sexta-feira, 31 de março de 2017

N@ Capa: Os Duplos


O fotógrafo Andrew H. Walker estava cansado de tirar aquelas fotos tradicionais de artistas em festivais de cinema. No Festival de Toronto do ano passado ele teve uma ideia diferente para clicar as celebridades presentes: pediu para que 51 artistas posassem para as fotos explorando suas personas públicas e como são longe das câmeras. O resultado é tão intrigante quanto divertido, na capa do blog deste mês destacamos apenas oito dos fotografados pelas lentes de Walker e deixamos as outras para ilustrar novas capas durante o ano. A seguir as fotos utilizadas na capa do mês de março:

Rami Malek

Anne Hathaway

Felicity Jones

Dakota Fannning

Lupita Nyong'O

Jason Sudeikis

Richard Gere

Sigourney Weaver

HIGH FI✌E: Março

Cinco filmes assistidos no mês de março que merecem destaque:

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terça-feira, 28 de março de 2017

Na Tela: Minha Vida de Abobrinha

Abobrinha (de cabelo azul) e seus amigos: dramas tratados com leveza. 

No meio dos indicados ao Oscar de animação deste ano despontou uma animação franco-suíça com pouco mais de uma hora de duração e que, mesmo diante do colorido dos seus personagens, aborda temas bastante duros para a infância, no entanto, tem a vantagem de não perder a leveza ao abordá-los com personagens tão melancólicos quanto carismáticos. Para começar nós descobrimos qual o motivo do pequeno Abobrinha ir parar num orfanato. Ele, com medo de levar uma bronca da mãe, acaba tomando uma atitude que mudará sua vida para sempre. Chegando lá ele encontra um grupo de crianças que também tiveram realidades complicadas, uma foi abandonada, outra está no orfanato por medida protetiva da justiça, outra teve a mãe deportada e... por aí vai. No entanto, o maior mérito do filme de Claude Barras é não descambar para o melodrama (o que seria muito fácil e até comovente), mas optar por abordar seus personagens também nas pequenas alegrias que encontram naquele ambiente desolador. Entre uma brincadeira e outra, uma aventura, uma festinha, um passeio na neve, os personagens lidam com o seu cotidiano de forma esperançosa, numa vida que segue o fluxo naturalmente. O resultado é um filme que toca o espectador pela simplicidade e o tom singelo ao abordar situações delicadas. Em termos de técnica o filme também impressiona pelos detalhes, seja na expressividade dos bonecos, dos figurinos ou dos cenários e na trilha sonora que nunca se excede. Mas o  que confere um sabor realmente especial à história é a união que se estabelece entre os personagens através da amizade. Juntos, os pequenos e os adultos que aparecem no decorrer da trama formam uma espécie de família, onde se importar com o outro é o que realmente traz alegria. 

Minha Vida de Abobrinha (Ma vie de Courgette/França-Suíça) de Claude Barras com vozes de Gaspard Schlatter, Sixtine Murat, Paulin Jaccoud e Raul Ribera. ☻☻☻

PL►Y: Moana - Um Mar de Aventuras

Maui e Moana: heroína empoderada. 

Embora mantenha a mesma qualidade estética de sempre em suas animações, pode se dizer que a Disney reinventou sua fórmula ao criar suas heroínas. Agora elas são cada vez mais independentes, empoderadas, de etnias diversificadas e não ficam suspirando esperando a chegada do príncipe encantado. Com isso, ganha o espectador que ganha histórias que se tornam menos previsíveis e com mais possibilidades. Além dissso, depois do sucesso de Frozen/2013 e suas canções, o estúdio voltou a investir nas músicas cantadas pelos personagens - o que andava um tanto em baixa. Nesse caldo de referências lançaram Moana, um filme que conseguiu grande sucesso nos cinemas, além de ser indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro na categoria de melhor animação e canção original (para How far I'll go). Moana é a filha do chefe de uma tribo da Polinésia e sua maior preocupação é ajudar seu povo a encontrar soluções para uma crise que se anuncia, já que os recursos da ilha em que vivem tendem a ficar cada vez mais escassos. No entanto, para encontrar uma solução contundente, ela precisará desafiar o pai e reencontrar as origens de seu povo - antes conhecido como grandes navegadores. Em sua jornada ela encontrará o semideus Maui e se no início o relacionamento entre os dois é um tanto complicado, aos poucos eles se tornam cúmplices na missão que a personagem precisa executar. O tom de aventura é contante e serve para mostrar como a protagonista é forte, decidida e corajosa, uma verdadeira representante da força feminina como o estúdio nunca ousou retratar antes. Para além do discurso de empoderamento, o filme tem um visual belíssimo, canções divertidas, muito bom humor e o tempero da cultura polinésia - esta rendeu até comentários nas redes sociais de que o filme estaria relacionado ao ocultismo, o que só reforça como em tempos de internet as pessoas ainda pensam que o mundo se resume somente às suas crenças pessoais. Delicioso de assistir e com um final que revela ainda mais o tom girl power do filme, Moana agrada principalmente por ser coerente às preocupações do seu tempo. 

Moana - Um Mar de Aventuras (Moana/EUA-2016) de Ron Clements e John Musker, com vozes de Auli'i Cravalho, Dwayne Johnson, Jemaine Clement e Alan Tudyk. ☻☻☻ 

segunda-feira, 27 de março de 2017

Pódio: Emily Blunt

Bronze: A agente idealista. 
Famosa por sua beleza e elegância, a britânica Emily Blunt já investiu em alguns papéis para demonstrar que pode ser bastante bruta. Embora tenha aparecido assim em Looper/2012 e No Limite do Amanhã/2014, o melhor momento da atriz neste quesito é na pele da agente do FBI que se mete numa operação misteriosa e que a fara perceber o combate ao tráfico de drogas sobre outro prisma. a direção de Denis Villeneuve mantem a personagem sempre contida e introspectiva, mas Emily emana uma força constante na personagem. Funciona tão bem que o filme poderá ter uma continuação nos próximos anos. 

Prata: A jovem monarca.

Blunt já era relativamente conhecida, mas preferia atuar em filmes pequenos. Demonstrando que era capaz de voos mais altos, ela conseguiu este cobiçado papel da Rainha Victória (1819-1901), monarca do Reino Unido. O filme se concentra entre o romance com príncipe Albert (Rupert Friend) e as intrigas da mãe, a Duquesa de Kent (Miranda Richardson). O papel histórico é bastante rico e faz com que a atriz alcance uma de suas melhores atuações. A indicação ao Oscar não veio, mas foi lembrada na categoria de melhor atriz dramática no Globo de Ouro. 

Ouro: A deliciosamente chata.
A carreira da atriz pode ser dividida em antes e depois deste sucesso de bilheteria! Ela vive a... digamos, difícil secretária de Miranda Priestley (Meryl Streep) - e que, assim como a chege, também curte atazanar a vida da nova assistente Andy (Anne Hathaway). Emily deixa a personagem deliciosamente vilanesca, com uma dose certa de antipatia e humor cortante! Como esquecer de suas caras e bocas, da sua inesquecível dieta de queijo ("não como nada e quando sinto que vou desmaiar, eu como um pedaço de queijo") ou a cena no hospital onde percebe que seu maior sonho ficará para a próxima estação? Por estas e outras ela foi lembrada no Globo de Ouro de atriz coadjuvante e ganhou mais respeito na telona.  

