que recria o final dos anos 1970 e início dos 1980 com precisão. Argo conta a história de uma missão quase suicida de CIA em 1980 para libertar seis funcionários da embaixada americana no Irã depois que esta foi invadida por uma multidão enfurecida. A multidão queria que os EUA devolvesse o exilado xá Reza Pahlevi, que era acusado de cometer crimes contra a população e foi deposto por Aiatolá Khomeine e sua visão conservadora. O filme, obviamente arranha questões políticas, mas deixa essa parte em segundo plano para se dedicar à missão de resgate orquestrada por Tony Mendez (Affleck, num bom momento diante das câmeras). Os seis funcionários fugiram da embaixada do Tio Sam pouco  antes que os manifestantes a invadissem e tomassem cinquenta pessoas como reféns. Os seis funcionários se esconderam na embaixada canadense e era uma questão de tempo para que fossem descobertos. Correndo contra o tempo, Mendez tem a ideia mirabolante de criar um filme de ficção científica a ser filmado no Irã e com locações a serem estudadas. Disfarçado de produtor canadense, Mendez transformaria os "hóspedes" da embaixada canadense em sua equipe de produção e, não fosse esse o plano, os seis teriam que pedalar para fora do país... literalmente! Curioso é como Affleck consegue misturar críticas ao sistema (os altos e baixos da missão devido ao alto escalão do governo americano) e à própria indústria do cinema (com auxílio luxuoso de Alan Arkin e John Goodman que são os consultores para que o filme de ficção científica seja capaz de convencer até mais xiita dos habitantes iranianos). Argo é o nome do filme que serve de disfarce para o resgate, e de fato, seu roteiro existiu nos bastidores de Hollywood (sendo visto como uma cópia descarada de Star Wars), mas nunca saiu do papel. Apesar do humor (que quando parece que vai cair no exagero serve de contraste para alguma cena assustadora), Affleck consegue gerar uma tensão absurda durante o filme e conta com um trabalho de montagem magistral que mescla cenas que, aparentemente, não teriam relação (como a leitura do roteiro estapafúrdio e o telejornal). Sem nunca perder de vista o drama de seus personagens, o filme remete diretamente aos filmes políticos da década de 1970, tanto em sua estética retrô como em seu estilo de narrativa. Indicado a sete Oscars, o filme foi lançado em setembro e manteve sua força para a cerimonia do Oscar que acontece no próximo domingo. Se ganhar será o meu ganhador favorito desde Beleza Americana (1999). Só para terminar, eu queria dizer que sempre achei engraçado as caras que Affleck fazia quando descobria que ganhava um prêmio de Melhor Diretor por Argo, acho que no fundo ele sabe que o que custou sua indicação ao Oscar de diretor foi aquela piadinha do roteiro que compara um diretor a um macaco. Que falta de senso de humor, camaradas...

Argo (EUA-2012) de Ben Affleck com Ben Affleck, Alan Arkin, John Goodman, Bryan Cranston, Tate Donovan, Clea DuVall, Kyle Chandler, Chris Messina e Scoot McNairy. ☻☻☻☻☻

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

INDICADOS AO OSCAR 2013: Melhor Diretor

ANG LEE (As Aventuras de Pi) teve a primeira aparição no Oscar quando O Banquete de Casamento (1993) concorreu ao prêmio de filme estrangeiro - feito que se repetiu no ano seguinte com Comer, Beber, Viver (1994). Isso foi suficiente para que Emma Thompson o convidasse a ir para Hollywood dirigir Razão e Sensibilidade (1995), filme indicado a 7 Oscars, mas que não concorreu na categoria de direção. Lee só concorreu ao Oscar de diretor com O Tigre e o Dragão (2001) - que ganhou o prêmio de filme estrangeiro. A estatueta só veio com Brokeback Mountain (2005), mas pela poesia em 3D de As Aventuras de Pi - sobre um jovem que após um desastre tem que dividir um barco com um tigre de bengala - ele conseguiu sua terceira indicação ao prêmio de direção.

