sábado, 5 de fevereiro de 2022

PL►Y: A Música da Minha Vida

 
Viveik: Springsteen no vestuário e na veia. 

Acho que Bruce Springsteen foi o primeiro cantor internacional que prestei atenção e me tornei fã. Eu ainda estava um tanto longe da adolescência quando passei a gostar de ouvir no rádio as músicas do álbum Born in the USA, assim como a faixa título, Dancing in the Dark, My Home Town, I'm on Fire e Glory Days fazem parte da minha playlist até hoje. Dito isso, ver a sinopse de um filme como A Música da Minha Vida soa irresistível, afinal é a história de um adolescente que descobre a música de Springsteen e a conexão que possui com sua realidade. Leve em consideração que o jovem em questão é de origem paquistanesa e precisa lidar com todo o preconceito contra imigrantes presente na Inglaterra dos anos 1980 (será que melhorou?) e a ideia se torna ainda melhor. Se acrescentarmos que a direção fica por conta da queniana Gurinder Chadha (responsável pelo recomendável Driblando o Destino/2002) e que a trama é baseada na história real do jornalista Sarfraz Manzoor, a produção ganha contornos de programa obrigatório. Pena que no decorrer de sua primeira hora as expectativas começam a se diluir até que sobre pouca coisa. A Música da Minha Vida inicia de forma promissora, demonstrando como o jovem Javed (o bom Viveik Kalra) sente na pele o racismo inglês, o que só piora sua sensação de viver um tanto deslocado num mundo que sempre aponta que ele é diferente, quando ele se percebe um adolescente inseguro como tantos outros. A postura opressora do pai também não ajuda, já que Javed sabe há tempos que quem decide o que ele deve fazer da vida é o pai - o que torna seus planos de cursar uma faculdade distante algo impossível. A vida de Javed ganha novas cores quando um amigo, também filho de imigrantes, lhe apresenta a música de Springsteen e o filme passa a ressaltar o caráter universal da obra do cantor. De início o filme consegue apresentar com maestria a conexão de Javed com as músicas e como elas mudam seu olhar sobre o que está ao seu redor. Lógico que o pai não verá aquilo com bons olhos e alguns colegas vão achar aquilo um tanto ultrapassado, já que consideravam o cantor um ídolo do ultrapassado substituído por cantores de ombreiras, muito cabelo e roupas coloridas (enfim, eram os anos oitenta...). Se o filme consegue fazer você entender toda a inspiração que o protagonista sente na música de deu novo cantor favorito, o roteiro peca logo depois por se estender demais nesta parte, se tornando bastante cansativo ao bater sempre na mesma tecla enquanto tem muitos outros temas para abordar. Lá pela metade (o filme tem duas horas de duração), ele lembra que tem uma história para  contar e para de fazer clipes toscos para as músicas de Born To Run e volta a tratar da resolução dos problemas de Javed. A sorte é que Viveik Kalra tem um carisma irresistível e consegue manter o interesse e a empatia do espectador quando o filme se enrola em suas intenções. Um corte mais enxuto teria deixado o filme no ponto de umas produções mais simpáticas dos últimos anos, mas com a duração inchada é preciso resistir à sonolência que paira após a primeira meia hora (se você for fã do Boss, a música ajudará a passar o tempo até que a narrativa volte aos eixos). 

A Música da Minha Vida (Bllinding By the Light/ Reino Unido - EUA / 2019) de Gurinder Chadha com Viveik Kalra, Kulvinder Khir, Dean Charles Chapman, Kit Reeve, David Hayman, Nikita Mehta e Bob Brydon. 

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