PL►Y: A Garota do Trem

Emily Blunt: no centro de um filme confuso. 

A atriz britânica Emily Blunt é uma das grandes estrelas de sua geração, não por acaso, faz tempo que está tentando uma vaga entre as indicações ao Oscar. Ela chegou perto com A Jovem Rainha Victória/2009 (pelo qual foi lembrada no Globo de Ouro) e Sicario/2015 (mas faltava "aquela cena" para ser lembrada entre os votantes). Ano passado Emily provou novamente ser talentosa com este A Garota do Trem, pelo qual concorreu aos prêmios de melhor atriz no BAFTA e no prêmio do Sindicato dos Atores. De fato,  a performance da moça faz toda a diferença num filme que se enrola demais em suas intenções, tornando o resultando menor do que poderia ser. Tudo gira em torno de Rachel (Blunt), mulher com problema acentuado de alcoolismo desde que se divorciou de Tom (Justin Theroux). Tudo piorou quando Tom se casou com Anna (Rebecca Ferguson) e tiveram um bebê. Por uma coincidência da vida (ou do roteiro), Rachel admira todos os dias, nas idas e vindas de trem de Nova York, o relacionamento da babá do casal,  Megan (Haley Bennett) com o esposo, Scott (Luke Evans). No entanto, Megan também tem seus problemas e Rachel se sentirá traída quando conhecê-los. Com uma rede de relacionamentos que mescla coincidências e complexidades, o filme às vezes torna-se confuso ao abordar as motivações dos personagens, deixando algumas tramas paralelas um tanto subaproveitadas, justamente quando a confusa Rachel está cada vez mais envolvida com o destino reservado à Megan, afinal, Rachel não tem certeza se é uma testemunha ou uma criminosa. Cabe à atuação de Emily Blunt manter o suspense até o final, deixando sua personagem entre o ameaçador e o vulnerável, tarefa que ela desempenha com competência no imbróglio em que se meteu. O filme sofreu fortes comparações com o sucesso Garota Exemplar (2014) por contar com uma narradora pouco digna de confiança, uma esposa modelo vítima de um crime e um marido suspeito de matá-la, no entanto, as comparações ficam por aí, já que Tate Taylor está muito longe de ser David Fincher. Taylor (diretor de Histórias Cruzadas/2011) deve ter aceitado o serviço porque já provou anteriormente que consegue dar conta de um grupo extenso de personagens durante uma narrativa, o problema é que lhe falta um pouco de habilidade para lidar com detalhes que se mostram essenciais para a narrativa se tornar fluente e aproveitar oportunidades sinalizadas pelo roteiro. No fim das contas, A Garota do Trem parece um daqueles suspenses suburbanos muito comuns nos anos 1990 - mas com a vantagem de ter uma atriz acima da média no alto dos créditos. 

A Garota do Trem (The Girl on the Train/EUA-2016) de Tate Taylor com Emily Blunt, Rebecca Ferguson, Justin Theroux, Haley Bennett, Luke Evans, Alison Janney e Edgar Ramírez. ☻☻☻

PL►Y: O Nascimento de Uma Nação

Nate (ao centro): massacre fora das telas. 

Em 2016, no meio de toda discussão sobre o #OscarSoWhite um filme exibido no Festival de Sundance ganhou todas as atenções, elogios e foi eleito como o melhor do Festival - sendo considerado um dos fortes candidatos ao Oscar de 2017. O ator Nate Parker estreava na direção  com a história de um escravo que após pregar a submissão o evangelho para os outros escravos, se tornou o líder de uma rebelião que deu origem ao um grande massacre no Estado da Virgínia em 1831. Considerado um trunfo para a temporada de prêmios, o filme perdeu a torcida quando veio à tona a acusação de estupro sob Parker e um colega de quarto na época da faculdade. A situação chegou à mídia quando foi noticiado o suicídio da vítima que acusou a dupla em 1999 e desde então não se recuperou. O tom de tragédia envolveu o filme. O diretor sofreu duras críticas e a obra que era exaltada foi boicotada nas premiações e telas de cinema. Parker tentou argumentar que foi inocentado no processo e mesmo assim, a repercussão negativa levantou debates sobre até que ponto uma obra deve ser penalizada pela conduta de seu autor, mas o estrago estava feito. Ironicamente, O Nascimento de uma Nação é um contraponto ao horroroso filme, de mesmo nome, de D. W. Griffith lançado em 1915, que abordava a mesma história e que ressaltava a imagem dos homens negros como predadores sexuais e exaltava os membros da Ku Kux Klan como heróis. Parker teve bastante coragem de batizar seu longa de estreia com o mesmo título de uma obra bastante conhecida. Além de assumir a direção, Parker assina o roteiro, a produção e encarna o protagonista Nat Turner, escravo que cresceu na fazenda ao lado do filho (Armie Hammer) de seu proprietário. Na vida adulta, Nat passa a pregar o evangelho para os escravos da fazenda e como seus sermões caem como uma luva para promoção da submissão de seus semelhantes, ele visita as fazendas da região, presenciando diversas atrocidades. O interessante do filme é a guinada do personagem quando ao tomar consciência da realidade através de suas andanças. Para nós brasileiros a temática não traz nenhuma novidade, afinal, nosso período escravagista já virou tema de várias novelas das seis, filmes  livros, mas para o cinema americano ainda é um tema pouco explorado - basta lembrar de toda a celebração em torno de 12 Anos de Escravidão/2013. Em termos de narrativa, o filme sofre pela falta de sutileza do diretor, que conduz as atuações com mão pesada e utiliza algumas metáforas pouco sutis para emocionar o espectador. Mesmo na alardeada rebelião, alguns momentos poderiam ser mais bem trabalhados, como o confronto entre Nat e Samuel (que resulta apressado), além de algum acanhamento em lidar com a tarefa complicada de exaltar como herói o líder de um massacre. No fim das contas, O Nascimento de uma Nação é um filme bom, mas distante do brilhantismo alardeado em Sundance - e Parker ainda é melhor ator do que diretor (mas no fim das contas foi sua conduta feito pessoa que pesou no apelo do filme). No entanto, as ironias não param por aí. Esquecido nas premiações, Nate teve que ver a celebração de Casey Affleck após acusações de abuso sexual.Casey ganhou o Oscar de melhor ator, tem três filmes para lançar e uma minissérie, enquanto Nate ainda tem seus projetos futuros no campo da incerteza.

O Nascimento de Uma Nação (The Birth of a Nation/EUA-2016) de Nate Parker com Nate Parker, Armie Hammer, Penelope Ann Miller, Jackie Earle Haley e Aja Naomi King. ☻☻☻

domingo, 26 de março de 2017

PL►Y: Kubo e as Cordas Mágicas

Macaca, Kubo e Besouro: drama familiar e magia. 