BEHN ZEITLIN (Indomável Sonhadora) já ficou famoso por ser um diretor independente sem um tostão furado. Só por levantar um milhão e meio de dólares para fazer uma obra do quilate deste Beasts of Southern Wild (exibido em Cannes e em evidência até as indicações ao Oscar) ele já merecia reconhecimento.  Antes de tornar-se famoso, Zeitlin trabalhou com animação e em uma escola onde ensinava aos alunos como fazer curtas-metragens - o que é a cara do longa de estreia do filho de um casal de folcloristas urbanos que trabalhava sem fins lucrativos. Além da indicação ao Oscar, o filme lhe deu várias indicações e prêmios de direção - inclusive o prêmio especial de melhor diretor estreante em Cannes.  

DAVID O. RUSSEL (O Lado Bom da Vida) foi indicado a primeira vez ao Oscar em 2011 pelo trabalho em O Vencedor, estrelado por Mark Wahlberg. Tenho a impressão de que nesta comédia romântica, com toques de psicologia, ele resgata o gosto do por comédias diferentes. Foi assim com o clássico indie Procurando Encrenca (1996) e Huckabees (2004), mas aqui ele demonstra um equilíbrio entre comédia e drama como sempre parece ter desejado. Todo mundo sabe que o filme é dedicado ao seu filho, que apresenta alguns dos problemas representados no filme -  e o longa é justamente uma ode às pessoas comuns e suas particularidades imperfeitas. Diretores de comédias não costumam ganhar, mas com Ben Affleck fora do páreo, não vou me assustar se o cara levar o Oscar. 


MICHAEL HANEKE (Amor) não concorreria ao Oscar de melhor diretor nem nos meus maiores delírios cinéfilos. O diretor alemão é famoso por seu estilo árduo e sem concessões (que muitos estão estranhando ao assistir Amor devido às cinco indicações ao Oscar que Amor conseguiu). Quem conhece o diretor de Violência Gratuita (1997) e A Professora de Piano (2001) sabe exatamente o que esperar de um filme sobre um casal de idosos que tenta manter o casamento diante do peso da idade. Com o prêmio de direção em Cannes por Caché (2005), e três filmes que ganharam a Palma de Ouro no festival, o diretor só apareceu no Oscar em 2010, quando A Fita Branca concorreu (e perdeu) o prêmio de filme estrangeiro. 

STEVEN SPIELBERG (Lincoln) já conta 15 indicações ao Oscar, dessas, 7 foram na categoria de direção - sendo que ganhou por A Lista de Schindler (1993) e O Resgate do Soldado Ryan (1998) e concorreu por Contatos Imediatos do 3º Grau (1977), Os Caçadores da Arca Perdida (1981), E.T. (1982), A Cor Púrpura (1995), Munique (2005) e agora por Lincoln - que retrata a luta do 16º presidente americano contra a escravidão em meio à Guerra Civil americana - ou seja, apesar de todas as indicações, a Academia gosta mesmo de seus filmes históricos - e com uma guerra no caminho, só lembrar de Cavalo de Guerra (2011).  Sem Ben Affleck as chances de Spielberg são grandes, mas o fato do filme ser engolido por Daniel Day Lewis e ser velha escola demais a estatueta pode ir para outras mãos.

O ESQUECIDO: Ben Affleck (Argo) já tem um Oscar na estante pelo roteiro original de Gênio Indomável (1997), mas foi responsável pelo maior mico da Academia nos últimos anos. Por Argo (o retrato real de uma missão de resgate no Irã criada pela CIA - que de tão inacreditável só pode ser inspirado numa história real), Affleck já levou para casa vários prêmios de direção (BAFTA, Globo de Ouro, Critics Choice Awards, Prêmio do Sindicato de Diretores...), mas não vai levar o Oscar da categoria porque não foi indicado (mesmo com seu filme sendo o favorito ao prêmio de Melhor Filme e concorrendo em outras seis categorias importantes!!). Argo é o terceiro filme de Ben na direção, antes realizou os elogiados Medo da Verdade (2007) e Atração Perigosa (2010). 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

CATÁLOGO: Gigante de Ferro

Os bons amigos: fábula antibelicista. 

