segunda-feira, 20 de maio de 2019

PL►Y: Jovem e Bela


O cineasta François Ozon é o mais prolífico dos diretores europeus. Desde os anos 1990 ele mantém um ritmo de trabalho que o faz entrar em cartaz com um novo filme uma vez por ano. Nesta tarefa pessoal quase obsessiva ele já fez de tudo, dramas (Sob a Areia/2001 ), musical (8 Mulheres/2002), thriller (Dentro da Casa/2012), comédia (Potiche/2010), fantasia (Ricky/2009)... num comparativo sua cinegrafia pode até ser irregular, mas sempre tenta distanciar o espectador da área de conforto. Esta sensação fica bem clara em Jovem e Bela, seu filme de 2013 que causou certo alvoroço quando foi exibido em Cannes. Muito do estardalhaço se deve à forma fetichista como o diretor trata a imagem de Marine Vacth, jovem atriz que era pouco conhecida e aqui recebeu a tarefa de fazer variadas cenas sensuais, seja com a imagem de uma adolescente comum ou de mulherão.  Ela interpreta Isabelle, uma adolescente que tem uma primeira vez frustrante com um jovem alemão enquanto passa férias no litoral. Depois de sua primeira experiência não demora para que vejamos Isabelle se encontrando com homens mais velhos por dinheiro. É perceptível que ela não vive dificuldade financeiras junto à mãe (Géraldine Pailhas), o padrasto (Frédéric Pierrot) e o irmão caçula (Fantin Ravat) - único que sabe das aventuras sexuais da irmã. Isabelle também não parece um furacão sexual, pelo contrário, é bastante discreta e demonstra um certo distanciamento emocional de sua vida "profissional". O fato é que ao invés de aprofundar esta relação da jovem e bela do título com a prostituição, Ozon prefere explorar o que se encontra abaixo da superfície desta história. Ele aproveita ao máximo a química da protagonista com o veterano Johan Leysen (apenas 41 anos mais velho do que Marine) e quando parece que cairá na mesmice, Ozon encontra novos fios para trabalhar. Alguns segredos são apresentados (e não aprofundados), existem questionamentos (que ficam sem respostas) e até um encontro surpreendente da jovem com a esposa de um dos seus clientes favoritos (e o fato dela ser vivida por Charlotte Rampling tem um efeito quase mágico em cena). Em termos de narrativa o filme não inventa - apesar utilizar atos separados por estações do ano (o que está longe de ser original) e músicas que fecham cada parte de forma meio brega. Marine Vacht está um tanto inexpressiva, talvez para deixar que projetem as fantasias em torno dela, a atriz está bem melhor em O Amante Duplo (2017), outro filme de alta carga sexual de Ozon. Em seus melhores momentos o filme parece uma releitura juvenil de A Bela da Tarde/1967, só que aqui não é a dona de casa entediada que se rende aos prazeres carnais com vários homens. Quando o filme acabou eu só imaginava o que Cinquenta Tons de Cinza (2016) seria nas mãos de François Ozon.  

Jovem e Bela (Jeune & Jolie / França - Alemanha / 2013) de François Ozon com Marine Vacht, Géraldine Pailhas, Johan Leysen, Fantin Ravat, Charlotte Rampling e Laurent Delbecque. 

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