Indicado ao Oscar de Melhor Animação deste ano, Kubo e as Cordas Mágicas ainda fez história ao ser indicado na categoria de melhores efeitos especiais (feito raro para uma animação), mas merecia pelo menos outras duas (figurino e direção de arte), afinal, o visual do filme de Travis Knight é realmente arrebatador! Knight, que anteriormente participou da feitura de outros filmes em stop-motion do estúdio Laika (como Boxtrolls/2014, Paranorman/2012 e Coraline/2009, todos indicados ao Oscar da categoria), demonstra aqui grande habilidade para equilibrar o que o filme possui de mais encantador com o que há de mais sombrio. Desde o início é fácil simpatizar com o menino Kubo, um verdadeiro contador de histórias (basta reparar nos seus artifícios no início da narrativa para prender a atenção da plateia à jornada do herói). Kubo mora com a mãe doente escondido perto de um vilarejo da China, durante a noite ele se esconde de algo que só se manifesta quando anoitece e, durante o dia, consegue o sustento contando histórias com o uso de um banjo de três cordas mágicas (que dão vida aos origamis que faz ao lado da mãe). São através dos origamis que conhecemo mais sobre a vida do personagem, que é filho de um samurai chamado Hanso que ousou enfrentar o seu avô, Rei Lua e as duas filhas feiticeiras pelo amor da mãe de Kubo. Mãe e filho fogem e desde então precisam se esconder da família maligna que deseja os dois olhos do menino (mais alguém lembrou de Coraline?). Para conseguir derrotar o avô, o menino terá que procurar alguns objetos igualmente mágicos e contará com a ajuda de uma zelosa macaca e um samurai besouro gigante. O ritmo de aventura é constante e o senso de humor ameniza o que o filme tem de mais assustador, Kubo e as Cordas Mágicas mostra-se bastante original em sua reverência à cultura nipônica, sconciliando a tradicional técnica de filmar bonecos quadro a quadro com o que há de mais moderno nas técnicas de animação. O resultado é um verdadeiro deleite para os olhos. 

Kubo e as Cordas Mágicas (Kubo and the Two Strings/EUA-2016) de Travis Knight com vozes de Art Parkinson, Charlize Theron, Rooney Mara, Palph Fiennes, Goerge Takei  e Matthew McCounaghey. ☻☻☻

Combo: Múltiplas Identidades

05 Frankie & Alice (2010) Criar personagens baseado no Transtorno de Dissociação de Identidade é um grande desafio para qualquer ator, se tiver em mãos um bom roteiro, fica melhor ainda! Não é o caso deste filme com a oscarizada Halle Berry, onde ela vive uma go-go girl que sofre do tal transtorno (sendo uma de suas identidades completamente racista). Halle se esforça no papel que lhe rendeu até uma indicação ao Globo de Ouro de atriz dramática, mas o filme do diretor Geoffrey Sax aborda o tema de forma bastante confusa (talvez porque o roteiro tenha passado pelas mãos de nove roteiristas), mas vale como curiosidade. 

04 As Duas Faces de Um Crime (1996) Edward Norton vive um rapaz que parece incapaz de matar uma mosca - e mesmo assim ele é acusado de matar um padre. Tudo aponta para ele até que um advogado passa a considerar que ele sofre de TID (e o tal padre não era tão santo quanto acreditavam). Estrelado por Richard Gere (que interpreta o advogado), este filme de tribunal fez grande sucesso graças à magnífica atuação de Edward Norton que convence abrigar duas personalidades distintas na pele de Aaron. Norton foi lembrado nas premiações, tornando-se um ator conhecido e sendo indicado ao Oscar pela primeira vez (e Clube da Luta/1999 não deixa de fazer menção a este papel). 

03 O Homem  Duplicado (2013) Muita gente ainda fica com dor de cabeça (ou raiva mesmo) quando lembra deste filme do diretor Dennis Villeneuve. Baseado na obra de José Saramago, o filme conta a história de dois homens idênticos que descobrem a existência um do outro. Um é o professor universitário Adam o outro é o ator Anthony, ambos vividos por Jake Gyllenhaal, ambos casados e ambos um tanto frustrados com os caminhos que escolheram. O filme não gasta tempo com explicações e gera várias interpretações - uma delas é que os dois personagens são a mesma pessoa (e o conflito ocorre quando um deles descobre que sofre de TID). 

02 Identidade (2003) Com dez filmes no currículo (o último deles o sucesso Logan/2017), o diretor James Mangold já transitou em vários gêneros e um deles foi este suspense sobre um grupo de personagens que ficam  isolados num motel de beira de estrada durante uma forte tempestade - e não bastando o clichê: aos poucos eles são eliminados um a um. O que parece um recurso mais do que manjado num filme de mistério é virado do avesso em seu desfecho bastante original. Diferente dos outros filmes da lista, o objetivo é conhecer uma pessoa que sofre de Transtorno de Dissociação de Identidade sob uma perspectiva completamente diferente. 

01 Fragmentado (2017) Como não deixar em primeiro lugar o filme que traz James McAvoy no desafio de viver vários personagens realizando apenas alterações na postura, na voz, no olhar... para cada personagem o ator escocês cria, além de uma personalidade específica, uma série de expressões físicas que deixam o espectador com a sensação de estar diante de pessoas diferentes a cada cena. Por dar conta das nove identidades apresentadas no filme (e seu personagem é conhecido por ter 24!) o o suspense dirigido por M. Night Shyamalan (que prova que seu cinema ainda pode ser muito interessante) merece o primeiro lugar por aqui. 

Na Tela: Fragmentado

McAvoy: vinte e três identidades num único corpo. 

