John Cena: DC sabor Troma.
A primeira vez que ouvi falar do Pacificador foi quando li uma matéria comparando ao Comediante de Watchmen a ele. A outra vez foi o comparando a Homelander de The Boys. Se você conhece estes dois personagens, você deve imaginar o quilate da comparação. Pertencendo hoje ao universo da DC Comics, o personagem apareceu na versão mais recente de O Esquadrão Suicida (2021) e deixou claro toda a sua psicopatia por matar qualquer pessoa em nome da paz. A origem do personagem é antiga e ocorreu fora da DC, ainda na Charlon Comics em que foi apresentado como um pacifista em sua primeira aparição em 1966. Em 1988 sua personalidade foi reformulada para uma popular minissérie em HQ e seus traços de anti-herói se tornaram mais explorados - o que caiu como uma luva quando James Gunn buscava personagens, digamos, peculiares para sua missão resgate do Suicide Squad. Ali, ele já deixava claro sua ideia sobre o personagem: "Ele é o Capitão América Babaca". É por aí. Quando Gunn anunciou uma série sobre o personagem (novamente encarnado por John Cena) os fãs foram ao delírio e o delírio permaneceu cada vez que um novo episódio chegava no HBOMax. Nem precisa dizer que a série rompe completamente com o que se viu nas séries de herói concebidas pelo universo DC até aqui, já que Gunn tem aquele jeitinho particular de criar personagens dos quadrinhos. Foi isso que o atraiu a fazer os quase esquecidos Guardiões da Galáxia e topar o Esquadrão quando fatos controversos de seu passado vieram à tona. Se houve uma época em que produções sobre heróis eram levadas a sério, ela cedeu espaço para as piadinhas e, com Gunn, a galhofa e o grotesco passam a fazer parte deste estilo também. A abertura de O Pacificador já deixa claro que ele não leva nada disso a sério, embora, debaixo de toneladas de bobeira exista até uma mensagem de preservação do planeta e (o mais importante), um contraponto à forma como Pacificador é capaz de trucidar uma multidão em nome da paz. É verdade, se no primeiro episódio a plateia não faz a mínima ideia do que esperar, no segundo a ameaça em forma de borboletas cria os absurdos e os diálogos estapafúrdios até chegar no desfecho colocando Pacificador diante de uma espécie de espelho. Cada episódio encaixa uma pecinha na história do personagem e na forma controversa como ele constrói sua identidade, da relação com o pai supremacista (o convincente Robert Patrick), ao trauma com o falecimento do irmão caçula, sua amizade com Eaglie (sua águia de estimação) e com o seguidor Vigilante (o irresistível Freddie Stroma), passando até pelo amparo da equipe que passa a trabalhar com ele a mando de Amanda Waller (novamente Viola Davis em participação especial). Ao longo dos oito episódios, o Chris (o alter-ego do anti-herói) recebe novas camadas com a canastrice super-sônica do bombado John Cena. É engraçado por si só ver um sujeito daquele tamanho ser tão cretino, mas a série exige mais dele, que dá conta bonitinho do que precisa ser feito. Outro destaque o elenco é Danielle Brooks como a novata no grupo de Amanda Waller, que queria apenas um emprego para pagar as contas e se vê em situações inimagináveis. Seria um SPOILER dizer que a amizade que se constrói entre ela e o protagonista é mais uma prova de que debaixo de toda aparente falta de noção de Gunn se esconde um bom coração? Depois de toda a geleca do último episódio, James Gunn não nega toda a trasheira dos tempo em que trabalhava nos estúdios Troma, só que agora, ele tem muito mais dinheiro para bancar suas sandices.
Pacificador (Peacemaker / EUA - 2022) de James Gunn com John Cena, Danielle Brooks, Freddie Stroma Robert Patrick, Jennifer Holland, Steve Agee, Chukwudi Iwuji, Annie Chang, Lochlyn Munro, Neil Webb e Viola Davis. ☻☻☻
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