Brad Bird é um dos poucos diretores que conseguiram transitar das animações para os filmes de carne e osso sem perder o fôlego. Se pensarmos que depois dos Oscars por Os Incríveis (2004) e Ratatouille (2007) ele conseguiu realizar Missão Impossível: Protocolo Fantasma (2011), fica até difícil acreditar que que ele tem um fracasso de bilheteria no currículo - e não estou falando de um fracassinho, mas de um fracasso tão avassalador que foi responsável por fechar a divisão de animação de um grande estúdio de Hollywood. A Warner estava confiante quando produziu o primeiro longa metragem de Bird, O Gigante de Ferro. O filme custou 48 milhões de dólares e rendeu pouco mais de 23 milhões de dólares nos Estados Unidos. Uma carreira tão decepcionante para quatro meses em cartaz que o filme teve problemas em conquistar distribuidores ao redor do mundo. Ao contrário do que os números sugerem, o filme tem muitas qualidades, mas já demonstrava que Bird pensava a frente de seu tempo, deixando o filme mais sério do que a maioria das animações lançadas no final do século XX permitia. Bird já percebia que a animação é uma forma de fazer cinema e não apenas filmes infantis. Gigante de Ferro pode ser apreciado pelas crianças, mas suas referências são mais calcadas em uma certa nostalgia que é própria dos adultos. Tanto na ambientação da trama nos anos 1950, passando pela paranoia americana com o fim do mundo, alienígenas e o uso da bomba atômica. Ao misturar esses elementos, o filme mostra-se um eficiente manifesto antibelicista que poucos foram conferir nos cinemas. O filme conta a história do menino Hogarth Hughes que acaba encontrando um robô gigante na floresta. O robô, que parece ser de origem alienígena, começa a desenvolver uma amizade com o menino, demonstrando que - fora o hábito de comer objetos de metal que aparecem no seu caminho - ele é inofensivo. Os dois amigos passam a zelar um pelo outro. Não demora para que o robô seja apresentado à morte e a destruição que as armas podem causar. O gigante parece nem saber que ele mesmo pode se transformar numa arma quando sentir-se ameaçado, especialmente quando começar a ser perseguido pelo exército americano depois dos boatos de um robô gigante na pacata cidadezinha. Com mensagem edificante bem clara (de que podemos escolher aquilo que queremos ser), o filme funciona como bela sessão da tarde e ajuda a repensar a insistência que a mídia tem em mostrar os conflitos apenas por um lado - onde a fala oficial reproduz interesses e preconceitos que muitas vezes não são levados em consideração pela maioria das pessoas. Ao colocar pacifistas em confronto com pessoas que cultuam as armas de fogo, Gigante de Ferro pode não ser perfeito (alguns momentos parece ingênuo demais, até para a década de 1950), mas consegue ser um bom programa para para todas as idades. 

O Gigante de Ferro (The Iron Giant/EUA-1999) de Brad Bird com vozes de Vin Diesel, Jennifer Aniston, Harry Connick Jr. e Eli Marienthal. ☻☻☻☻

DVD: Bonsái

Julio e Emilia: entre ser trevo ou bonsái. 

