domingo, 5 de maio de 2019

PL►Y: Nostalgia

Hamm: a música sob a luz da memória. 

Embora esquecido, o americano Mark Pellington é um bom diretor. Ele já fez muitos filmes para cinema e TV, mas seus longas mais conhecidos ainda são O Suspeito da Rua Arlington (1999) e A Última Profecia (2002), no entanto, sua fama é maior como diretor de clipes premiados como Best of You do Foo Fighters e Jeremy do Pearl Jam. Enfim, o homem sabe lidar com som e imagem de forma bastante envolvente como podemos ver em Nostalgia. De certa forma, este é seu filme mais ousado, ao ponto de provocar um certo estranhamento em imaginar que um diretor americano se aventuraria em construir uma história tão lenta e introspectiva sobre um grupo de personagens e seus relacionamentos com objetos e as histórias que os cercam. Não bastasse lidar com uma ideia tão abstrata, a narrativa ainda segue uma linha interessante e pouco utilizada no cinema, linha esta que consiste em um personagem encontrar o outro e lhe ceder o centro da história nos minutos seguintes. Assim, Nostalgia começa com uma personagem contando a história por trás das joias de família a um agente de seguros (John Ortiz), que depois conversa com um senhor (Bruce Dern) rodeado de objetos pessoais e logo depois encontra uma senhora que perdeu praticamente tudo em um incêndio (Ellen Burstyn). Depois conhecemos um comerciante (Jon Hamm) de raras de colecionador, mas que está prestes a encontrar a irmã (Catherine Keener) para decidir o que fazer com as coisas deixadas pelos pais falecidos. O filme reserva boa parte do seu tempo para promover uma reflexão sobre o relacionamento dos personagens com os objetos que estão ao seu redor. As histórias, vida, morte, as lembranças,  a saudade, as memórias, os segredos, o que foi esquecido e o que permanece são os verdadeiros personagens da trama. Não é o tipo de filme que empolga grande parte do público, mas é capaz de promover uma identificação imediata com o que aqueles personagens tem a dizer. Afinal, o que você salvaria de seu lar em chamas se só tivesse um minuto? Qual o motivo de uma bola de beisebol ter mais valor que um álbum de artista esquecido? O que faz de um lugar seu e não do outro? Talvez por tratar por tantos minutos da relação afetiva que objetos evocam, a personagem da jovem Annalise Basso cause estranhamento quando aparece em cena, afinal ela pertence a um tempo que uma música pode ser baixada na internet e seus pais não fazem a mínima ideia de seus gostos (embora vastamente divulgados em redes sociais), filha de um tempo virtual a personagem destoa propositalmente dos demais. O roteiro de Mark Pellington e Alex Ross Perry, às vezes perde a sutileza e se repete mais do que devia, mas funciona como um momento contemplativo sobre nossa relação com as coisas que temos e, de certa forma, nos tem.   

Nostalgia (EUA-2018) de Mark Pellington com John Ortiz, Ellen Burstyn, Jon Hamm, Katherine Keener, Annalise Basso, James Le Gros e Bruce Dern. ☻☻

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