O cineasta M. Night Shyamalan já foi um dos mais celebrados diretores do final do século XX. O motivo para tantos elogios foi a magnífica repercussão de O Sexto Sentido (1999), filme sobre um garotinho que via gente morta e sua relação com o psicólogo vivido por Bruce Willis. O filme tinha o ritmo lento que só aumentava o suspense e os sustos (sempre que acontecia algo assustador na tela). Econômico, o filme surpreendia a plateia com um final inesperado e que ganhava força quando era visto uma segunda vez e cada detalhe fazia ainda mais sentido. O filme concorreu a 6 Oscars, incluindo melhor filme, Shyamalan concorreu a duas estatuetas (direção e roteiro original) fez mais três filmes interessantes - mas que geraram críticas pelo hábito de se tornar refém de um final "surpresa" e por, aos poucos, banalizar cada vez mais a atmosfera de suas fantasias. Para oxigenar a criatividade, o diretor se concentrou na carreira de produtor, gerando obras instigantes como o filme Demônio/2010 e a série Wayward Pines/2015, além de dirigir filmes que ninguém deu a mínima. Talvez pelo diretor estar em baixa há tanto tempo que o sucesso de Fragmentado se tornou ainda mais bem-vindo. O diretor de origem indiana investe num suspense sobre três adolescentes sequestradas por um sujeito estranho (James McAvoy). Presas num cubículo, as amigas Claire (Haley Lu Richardson) e Marcia (Jessica Aula) percebem que se meteram numa grande armadilha ao lado de uma outra garota, a calada (porém astuta) Casey (Anya Taylor-Joy). Aos poucos o sujeito se mostra ainda mais estranho do que imaginavam, apresentando identidades diferentes e dizendo frases estranhas que só revelam que algo muito pior irá acontecer. Para ajudar o espectador a entender o que está acontecendo, contamos com a Doutora Karen Fletcher (Betty Buckley) que acompanha as peculiaridades do rapaz que ao longo da vida desenvolveu vinte e três identidades específicas por conta de seu Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI), além dela estará cada vez mais preocupada com os e-mails que ele lhe envia toda noite.  A Doutora sabe que as identidades de Kevin estão em conflito, mas agora elas parecem agir de um modo diferente, o que talvez possa estar associado ao surgimento de uma vigésima quarta identidade que está prestes a se apresentar. Aos poucos Shyamalan cria um suspense envolvente que caminha para o terror, dando ao escocês James McAvoy momentos memoráveis na pele de Dennis, Patricia, Hedwig, Barry, Orwell, Jade... num universo interessantíssimo sobre a tarefa que tem em mãos (algo como uma versão compacta - devido a duração do filme - do que a excelente Tatiana Maslany faz na série Orphan Black). Não bastasse isso, McAvoy é auxiliado por um ótimo elenco de coadjuvantes, especialmente pela veterana Betty Buckley e a novata Anya Taylor-Joy (se você já se impressionou com a jovem atriz em A Bruxa/2016, aqui ela não decepciona e se concretiza como uma atriz para se ficar de olho). Há quem critique o filme pela forma como aborda o TDI, mas em se tratando de uma obra de ficção de alguém que já contou uma história sobre super-herói onde o vilão tem ossos de vidro, não vejo motivo para maiores polêmicas. Cinematograficamente, a solução entre o conflito da "horda" com Casey pode até ser um tanto simplista (ainda que deixe espaço para uma continuação, ou até duas...), mas nada que tire o brilho de Fragmentado ser a volta por cima de Shyamalan, resta saber qual será o seu próximo passo (e a presença de Bruce Willis numa cena final bastante charmosa pode indicar que o legado do cineasta voltou às origens). 

Fragmentado (Split/EUA-2017) de M. Night Shyamalan com James McAvoy, Ania Taylor-Joy, Betty Buckley, Haley Lu Richarson e Jessica Aula. ☻☻☻☻ 

terça-feira, 21 de março de 2017

PL►Y: Um Namorado Para Minha Mulher

Ingrid e Caco: a rabugenta e o tolhido. 

No início do relacionamento a jornalista Nena (Ingrid Guimarães) e o comerciante Chico (Caco Ciocler) pareciam feitos um para o outro. A animação e o gosto pela música punk fez com que acreditassem que eram almas gêmeas - e o casamento... inevitável. No entanto, quinze anos depois eles estão completamente fora de sintonia. Nena se tornou aquele tipo de pessoa que reclama de tudo e coube a Chico o ingrato papel de nunca saber o que dizer com medo dos bombardeios em seu ouvido. Chico começa a pensar que não tem jeito do casamento voltar aos eixos, mas como não tem coragem de pedir o divórcio, apela para um conquistador profissional para seduzir a esposa e fazê-la desejar a separação. A versão brasileira do filme argentino Um Namorado Para Minha Esposa  (2000) funciona justamente pela despretensão com que explora as mudanças que o tempo promove na dinâmica de um casal. Aqui eles deixam o drama do original de lado e exploram mais o humor da situação, enriquece ainda mais a ideia da diretora Julia Rezende e do roteiro de Lusa Silvestre alfinetar o comportamento mal humorado que tem se tornado cada vez mais comum nos dias atuais. Obviamente que muita gente vai dizer que Nena é uma chata, mas existem muitas Nenas e Nenos por aí que possuem obsessão em criticar tudo o que está pela frente. Considerando que são donos da verdade, não se dão conta de que suas opiniões são apenas... opiniões. Não sei se viajei demais vendo o filme, mas enxerguei um pouco da mania atual de que todo mundo precisa ter opinião sobre qualquer coisa - ao ponto de amigos se surpreenderem quando digo que não tenho opinião formada sobre determinado assunto ou quando (heresia das heresias) afirmo que considero que toda verdade é provisória (ok, pode me xingar), ao mesmo tempo penso que tanta chatice deve vir justamente de um mundo onde já se pensa conhecer tudo, então... ele só pode ser chato mesmo! Nena é a síntese de quem tem sempre uma opinião crítica sobre tudo, assim, o diálogo fica difícil, quase impossível - além de inútil - não por acaso ela irá conseguir um emprego num programa para internet, território onde qualquer um pode dizer qualquer coisa como se fosse um conhecedor profundo do assunto (e ser cultuado como tal, sem maiores exigências). No entanto, debaixo de tanto mal humor, Nena tem lá seus predicados (e Ingrid Guimarães tem perfeito domínio sobre as ambiguidades da personagem) e não demora para despertar o interesse do conquistador misterioso chamado Corvo (Domingos Montagner, roubando a cena apesar da peruca inconcebível) ou de quem começa a perceber que seus comentários podem até ser interessantes (a cena do primeiro programa em que ela descontrói o discurso do personagem de Paulo Vilhena é uma prova disso). Mas Um Namorado Para Minha Mulher não é apenas sobre a esposa megera, é também sobre o marido passivo, contido e recolhido que prefere deixar para que os outros resolvam os problemas que ele deveria dar conta - tudo bem que discutir a relação pode gerar arrepios, mas se o relacionamento não está mais funcionando, talvez seja a hora de buscar algo diferente. Caco Ciocler compõe um Chico meio bobalhão e inseguro (e a ideia deve ser essa mesma) que funciona muito bem em seu contraste com a esposa e os outros homens da trama. Embora o final acredite que o final feliz é inevitável para uma comédia romântica, Um Namorado Para Minha Mulher é uma grata surpresa na hora de rir da vida a dois. 

Um Namorado Para Minha Mulher (Brasil/2016) de Julia Rezende com Ingrid Guimarães, Caco Ciocler, Domingos Montagner, Paulo Vilhena, Marcos Veras, Marcelo Laham e Miá Mello. ☻☻

Na Tela: Silêncio

Adam e Andrew: testando nossa fé em Scorsese.