"No final Emília morre e Julio não morre". Parece loucura começar um filme protagonizado pelo casal Emília e Julio dessa forma, mas é exatamente assim que se inicia o chileno Bonsái. Pouco depois o roteiro até tenta consertar as coisas, dizendo que no fim "Julio sobrevive e Emília não sobrevive". Sobreviveu a que exatamente? É isso que nos instiga a acompanhar o filme que conta de forma diferente uma história de amor como tantas outras. Quando o filme começa conhecemos o barbudo Julio (Diego Noguera), um jovem escritor que ainda procura o sucesso. A proposta de trabalhar com Gazmuri (Hugo Medina), um escritor cultuado que precisa de ajuda para digitar o manuscrito de sua obra. A obra é sobre um homem que descobre, pelo rádio, que o grande amor de sua juventude  faleceu. No fim das contas o renomado escritor não contrata Julio para digitar sua obra  mais pessoal, mas sem querer contar para sua namorada, Julio mente para ela mergulhando nas intenções de Gazmuri. Julio irá até copiar o método de criação de seu parceiro, comprando cadernos idênticos e escrevendo a história primeiramente com caneta e papel - para sentir melhor a vibração "da caneta, da mão e do cotovelo". Aparentemente travado com a farsa, Julio começa a relembrar o grande amor de sua própria juventude, emprestando a sua história aos personagens do livro. A partir desse momento o filme se divide entre o presente e o passado, com uma citação de Proust (com o clássico "Em Busca do Tempo Perdido" marcado no peito de Julio) e a chegada de Emília. Os dois eram estudantes de literatura e engataram um romance onde a literatura aparece todo o tempo. Embora o filme tenha personagens que parecem bastante sérios e até apáticos o roteiro é bastante divertido, parece uma grande ironia que o diretor tenha optado por uma abordagem que tenta sufocar todo humor presente no texto. Uma estratégia arriscada que me pareceu querer reproduzir a atmosfera das obras de Wes Anderson, especialmente de Os Excêntricos Tennenbauns (2001), mas sem a mesma desenvoltura cômica. É interessantíssimo como o filme consegue misturar a realidade com a literatura, tanto na transformação da vida conjugal de Julio e Emilia em livro, como a forma como os livros interferem vida dos personagens. Seja na forma como Julio se expõe a atual namorada sob o pseudônimo de Gazmuri ou quando Julio lembra de quando presenteou Emilia com um par de trevos -  o presente singelo é apreciado até o dia em que uma amiga diz que aquilo parece retirado de um livro onde os personagens também recebem o mesmo presente e o encantamento dura até o momento em que descobrem que o trevo é uma planta frágil e eles começam a associar a relação com a planta (e Julio e Emilia, quase que inconscientemente, fazem a mesma coisa, embora tentem mudar o final da história). É curioso como a trama começa a traçar as semelhanças de Julio com a planta que dá título ao filme. Talvez Bonsái não queira parecer uma história de amor porque é na verdade uma história de separação, abordando exatamente a ausência do outro. Talvez, seja a essa ausência que Julio tenha sobrevivido, tal como o bonsái que sem o arame e o vaso permanece vivo - mas o vaso volta a ser apenas um objeto sem vida. O mais interessante é que mais do que um bonsái, Julio descobre ter mais semelhanças com a verdadeira obra de Gazmuri do que gostaria. 

Bonsái (Chile/Argentina/Portugal/França-2011) de Cristián Jimenéz com Diego Noguera, Nathalia Galgani, Gabriela Arancibia, Trinidad González, Hugo Medina e Julio Carrasco. ☻☻☻☻

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

DVD: Bullhead

Matthias: masculinidade e afetividade esmagadas.

Desde as primeiras palavras do drama Bullhead sabemos que não existe esperança de um final feliz, mas, depois que somos apresentados à história de Jacky Vanmarsenille (Matthias Schoenaerts), continuamos torcendo para que ao final exista alguma surpresa que nos cause conforto depois de duas horas perante um homem que prestes a explodir em testosterona. O filme que concorreu ao Oscar de filme estrangeiro em 2012 (representando a Bélgica) consegue ser surpreendente por conseguir contextualizar sua violência de uma forma bastante original. No início o filme até que tenta nos enganar, parecendo indicar que o filme é sobre uma máfia que aplica hormônios proibidos em gado, mas antes que você pense em desistir de assistir, você percebe que na verdade o filme é sobre Jacky. Um rapaz grandalhão que você imagina ser usuário de anabolizantes... é quase isso. Por sua família criar gado, Jacky acaba numa lista de suspeitos de um assassinato, mas na verdade a história do rapaz é outra. Marcado por uma tragédia pessoal enquanto estava às portas da adolescência - o filho de um chefe do crime local resolveu realizar uma das maiores crueldades que se pode fazer a um homem quando Jacky ainda era um menino. Essa crueldade faz com que o personagem construa sua identidade a base de contínuas injeções de testosterona, o que resolve suas pendências físicas, mas as emocionais permanecem comprometidas. O olhar melancólico, o corpo parrudo e o jeito calado faz com que o personagem intimide os demais - ainda mais que consideram o seu temperamento parecido com de um touro. Quando o filme se concentra na forma com que o protagonista tenta se ajustar ao mundo, o longa se torna cada vez mais interessante. Das relações fragilizadas em família, passando pelo elo culposo que o une a um amigo que testemunhou o dia que mudou sua vida, Jacky experimenta tentativas vãs de colocar a vida nos eixos. Vãs porque debaixo de sua aparente calmaria, o personagem oferece explosões que acabam comprometendo suas investidas em conseguir ser o sujeito "normal" que sempre desejou. Enquanto o personagem busca compreensão num universo que mantem a violência sempre à espreita, a salvação e a tragédia maior do personagem convergem para a mesma personagem: Lucia (Jeanne Dandoy), seu amor de infância, irmã de seu algoz e fonte das maiores frustrações do protagonista. Costurar tantos elementos em torno de um personagem complexo não é tarefa fácil, mas o diretor Mikael R. Roskam consegue realizar a tarefa com sucesso. Fotografia, trilha sonora e edição conseguem estabelecer uma tensão crescente que culmina no final angustiante onde pedimos a redenção do menino preso no corpo de gigante.  Neste ponto, vale elogiar a atuação de Matthias Schoenaerts, que consegue construir um personagem cheio nuances no difícil equilíbrio entre a violência e inocência. Essa sensibilidade na construção de personagens o tornaram o artista europeu do momento - o que só ganhou mais força com a atuação no recente Ferrugem e Osso (2012) de Jacques Audiard.  

