Jake e Jackman: a verdade liberta no fim do labirinto?
Recentemente em cartaz com o controverso O Homem Duplicado (2014), o canadense Denis Villeneuve comprovou que anda obcecado com a ideia da "verdade". Afinal, todo mundo queria saber o que havia por trás dos sósias vividos por Jake Gyllenhaal na trama inspirada no livro de José Saramago (e quando chegamos no final nos deparamos com apenas um nó gigantesco). Essa obsessão começou em seu quarto longa-metragem, o excepcional Incêndios (2010), que merecia o Oscar de filme estrangeiro a que foi indicado (e recentemente recebeu uma montagem teatral no Brasil estrelada por Marieta Severo) ao contar a história do casal de irmãos que buscam a identidade do filho perdido de sua mãe e acabam encontrando muito mais do que isso. Em Os Suspeitos (2014) o diretor até engana os fãs, fazendo-os pensar que contará uma história de suspense tradicional nos moldes de Hollywood, mas aos poucos mostra que seu interesse é criar um universo muito maior que as limitações do cinemão comercial. Um universo que se assume como um labirinto, onde as paredes que complicam o caminho são feitas de carne e osso, pessoas com suas suas subjetividades forjadas em dramas pessoais que lhes constituíram em qualidades e defeitos. Talvez por esse motivo eu prefira o título em inglês, que traduzido fielmente seria Prisioneiros, independente de ser cativeiros, celas ou percepções da realidade, todos os personagens estão presos às suas histórias. Por isso, a verdade do filme parece cada vez mais turva, os papéis de mocinhos e bandidos mudam de uma hora para outra numa busca pela saída do labirinto instituído pelo roteiro engenhoso de Aaron Guzilowski. A trama gira em torno do sumiço de duas meninas, filhas dos casais de amigos formado por Keller (Hugh Jackman) & Grace (Maria Bello) e Nancy (Viola Davis) & Frank (Terrence Howard). As suspeitas recaem sobre o motorista de um trailer que rondava a vizinhança no dia do desaparecimento, que ao ser encontrado, parece inofensivo com seu histórico de problemas mentais. O suspeito Alex Jones (Paul Dano, em mais um dos papeis estranhos que adora fazer) ficou órfão ainda criança e foi criado pela tia (Melissa Leo). Embora seja um rapaz estranho, a polícia o considera inocente e o liberta para o desespero de Keller e do detetive encarregado do caso, Loki (Jake Gyllenhaal) - que percebe problemas à vista... Num encontro desastroso na saída da delegacia, Keller tem a certeza que que Alex é o culpado pelo desaparecimento da filha e, enquanto a esposa mergulha em tranquilizantes, Keller resolve fazer justiça com as próprias mãos. Neste ponto, Villeneuve coloca seu espectador num dilema moral diante das torturas a que Alex será submetido. Sem glamourizar a violência, Villeneuve mostra o processo de desumanização de um homem que começa o filme rezando o Pai Nosso (enquanto ensina o filho adolescente a atirar num animal) e transformado numa fera, Keller está tão cego na verdade que acredita para aliviar sua dor, que não percebe o quanto está fora de controle. Afinal, provas concretas de que a culpa é de Alex não existem. Paralelo a isso, as investigações se deparam com outros desaparecimentos de crianças que se acumularam ao longo dos anos, além de um padre que guarda um cadáver no porão e um homem estranho que rabisca labirintos compulsivamente. Conforme o filme avança as soluções parecem cada vez mais distantes e o que era para guiar à solução, mostra-se um conjunto de estranhezas, crimes e fusões de histórias aparentemente sem ligação. Villeneuve cria um filme complexo, cheio de elementos e analogias (perceba quantas vezes os personagens se deparam com buracos negros literais, separando o conhecido e o desconhecido) valoriza ainda mais pelo excelente elenco. Os Suspeitos só não é perfeito porque exagera um pouco no desfecho que é quase feliz. Trata-se de um trabalho complicado, mas que ilustra com perfeição as obsessões de seu diretor, afinal, a verdade pode não ser tão lógica e agradável como nós pensamos.
Os Suspeitos (Prisioners/EUA-2013) de Denis Vileneuve com Hugh Jackman, Jake Gyllenhaal, Viola Davis, Maria Belo, Paul Dano, Melissa Leo, Terrence Howard e Dylan Minnette. ☻☻☻☻
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