Silêncio é um desses projetos pessoais em que os diretores se aventuram enfrentando várias adversidades e parece que nunca ficarão prontos. Há décadas que Martin Scorsese tentava fazer o filme, mas encontrava vários problemas (entre eles a própria escalação do elenco, já que poucos atores demonstraram interesse nos personagens). As datas de lançamento foram várias vezes adiadas, assim como as tentativas de aparecer em Festivais se mostraram frustradas. Quando o filme finalmente ficou pronto, o estúdio resolveu lançá-lo no meio da temporada dos pesos pesados, ou seja, nos últimos meses do ano. A estratégia foi arriscada ao deixá-lo para última semana de 2016. Resultado: se não fosse a indicação ao Oscar de Melhor Fotografia no Oscar o filme teria passado completamente em branco nas premiações. A pergunta que ficou no ar até o filme estrear por aqui era se o filme era realmente digno de tamanha indiferença. Será? O filme é uma adaptação do livro de mesmo nome de Shusaku Endo sobre um grupo de missionários jesuítas no Japão do século XVII, período em que o catolicismo foi banido do país e seus fiéis brutalmente perseguidos. É neste período que os padres portugueses Rodrigues (Andrew Garfield) e Garupe (Andrew Garfield) partem para o Japão para descobrir o paradeiro do padre Ferreira (Liam Neeson), que desapareceu durante o massacre de católicos. A partir daí, a dupla irá se confrontar com a dura perseguição que seus convertidos sofrem no Japão. Além de testemunharem a dura realidade de seus convertifos, eles mesmos serão perseguidos e terão a fé colocada à prova em várias situações violentas. Scorsese capricha no tom solene, os atores se esmeram (Garfield e Driver estão muito bem em cena e tiveram que perder muito peso para seus papéis), a fotografia é belíssima... mas o filme não consegue ser muito mais do que duas horas e quarenta minutos de cenas de torturas variadas. Existem bons diálogos durante o filme, mas não compensam o roteiro de uma nota só. Parece até irônico que diante do teste de perseverança submetido aos padres, o público também precise ser perseverante e fiel a Scorsese para não ficar desapontado. Além do cansaço da violência repetitiva (e em alguns momentos ouvi até algumas risadas involuntárias por conta disso), senti falta de um contraponto sobre o olhar japonês sobre os jesuítas, algo que fosse além do perfil bestial feito dos japoneses. Scorsese (que se declara católico não praticante) de vez em quando se rende a temáticas religiosas, foi assim com A Última Tentação de Cristo (1988) e o esquecido Kundun (1997), por isso mesmo deveria saber que não basta boas intenções neste tipo de filme. Um roteiro sólido e bem construído teria feito a maior diferença ao contar uma história rara de se ver no cinema, mas, diante do resultado, a indicação ao Oscar de melhor fotografia está de bom tamanho - mas eu ainda tenho fé em Scorsese, afinal, errar é humano e perdoar é divino!  

Silêncio (Silence/EUA-Taiwan-México/2016) de Martin Scorsese com Andrew Garfield, Liam Neeson, Adam Driver, Tadanobu Asano e Ciarán Hinds. ☻☻

domingo, 19 de março de 2017

PL►Y: O Silêncio do Céu

Carolina e Leonardo: teia de culpa e vingança. 

A cena inicial de O Silêncio do Céu já deixa clara a sua intenção de ser uma obra perturbadora, afinal, sua longa cena de abertura mostra a angústia de uma mulher sendo violentada por dois homens. O diretor Marco Dutra amplia o desconforto da cena utilizando ângulos que (sabiamente) escondem mais do que mostram, usa cortes precisos, jogo de luzes e tem como trunfo a expressão de horror e vulnerabilidade de Carolina Dieckman na pele de Diana. Alguns minutos depois percebemos que a personagem encontra-se dentro da própria casa. Ela pega o telefone e pede para o esposo buscar as crianças na escola. Mal sabe ela que ele estava do lado de fora da casa e testemunhou todo o ocorrido. A partir daí começa um estanho jogo entre o casal. Ela não conta para ele oque aconteceu e ele também não diz a ela que testemunhou o que houve. Mario (Leonardo Sbaraglia) até tentou fazer alguma coisa, mas sentiu medo - e ao se dar conta os dois criminosos já estavam longe. Leonardo Sbaraglia cria um personagem bastante curioso, repleto de medos, mas que ainda consegue dar a impressão que está prestes a tomar uma decisão drástica para expiar a própria culpa, assim, a busca pela catarse torna-se sua maior motivação. Se o fato de Mario querer descobrir quem são os dois meliantes já cria um certo suspense, paralelo a isso cria-se outro em torno do comportamento silencioso da vítima: afinal, porque Diana não toma uma atitude diante do que aconteceu?  Carolina Dieckman capricha nas expressões ambíguas da personagem, que aos poucos tornam a personagem mais misteriosa, sugerindo que havia algo a mais na cena assustadora que presenciamos. O Silêncio do Céu é construído de forma surpreendente pela maior parte do tempo, tropeçando apenas no final quando torna-se mais previsível diante das atitudes do seu protagonista. O diretor Marco Dutra demonstra refinar ainda mais o seu gosto pelo terror e suspense. Se em Trabalhar Cansa/2011 ele dividia a direção com Juliana Rojas e em Quando eu era Vivo/2014 ele voava sozinho para instigar os espectadores, com O Silêncio do Céu ele procura uma abordagem mais sutil e ambiciosa de um horror urbano com base na obra de Sergio Bizzio. O resultado é um filme interessante sobre um homem que utiliza seus medos como camisa de força. 

O Silêncio do Céu (Brasil-Chile/2016) de Marco Dutra com Carolina Dieckman, Leonardo Sbaraglia, Chino Darín, Dylan Cortez e Alvaro Armand Ugon. 

PL►Y: A Pastoral Americana

Ewan e Jennifer: destruindo o sonho americano. 

Sempre acho interessante quando um ator famoso estreia como diretor. Não sei explicar muito bem o motivo, mas acho que está relacionado à oportunidade revelar como este pensa "cinema". Ano passado foi a vez do escocês Ewan McGregor fazer o seu debut com a adaptação de um livro de Phillip Roth, no entanto, se não demonstra ser um cineasta brilhante, Ewan sabe zelar pelo visual do filme e criar uma atmosfera sombria bastante eficiente. A  Pastoral Americana conta  história de uma família nos conturbados anos 1950, o casal é formado pelo judeu Swede Levov (McGregor) - que ficou famoso na cidade por seu sucesso como jogador no time da escola - e a católica Dawn (Jennifer Connelly), uma rainha da beleza que chegou a concorrer ao prêmio de Miss America. Como em todo livro de Phillip Roth eles não servem apenas como pessoas de uma narrativa, mas são encarnações símbolos do imaginário norte-americano. Ele trabalha numa indústria de confecção de luvas e ela queria ser professora de música na escola local, mas acabou cuidando de algumas cabeças de gado que herdou do pai. Juntos eles tiveram Merry (vivida por Dakota Fanning quando adolescente). Menina meiga e carinhosa, mas de uma gagueira incurável que uma terapeuta considera um reflexo de como ela lida com o histórico de seus pais - talvez ela se frustre por não ser capaz de seguir os passos da mãe nos concursos de beleza e tão pouco encontrar um cavalheiro tão atraente quanto o pai. O fato é que Merry cresce um tanto revoltada com a situação política do seu país (guerra do Vietnã, luta pelos direitos civis, movimento hippie, ativismo radicalista...) e sente-se um tanto culpada pelo conforto do lar. Não demora muito para a menina se torna suspeita de uma explosão realizada na cidade e seu paradeiro se torna desconhecido. Pode se dizer que o filme se divide em três atos que testarão a habilidade de McGregor em construir uma narrativa fluente. No primeiro ato ele se sai bem, apresentando os personagens e as fissuras de onde os maiores problemas surgirão, depois ele se complica. No segundo ato, o roteiro e montagem deixam a narrativa confusa, deixando o espectador mais preocupado com onde perdeu o fio da meada do que com o desaparecimento da menina. Esta é a parte mais importante do filme, já que o foco recai sobre o olhar dos pais sobre a princesa da casa é suspeita de terrorismo. Por conta disso, o filme ganha um tom de filme noir que segue para testar a índole incorruptível do pai enquanto a mãe mostra-se mais fragilizada e prestes a ter um colapso. Passada a confusão do miolo, chegamos ao último ato, onde se joga por terra tudo o que o casal acreditava ser verdadeiro diante do estranho destino doentio escolhido pela filha. A Pastoral Americana só não voa mais alto porque resulta truncado em sua realização que deixa de lado alguns pontos importantes da complexa relação familiar que acompanhamos. Embora não tenha medo de ser uma história deprimente, o longa poderia ser mais interessante se tivesse um texto melhor lapidado, mas penso que a própria escrita de Roth deixa os roteiristas um tanto confusos na hora de criar um roteiro. Sobre o diretor estrante, vale dizer que McGregor está liberado para novas obras, só espero tenha uma voz mais definida em sua próxima empreitada atrás das câmeras.