Bullhead (Rundskop/Bélgica-2011) de Mikael R. Roskam com Matthias Shoenaerts, Robin Valvekens, Jeroen Perceval, David Murgia e Jeanne Dandoy. ☻☻☻☻ 

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

DVD: Um Novo Despertar

Gibson, o castor e Jodie: injustiçada dramédia além da imaginação. 

Existem filmes que devemos ver depois que todo tipo de coisa já foi dita sobre ele. Depois de ouvir comentários positivos e negativos, aguarde quase um ano para assistí-lo e você poderá ter uma grata surpresa. Essa foi a estratégia que adotei com o terceiro filme dirigido por Jodie Foster, lançado por aqui com o nome de Um Novo Despertar. Eu fiquei interessado pelo filme assim que soube que se tratava da história de um homem que passa a se relacionar com o mundo usando o fantoche de pelúcia. Devo admitir que minha mãe tem razão quando diz que eu adoro filmes esquisitos, mas o filme não me parecia realmente estranho. Tinha o Mel Gibson no papel do tal cara, Jodie Foster como a esposa (que tenta ser) compreensiva, Anton Yelchin como o filho cheio de restrições em sua relação com o pai e Jennifer Lawrence como paquera do moço. Ou seja, só o elenco já merecia atenção. Filme lançado, eu fiquei satisfeito com a presença de Mel Gibson no trailer, pensei até que poderia aparecer em algumas premiações pelo papel, mas conforme as críticas negativas foram pilhando o filme perdeu força e não fez sucesso. Sinceramente eu não entendi o motivo de tantas críticas. Foster tem um olhar aguçado sobre as relações familiares, mais do que isso, tem seu foco voltado para pessoas que tem dificuldades em lidar com os outros - mesmo com os mais próximos. Foi assim com o ótimo Mentes que Brilham (1991), prosseguiu no fraco Feriados em Família (1995) e em Um novo Despertar a ideia parece chegar ao ápice. O problema todo parece ser que o estúdio quis vender o filme como uma comédia maluca, mas o filme está longe de ser isso. Obviamente que existe um apelo cômico num adulto que vive com a mão enfiada num fantoche o tempo inteiro, mas o olhar de Foster e de Gibson caminha para outra direção: a proposta do espectador entender o que leva esse homem a utilizar esse mecanismo para sobreviver  socialmente. É neste ponto que o filme esbarrou em outro detalhe que não é novidade para ninguém: a vida de Mel Gibson. Gibson foi um dos astros mais queridos de Hollywood nas últimas décadas, mas depois de vários escândalos em sua vida particular as coisas se complicaram e afetaram drasticamente o filme. Vale lembrar que Jodie Foster é sua amiga há tempos e o filme poderia ser visto como a tentativa de mostrar que Gibson continua sendo um ator confiável, mais do que isso, aqui ele entrega (em minha modesta opinião), a melhor atuação de sua carreira. Não lembro de ter visto o ator mergulhar com tanto gosto nas camadas um personagem e, nesse quesito, Walter Black é um prato cheio. Black já foi um executivo bem sucedido da produção de brinquedos, mas amarga um período de depressão. Sua vida familiar e carreira fica em frangalhos, até que começa a utilizar o fantoche de castor como alter ego numa espécie de terapia. No começo a ideia é vista de forma engraçadinha, mas até tudo começa a progredir novamente, mas conforme o roteiro segue percebemos que a situação de Walter é mais complicada do que imaginamos. O angustiado Walter passa a ser uma espécie de prisioneiro do fantoche, que quebra sua personalidade onde a parte "humana" não tem vontade de reagir à força do alter-ego. Precisa dizer os efeitos disso sobre a relação com a esposa e os filhos? Nesta tarefa Jodie Foster apresenta uma visão cênica bastante interessante para o texto de Kyle Killen (que era elogiado nas gavetas dos estúdios, mas que ninguém tinha coragem de filmar, até cair nas mãos dela), através de suas lentes podemos perceber cada passo que Walter em direção ao seu abismo pessoal. Embora não seja perfeito (acho que a subtrama romântica entre Yelchin e Jennifer está sobrando), o filme consegue ser bastante interessante, especialmente quando se torna cada vez mais sombrio na situação absurda do protagonista. Vendo o filme com o distanciamento temporal que eu desejava, posso até compreender que as semelhanças de Walter com a crise de Gibson pode ter prejudicado a repercussão do filme, mas acho que o longa não teve o sucesso que merecia porque explora mais feridas do que o público costuma querer observar.

