sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

#FDS OSCAR 2022: Mães Paralelas

 
Smit e Penélope: mães em conflito. 

Janis (Penélope Cruz) é uma fotógrafa que possui uma situação familiar que há muito tempo a incomoda. Criada pela avó no interior da Espanha, Janis cresceu com a ideia de descobrir o corpo de seu avô que foi enterrado nas redondezas junto a outros opositores à ditadura franquista (que perdurou por quase quarenta anos na Espanha). Nas primeiras cenas, quando a protagonista conhece Arturo (Israel Elejalde), profissional que auxilia famílias na busca por estes corpos desaparecidos, tomamos consciência da preocupação da personagem com a busca por seus ancestrais e a verdade por trás da História. Não é por acaso que logo depois ela estará grávida e convencida de que aquela pode ser a única chance de dar continuidade à sua família. Já no hospital, enquanto Janis é pura alegria por estar prestes a ser mãe, ela conhece Ana (Milena Smmit), que, assim como a parceira de quarto engravidou por acidente, mas em circunstâncias completamente diferentes. As duas darão a luz no mesmo dia e levarão suas filhas para casa enquanto a vida seguirá por novos rumos.  Acho que contar o que acontece a partir daqui seria estragar boa parte da experiência que é assistir o novo filme de Pedro Almodóvar, uma vez que para além dos elementos de melodrama (que  o cineasta tanto aprecia), ele procura traçar um paralelo entre política e as atitudes maternais de Janis ao longo do filme. Parece que o roteiro quer apresentar as contradições da personagem sobre o lhe parecia tão valioso e como isso convive com alguns segredos e mentiras que ganharão um peso insuportável em sua vida. No entanto, embora a ideia seja interessante, o desenvolvimento da trama poderiam ser mais trabalhados entre os atos que o roteiro apresenta, já que algumas situações poderiam ser mais trabalhadas na história já que aparecem e são deixados de lado sem muita cerimonia (o passado de Ana, a carreira de Teresa, a tensão sexual entre duas personagens). No entanto, Mães Paralelas ainda consegue construir seu drama central como se fosse um verdadeiro suspense amparado pelo ótimo trabalho de Penélope Cruz (premiada como melhor atriz no Festival de Veneza em 2021 e  indicada ao Oscar deste ano), que faz com que compreendamos suas atitudes, mesmo quando sabemos ser bastante condenáveis. A sutileza como Almodóvar cria um paralelo entre a parte política da história e a vida familiar pelo viés da maternidade pode passar desapercebida para algumas pessoas, mesmo que a marcante última cena ilustre a alegoria que está por trás de tudo. Mães Paralelas também concorre ao Oscar pela trilha sonora de Alberto Iglesias e bem que poderia ter sido indicada pela fotografia exuberante de José Luis Alcaine. Vale lembrar que o filme está em cartaz na Netflix, que preparou uma verdadeira retrospectiva com onze filmes do cineasta em seu catálogo recentmente. 

Mães Paralelas (Madres Paralelas/EUA - 2021) de Pedro Almodóvar com Penélope Cruz, Milena Smit, Israel Elejalde, Aitana Sánchez-Gijón e Julieta Serrano. 

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