A Pastoral Americana (American Pastoral/EUA-2016) de Ewan McGregor com Ewan McGregor, Jennifer Connelly, Dakota Fanning e David Strathairn. 

sábado, 18 de março de 2017

§8^) Fac Simile: Alicia Silverstone

Alicia Silverstone-Jarecki
Andando pelas ruas da Califórnia, nosso repórter imaginário encontrou com Alicia Silverstone, atriz que ficou muito conhecida nos anos 1990 com os clipes do Aerosmith e com o sucesso do filme As Patricinhas de Beverly Hills (1995). A atriz, que saia de uma almoço beneficente,  aceitou responder cinco perguntas para o nosso correspondente numa entrevista que nunca aconteceu.

§8^) As pessoas ainda te reconhecem na rua por conta de As Patricinhas de Beverly Hills (1995)?

Alicia Sim, claro! De vez em quando alguém me encontra na rua e me chama de Cher... como eu sei que não se trata da verdadeira Cher eu sei que é um fã das Patricinhas. Eu fiz muitos outros trabalhos desde então, mas aquele foi o mais marcante. Foi muito divertido filmar e curtir todo aquele sucesso! Naquela época poucas pessoas andavam com celular nas ruas, na escola e achavam graça dos exageros da minha personagem, hoje eles percebem que ela era alguém... à frente do seu tempo [risos]. Particularmente eu prefiro que lembrem da Cher do que da Batgirl, uuugh!

§8^) É engraçado falar isso, porque Batman & Robin/1997 foi um dos seus grandes fracassos! Falaram muito sobre você estar acima do peso para o papel e, o mais interessante, é que seu par em Patricinhas (o ator Paul Rudd) é o Homem-Formiga da Marvel! E se ele conseguisse espaço para você ser a Vespa nos filmes, o que acha?

Alicia Melhor não... eu não tenho perfil para esse tipo de filme! E com o tempo passaram a me considerar pé frio para bilheterias - e acho que a Marvel não iria me querer por perto [risos]. Por outro lado, Hollywood é muito dura  com as atrizes! George Clooney também estava em Batman & Robin, foi o pior Batman de todos os tempos e hoje tem dois Oscar na estante, além de uma penca de indicações. Eu era só uma garota deslumbrada querendo ganhar meu espaço. Havia grande cobrança de me tornar uma grande estrela, mas não aconteceu. Dizem que tudo foi abaixo quando produzi Excesso de Bagagem (1996), uma comédia boba que não era para ganhar prêmios, só era para divertir! Mas foi tratada como um grande desastre! Eu fui massacrada... mas todo mundo adorou eu ter colocado o Benicio Del Toro no filme. Ele ficou com os elogios e anos depois ganhou um Oscar de coadjuvante... e eu? Bem, eu ainda guardo meus MTV Movie Awards

§8^) É verdade! Você ganhou duas vezes, não foi?

Alicia Na verdade foram quatro! Atriz Revelação e Melhor Vilã por Paixão Sem Limite (1993) e Melhor Atriz e Mais Gostosa por As Patricinhas de Beverly Hills (1995). Sou uma das recordistas, eu e Jim Carrey... oops! [risos]. Não posso reclamar, eu tive os meus momentos de glória! Clooney só ganhou um e Benicio nunca ganhou nada no MTV Movie Awards... nem a Meryl!

§8^) Mas se o cinema não lhe rende muita atenção, você se tornou ativista do Peta e tem uma vida familiar muito confortável (a atriz se casou com o executivo da Geffen Records, Christopher Jarecki em 2005 e em 2011 tiveram o primeiro filho, Bear Blu Jarecki), no fundo você não se importa muito com a fama, não é?

Alicia Quando você é mais jovem você valoriza muito esse tipo de coisa, com o tempo você percebe que a vida tem outras coisas interessantes para fazer e aproveitar! Sou mãe, esposa, ativista... tudo isso graças ao Chris, que é vegano, uma advogado brilhante que luta pelos direitos dos animais e adoramos cachorros! Temos quatro e acho legal ter uma carreira de atriz sem que seja o centro de minha vida! Gosto quando se lembram de mim, pedem autógrafos, tiram fotos e me convidam para algum projeto interessante sem ter a obrigação de ser um grande sucesso e ganhar prêmios.  
  
§8^) Lembro que no auge você iria fazer Romeu + Julieta (1996) com Leonardo DiCaprio e acabou perdendo o papel para Claire Danes. Você sente que fazer Shakespeare poderia ter sido a grande chance de sua carreira deslanchar?

Alicia Bem... eu fiz Shakespeare e com o diretor mais entendido no assunto! Lembra? Eu fiz  Amores Perdidos (2000) com o Kenneth Branagh e recebemos muitos elogios! Porém, pouca gente assistiu... nunca temos controle sobre essas coisas! Veja o que houve com a Claire, todos aqueles prêmios e o cinema ainda não percebeu todo o talento que ela tem! Sorte que ela tem Homeland para mostrar que é uma grande atriz! Eu também fiz um seriado, Miss Match, fui até indicada ao Globo de Ouro na época... mas durou só uma temporada! Eu tô dizendo, eu sou pé frio, cara [risos]!

PL►Y: King Cobra

Garrett e Slater: nasce uma estrela?