Um Novo Despertar (The Beaver/EUA-2011) de Jodie Foster com Mel Gibson, Jodie Foster, Anton Yelchin e Jennifer Lawrence. ☻☻☻☻ 

DVD: Die Unsichtbare

Stine Fischer: a prima alemã de Cisne Negro. 

Não lembro quando, nem quem foi que disse certa vez que gostava de ser atriz por que gostava do sentido "esquizofrênico" da profissão. Acho que o diretor e roteirista alemão Christian Schwochow também ouviu isso quando teve a ideia de escrever Die Unsitchbare (que traduzindo seria algo como A Invisível). O filme lembra um pouco Cisne Negro (2011) de Darren Aronofsky ao acompanhar o desgaste físico, mental e emocional de sua protagonista enquanto cria um personagem. No mesmo ano em que  Natalie Portman buscava em si as sensações que dessem vida ao lado mais obscuro de sua personagem, Stine Fishcer Christensen tem que fazer o mesmo quando sua tímida personagem tem que dar conta da protagonista da peça Camille - uma adolescente que foi molestada pelo pai na infância e que se diverte num processo autodestrutivo com múltiplos parceiros. A personagem não poderia ser mais diferente do que sua intérprete: Josephine Lorenz. Morando com a mãe e a irmã deficiente, Josephine parece cansada da vida, tão cansada que até adormece em cena numa apresentação de sua escola de teatro. Naquela noite, seus colegas estavam animados com a presença de um produtor de que buscava atores desconhecidos para compor o elenco da peça Camille. Chamada para o teste, Josephine chama a atenção do renomado Kaspar Friedman (Ulrich Noethen)  diretor que fica instigado com sua timidez e o potencial que está escondendo, aparentemente é por esse motivo ela é a escolhida para o papel principal. Conforme o diretor molda sua estrela, Josephine começa a buscar as emoções de sua personagem nas ruas, tendo coragem para assediar um vizinho pelo qual nutria uma paixão platônica há tempos - usando o figurino de sua personagem (até a peruca loura) e suas falas. A partir daí, o filme mergulha lentamente na confusão mental de Josephine, que quanto mais se aproxima da personagem, mais começa a questionar a sua estrutura familiar e os motivos pelo qual foi escolhida para ser a protagonista da peça. Friedman testa cada vez mais os seus limites e a jovem mergulha nas provocações alcançando momentos angustiantes no seu processo criativo de composição (gosto bastante quando a personagem se irrita com a trilha sonora e ataca um dos coadjuvantes que toca violino). O incrível é que ainda que seja um filme rodado da forma mais tradicional possível, o cineasta oferece momentos realmente perturbadores para a sua plateia, as cenas parecem mostrar que somente através de Camille que Josephine consegue ser vista (pelos outros e por si mesma). Apesar de alguns exageros - e o uso de vários clichês que também eram vistos em Cisne Negro, mas que Chwochow nem sempre conseque manipular como gostaria - Die Unsichtbare consegue um resultado honestamente cru sobre o processo criativo de um artista. Nessa empreitada o elenco ajuda bastante, especialmente Stine Fisher Christensen que passa de uma garota sonolenta para uma mulher à beira de um ataque de nervos em menos de duas horas!

