Ralph e Felicity: ótimos atores sem química.
Felicity Jones é uma atriz que descobri quase que por acaso. O mais engraçado é que a cada novo trabalho me torno mais fã dessa jovem atriz inglesa de trinta anos (embora ela pareça ser mais jovem). Descobri Felicity em A Tempestade/2010 , mais uma versão sonolenta de uma obra shakesperiana que se achou modernosa, mas uma das poucas coisas que salvava era a atuação de Felicity. Depois especularam seu nome para as premiações com Loucamente Apaixonados/2011 e a coisa se repetiu com esse O Nosso Segredo (nome menos interessante que o original: "A Mulher Invisível"). Felicity vive a doce jovem atriz Nelly, moça humilde pela qual o renomado escritor Charles Dickens (vivido por Ralph Fiennes) nutre uma paixão instantânea assim que a vê numa montagem teatral em que divide o palco com ela. Nelly fazia parte de uma família modesta de atrizes que vivia de pequenos espetáculos e Dickens era casado com uma mulher que lhe deu vários filhos (todos homens). Todo mundo percebia a atração que o escritor, vários anos mais velho que Nelly, sentia por ela, mas o fato é que demorou bastante para que ele conseguisse convencê-la a envolver-se com ele. Afinal de contas, na sociedade de 1850 o escândalo era certo, assim como os prejuízos para as carreiras de ambos (mais ainda para a dele, cultuado já em seu tempo). O fato é que por mais que o casal Dickens tivesse um casamento de fachada, deveria perdurar até que a morte os separasse. Em seu segundo longa metragem na direção, Ralph Fiennes erra (como ator) por demorar para encontrar o tom certo para Dickens, ele aparece exagerado, histriônico, quase histérico em sua euforia que ao invés de contagiar, pode aborrecer a plateia. Como diretor ele erra na edição truncada. Felicity caminha para o lado oposto, revelando aos poucos as virtudes de sua personagem, que teme pela sua honra e não sabe se o que sente é medo da polêmica ou da atração que sente por um homem mais velho e casado. São personagens interessantes, sem dúvida, mas que padecem da falta de química entre seus protagonistas. O fato é que não existe entre Ralph e Felicity a faísca necessária para o público se envolver na história de amor que vivem na tela. Da mesma forma, a história de amor fica comprometida pela edição confusa desnecessária que mostra Nelly depois do relacionamento com Dickens para depois contar o que houve entre ela e o escritor. No final, o espectador percebe que deveria haver um segredo entre esse fato no passado da personagem, mas o resultado é tão confuso que ficou difícil de perceber que a tal mulher invisível era um mistério daquele tempo. Por conta dos tropeços da montagem picotada, a história demora muito para decolar, deixando tudo muito cheio de lacunas e mistérios que dramatizam a história, mas não recebem o merecido acabamento no roteiro. No fim das contas, fica a sensação de que vários bons atores coadjuvantes foram desperdiçados em personagens sem brilho (Kristin Scott Thomas, inclusive) e algumas belas cenas de Felicity (especialmente na cena em que sua personagem percebe que não há futuro ao lado de Dickens), mas o Oscar lembrou mesmo foi de indicar o figurino elaborado para a produção. Por enquanto Ralph Fiennes continua me convencendo mais como ator do que como diretor (e Felicity Jones tenta estar mais uma vez no páreo do próximo Oscar com The Theory of Everything, onde vive a esposa do físico Stephen Hawking... desejo-lhe sorte).
O Nosso Segredo (The Invisible Woman/Reino Unido-2013) de Ralph Fiennes com Felicity Jones, Ralph Fiennes, Kristin Scott Thomas, Tom Burke e Michael Marcus. ☻☻
O Nosso Segredo (The Invisible Woman/Reino Unido-2013) de Ralph Fiennes com Felicity Jones, Ralph Fiennes, Kristin Scott Thomas, Tom Burke e Michael Marcus. ☻☻
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