Um rapaz  que pretende ficar famoso, um homem solitário que produz filmes eróticos em sua casa e um casal que pretende faturar muito dinheiro com pornografia na internet. Estes são os ingredientes que aparecem no polêmico King Cobra, segundo filme de Justin Kelly (do não menos controverso "I am Michael") e, assim como o primeiro, baseado numa história real. Sean Paul Lockhart (Garret Clayton) disse para a família que iria fazer um curso de verão, colocou a mochila nas costas e partiu atrás da fama - só que ela chega encarnada por Stephen (Christian Slater), homem solitário que aproveita o isolamento de sua casa para fazer filmes pornográficos para um site na internet. Sean se tornará muso de Stephen, passará a se chamar Brent Corrigan e renderá muita grana para seu produtor/diretor e até será seu amante. Obviamente que o sucesso do rapaz chama atenção de outros profissionais do ramo, especialmente do casal de namorados Harlow (Keegan Allen) e Joe (James Franco, que também é produtor do filme), que fazem os vídeos de outro site erótico gay, o Viper Boys. Se Stephen realiza seus negócios com total discrição, os Viper Boys são o oposto, tentam levar uma vida luxuosa sempre contando com o sucesso dos seus vídeos, mas a febre provocada pelos filminhos de Brent estragam seus planos e... quando tentam tirar proveito do novo astro da indústria, as consequências são sangrentas. King Cobra conta uma história que ganhou as páginas policiais em 2009, mas que serve para contar os bastidores mais obscuros de uma indústria que fatura milhões por ano - mas que ainda precisa lidar com situações delicadas que envolvem legalidade, tabus, fantasias e negócios. Afinal, Sean se torna refém da própria fama, assim como Stephen comete um deslize que expõe toda a sua vida secreta (e regrada) de forma irreversível. Justin Kelly tinha nas mãos material para criar um filme explosivo, mas prefere criar apenas uma crônica, por vezes caricata da situação que tem em mãos. Embora James Franco seja o destaque do elenco (e o filme conta ainda com Molly Ringwald e Alicia Silverstone) sua atuação parece mais uma brincadeira do que propriamente uma interpretação, o que acaba prejudicando seu parceiro de cena, Keegan Allen, que tem um personagem mais complicado em mãos e não consegue desenvolvê-lo a contento em seu misto de traumas, inveja e ambição. Garret Clayton (que antes teve destaque no filme da Disney Teen Beach Movie/2013) convence como garoto fetiche da história, mas quem rouba mesmo a cena é Christian Slater, que constrói o certinho devasso Stephen com grande desenvoltura em suas nuances mais dóceis e perigosas. King Cobra mostra-se um filme mais provocador do que erótico, alivia a tensão da temática com doses de humor e tenta esclarecer o que havia por trás de um crime que chocou os fãs de pornografia na rede.

Franco e Allen: traumas, ambição e caricatura. 

King Cobra (EUA/2016) de Justin Kelly com Garret Clayton, Christian Slater, James Franco, Keegan Allen e Alicia Silvertone. ☻☻

4EVER: Chuck Berry

18 de outubro de 1926  18 de março de 2017

Charles  Edward Anderson Berry nasceu em Saint Louis nos Estados Unidos e é considerado por muitos o criador do rock, sobretudo pela forma como tornou a guitarra uma extensão do seu corpo quando estava sobre o palco. Compositor, cantor e guitarrista sua música  o cantor ficou famoso no início de sua carreira pelos problemas com a polícia e por viajar em turnês carregando somente uma guitarra Gibson - e acreditando que encontraria bandas que conheciam suas músicas em cada cidade por onde passava. Chuck foi encontrado inconsciente em dentro de sua própria casa no dia 18 deste mês. Embora suas músicas tenham aparecido em vários filmes (e faça parte do repertório da nave Voyager que está a bilhões de milhas de distância da Terra), ela é fonte de dois momentos antológicos do cinema. Um deles é quando Marty McFly toca "Johny B. Goode" no baile de formatura em De Volta para o Futuro (1985) - três anos antes da música ser lançada.  O outro é Mia e Vincent dançando "You Can Never Tell" em Pulp Fiction (1994). Dois momentos imortalizantes que você pode lembrar logo abaixo: 


PL►Y: Quase 18


Hailee Steinfeld ficou famosa como a garota tagarela na versão dos irmãos Coen para Bravura  Indômita (2010), a atriz tinha 14 anos na época e foi indicada ao BAFTA de melhor atriz e ao Oscar de atriz coadjuvante por sua performance. Elogiadíssima por sua estreia no cinema, ela teve que se contentar com vários papéis menores nos últimos anos - como a jovem guitarrista Mesmo se Nada der Certo (2013) ou a novata de A Escolha Perfeita 2 (2015). Haille também investiu na carreira de cantora, mas depois da sua indicação ao Globo de Ouro de melhor atriz de comédia pelo divertido Quase 18 a mocinha merece muita coisa boa nos próximos anos. Hailee vive Nadine, adolescente de 17 anos que cresceu à sombra do irmão popular e bonitão (Blake Jenner) e teve como maiores companheiros o pai bondoso (Eric Keenleyside) e a melhor amiga, Krista (Haley Lu Richardson). No entanto, os dois são fonte das duas maiores tragédias da vida de Nadine. Se a primeira já a pega de surpresa (e ela parece nunca ter se recuperado muito bem), a segunda explode como uma bomba, comprometendo todo o equilíbrio do universo habitado pela personagem (e não adiante insistir, eu não vou contar o que acontece para não estragar a surpresa). A maior graça do filme da estreante Kelly Fremon Craig é a forma como ela abraça a visão superlativa que Nadine tem do mundo ao seu redor - afinal, na adolescência, os hormônios deixam tudo mais intensamente exagerado! O garoto da escola que nem te dá bola é o amor de sua vida! O dia que sua melhor amiga fala com outra pessoa ela está deixando você de lado para toda a eternidade! Sua mãe nunca será capaz de entender a intensidade de todos os seus sentimentos - e as regras sociais torna impossível gostar dela e do irmão ao mesmo tempo! A vida de Nadine sempre parece estar à beira do abismo - por isso mesmo o filme começa com a personagem anunciando o suicídio ao professor que faz as vezes de conselheiro, Mr. Bruner (Woody Harrelson, em atuação saborosa) -, mas ao mesmo tempo, ela está tão obcecada pelas suas vontades que nem percebe o quanto um colega de classe está apaixonado por ela (Hayden Szeto) e como pode ser desagradável junto às pessoas que mais lhe querem bem (incluindo a mãe vivida por Kyra Segdwick). Quase 18 traz muito dos filmes de adolescente que John Hughes fazia nos anos 1980. Do cinema de Hughes traz não apenas o carinho com os personagens, o bom humor ao lidar com os dilemas juvenis e a sintonia com a geração que o assiste, mas bebe diretamente na fonte de suas protagonistas: Nadine tem muito do jeito mal-humorado encarnado pela ruiva Molly Ringwald nos clássicos de Hughes. Sempre se considerando injustiçada e incompreendida, Nadine não percebe o quanto pode ser incompreensiva e mesmo tirana com quem está por perto. Somente quando ela consegue perceber as necessidades de quem está perto dela é que finalmente ela encontra algum equilíbrio e, oferece a si mesma, a chance de curtir as oportunidades que surgem pelo caminho. Quase 18 é um filme esperto e feito para agradar os mais jovens e os mais velhos (estes ainda podem achar tudo ainda mais divertido por terem sobrevividos a todos os horrores da adolescência - e não estou falando das espinhas). 

Quase 18 (The Edge of Seventeen/EUA-2016) de Kelly Fremon Craig com Hailee Steinfeld, Woody Harrelson, Kyra Segdwick, Blake Jenner, Haley Lu Richardson e Hayden Szeto. 

segunda-feira, 13 de março de 2017

FILMED+: A Luz Entre Oceanos

Michael e Alicia: dramalhão dos bons. 