Die Unsichtbare (Alemanha/França-2011) de Christian Schwochow com Stine Fishcer Christensen, Ulrich Noeten, Dagmar Manzel, Ronald Zehrfeld e Ana Maria Mühe. ☻☻☻

DVD: Uma Vida Melhor

Bichir e Julián: em busca do sonho americano. 

Às vezes o Oscar deixa de lado um astro para colocar nosso foco sobre um ator desconhecido do grande público. Isso aconteceu no ano passado quando todo mundo imaginou que Ryan Gosling seria indicado ao prêmio de melhor ator por conta de Tudo Pelo Poder e quem conseguiu a vaga na disputa foi o mexicano Demián Bichir. Apesar de atuar desde 1977. Tendo no currículo o hit latino Sexo, pudor y Lagrimas (1999), Bichir começou a ser conhecido quando participou de 27 episódios da série Weeds (de 2008 até 2010). Até filmar Uma Vida Melhor, seu papel  mais importante em Hollywood era o de fidel Castro em Che de Steven Soderbergh, mas como o filme não foi distribuído nos EUA, o ator permaneceu sendo um ilustre desconhecido. Sem sua atuação como o imigrante ilegal Carlos Galindo, possivelmente este filme de Chris Weitz teria passado em branco nas premiações. Apesar de ter dirigido o deliciosamente pop Um Grande Garoto (2002), não existe muita alegria em Uma Vida Melhor. Carlos vive ilegalmente em Los Angeles ganhando o sustento cuidando dos jardins em mansões, para manter a sua rotina ele precisa manter-se invisível aos olhos dos americanos. Seu filho, Luís (José Julián) não parece querer seguir a mesma estratégia - e as coisas tendem a piorar quando as gangues de imigrantes locais começam a prestar atenção no garoto (para seu azar, um parente de sua namorada é um dos líderes da região). Ciente das dificuldades da vida do pai e  de como é incômodo viver de cabeça baixa, Luís parece viver no limite entre a marginalidade e a educação que seu pai lhe deu. Enquanto a relação entre pai e filho se desgasta, a promessa de uma vida melhor é a compra de uma caminhonete que deveria proporcionar mais trabalho (e dinheiro) para Carlos, mas que acaba sendo roubada no primeiro dia em que é usada. Pai e filho irão se juntar para recuperar o veículo e passar a limpo alguns aspectos da relação que existe entre eles. Apesar de apontar alguns temas espinhosos (a imigração nos EUA, a marginalização dos imigrantes e a contravenção como forma de sobreviver), Weitz opta pela leveza e não tem pudores em utilizar pitadas de melodrama em alguns momentos. Aspectos como o dilema interno do jovem imigrante poderiam ser mais explorados no roteiro, que prefere resolver a situação de forma rápida e apressada. No entanto, não deixa de ser interessante como um personagem aparentemente honesto como Carlos possa estar ilegalmente em um país e ainda dirigir sem ter carteira de motorista. Essa visão borrada do mocinho é o que sustenta a interpretação cheia de dignidade de Bichir para um sujeito que está nos EUA simplesmente porque aprendeu que ali teria mais chances de alcançar o que o título promete - ainda que tudo em sua volta aponte para o contrário. 

Uma Vida Melhor (A Better Life/EUA-2011) de Chris Weitz com Demian Bichir, José Julian, Bobby Soto, Tim Griffin e Trampas Thompson. ☻☻☻