Após sobreviver aos horrores da Primeira Guerra Mundial o introspectivo Tom (Michael Fassbender) chega à costa australiana para cuidar de um farol. Ele é bem recepcionado por uma família local, os Graysmark, especialmente pela filha deles, Isabel (Alicia Vikander). Antes de partir para a sua solitária tarefa é perceptível que surge uma fagulha entre os dois, que se intensifica cada vez mais, principalmente porque a alegria de Isabel é tudo o que falta ao calejado faroleiro - que não demora irá casar com ela e viver feliz num mundo somente dos dois. No entanto, o destino mostra-se cruel quando Isabel percebe que não é capaz de ter filhos. Parece sempre faltar algo ao casal de expectativas frustradas quando o filho desejado não chega. Eis que um dia o mar traz um bebê num barco perdido ao lado de um homem morto. Isabel percebe aquilo como um presente divino, uma espécie de reparação por toda a dor que maternidade negada lhe proporcionava até então. Tom tem plena ciência dos deveres de sua profissão, mas Isabel implora que nenhuma notificação seja feita e que eles cuidem da menina. Parece que eu contei demais? Bem, qualquer um que tenha visto o famigerado trailer do filme (que deu início ao romance entre dois dos atores mais badalados do cinema atual) já sabia tudo o que citei acima e mais ainda, sabe que a coisa irá desandar quando toda a felicidade familiar for ameaçada quando a mentira que construíram vier à tona. A Luz Entre os Oceanos é um filme que não tem medo de mergulhar no drama vivenciado pelos seus personagens e o torna cada vez mais intenso justamente pelos dilemas que inflige sobre eles (e que contamina a plateia de forma inevitável), especialmente quanto surge a personagem de Rachel Weisz se equilibrando entre vítima e algoz,  levando as angústias do casal ao limite. O filme é feito no capricho! Fotografia espetacular, trilha sonora de deixar os olhos marejados, enquadramentos perfeitos, atuações irretocáveis, tudo no lugar certo para um drama na linguagem mais clássica do cinemão. O que surpreende é que o filme é esteticamente muito diferente dos outros filmes do diretor Derek Cianfrance (do excelente Namorados Para Sempre/2010 e o mediano O Lugar Onde Tudo Termina/2012), que sempre apresentou um estilo cru e até "sujo" em suas obras anteriores. No entanto, aqui ele mostra aos seus detratores que ele  domina a técnica cinematográfica muito bem e melhor do que muito diretor oscarizado. Além de ter um ótimo trabalho junto aos atores, Derek revela aqui algo curioso (e não estou falando no efeito do tempo nos relacionamentos, com suas idas e vindas narrativas ou dores e amores sobrepostos): seu maior interesse é por figuras paternais de filhos não biológicos (reparou isso nos três filmes anteriores dele? Senão, vale a pena conferir). Parece um detalhe pequeno, mas que revela muito sobre o olhar terno que o diretor tem sobre esses personagens, geralmente incompreendidos em suas narrativas. Se o farol do filme está entre dois oceanos, A Luz Entre os Oceanos coloca seus protagonistas diante de um mar de escolhas e suas consequências não muito desejadas. Baseado no livro de M.L. Stedman, o resultado é uma pérola do dramalhão - gênero que quando bem feito é bonito de doer!

A Luz Entre Oceanos (The Light Between the Oceans/EUA - Nova Zelândia - Reino Unido) de Derek Cianfrance com Michael Fassbender, Alicia Vikander, Rachel Weisz e Bryan Brown.☻☻☻☻

sábado, 11 de março de 2017

10+: Diretoras

Para fechar o Ciclo Diretoras desta semana, o blog lembra (em ordem alfabética) de alguns filmes assinados por mulheres que já apareceram por aqui. Embora sempre recebam (injustamente) menos atenção que seus colegas homens (basta ver que em toda história do Oscar apenas quatro mulheres concorreram ao Oscar de direção, a primeira foi a italiana Lina Wertmüller na 50ª edição do prêmio!), as diretoras de cinema já mostraram diversas vezes que fazer filme bom não depende do sexo e sim de talento! Aqui estão dez cineastas, em atividade, que sempre merecem nossa atenção. 

Foi o filme que Kathryn fez logo após se tornar a primeira mulher a ganhar o Oscar de melhor diretora por Guerra ao Terror/2009 (derrotando o ex-marido James Cameron). Neste filme ela coloca uma mulher no centro da narrativa da captura de Osama Bin Laden. 

A filha do celebrado cineasta Francis Ford Coppola amadureceu e ganhou brilho próprio ao ser a primeira americana a concorrer o Oscar de direção. Ela não ganhou o prêmio, mas fez história (e levou o de melhor roteiro original por esta singela comédia dramática). 

Enxergar fora da caixa é o maior mérito da diretora britânica, filha de iranianos (que fugiram de Teerã nos primeiros dias da revolução islâmica). Criada na Califórnia, Lily começou a filmar aos doze anos e no seu primeiro filme conta a história de uma vampira no Irã. Resultado: Sensacional!

A diretora californiana tem três longas no currículo e chamou atenção ao mostrar uma nova organização familiar neste filme que foi indicado a vários prêmios (incluindo 4 Oscars). A marca de Lisa é a leveza para tratar temas que ainda são tabus para a sociedade. 

A criadora (e atriz) da série Girls chamou atenção em Sundance neste seu segundo longa, onde uma jovem busca a identidade numa narrativa sincera e despojada. Por seu estilo, Lena foi considerada a voz de uma geração e preza por ir ao limite para desglamourizar suas personagens. 

A neozelandeza (nascida em Wellington)  tem sua cinematografia marcada por mulheres fortes. Com esta obra-prima, ela levou o Oscar de roteiro original (e viu suas atrizes, Holly Hunter e Anna Paquin sendo premiadas), além de se tornar a segunda mulher a concorrer ao Oscar de direção. 

A escocesa tinha dois filmes pouco conhecidos quando contou a história de uma mãe que suspeita que existe algo de muito errado com seu filho. Arrepiante, o filme conta com uma atuação soberba de Tilda Swinton e lança um olhar sem frescuras sobre o sentimento de culpa na maternidade.

Romancista gráfica, cineasta, ilustradora e escritora infanto-juvenil, Marjane cresceu em Teerã  e presenciou a revolução de seu país  antes de viver na França. Sua história é contada na  HQ que virou este filme imperdível indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro. 

Muylaert sempre fez ótimos filmes, mas repararam nela somente quando resolveu abordar a relação entre as classes sociais no Brasil a partir da história de uma doméstica e sua filha. Premiado na estreia em Sundance o filme foi um grande sucesso no Brasil e no mundo. 

Com este filme, Ava se tornou a primeira diretora negra a ter uma obra concorrendo ao Oscar de Melhor Filme. Indicada ao Globo de Ouro de direção pela sua narrativa da jornada de Martin Luther King pelos direitos civis, DuVernay voltou ao Oscar neste ano com o documentário 13ª Emenda