sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

PL►Y: Um Lugar

 
Robin Wright: bela estreia como cineasta. 

Depois de quatro décadas de carreira, acho que ninguém duvida que Robin Wright é uma atriz talentosa. Embora o Oscar a ignore sistematicamente, mesmo quando ela era favorita ao prêmio de coadjuvante por viver a eterna Jenny de Forrest Gump (1994), a atriz sequer foi indicada. A consagração absoluta da artista veio com a série House of Cards (2013-2018), que a indicou e a premiou por vários anos seguidos nas premiações televisivas. Quando já não precisava provar nada para ninguém, Robin revolveu se aventurar em uma nova tarefa em Hollywood, a de direção. Ao julgar pelo que a atriz faz em Um Lugar, ela leva jeito para coisa (e os elogios quando o filme foi exibido no Festival de Sundance só comprovam isso). Apesar do filme ser uma produção modesta e que pode ser considerada de risco financeiro baixo (poucos atores, poucas locações...), o filme tem um grande risco para uma cineasta estreante, já que diante deste quadro minimalista, ela possui o grande desafio de cativar o espectador com os poucos recursos que tem em mãos, sobretudo no apelo da dor de sua protagonista que resolve se afastar do mundo. Robin traz para si o desafio de carregar o filme nas costas na pele de Edee, uma mulher que resolve viver numa casa no meio das montanhas, sem carro, telefone, computador, celular ou  internet. Sua companhia se resume a um monte de enlatados que lhe serve de alimento enquanto opta pelo isolamento. Desde o início temos pistas de que algo bastante traumático aconteceu com a personagem, no entanto, as paisagens montanhosas belíssimas escolhidas para esta nova fase de sua vida podem até evocar a ideia de que ela está no paraíso, mas a coisa complica quando a natureza mostra-se ameaçadora com as visitas de um urso e um inverno rigoroso que pode tornar a vida de Edee mais curta do que ela imagina. Se existe até aqui elementos complicados a serem trabalhados (luto, depressão, autoflagelo, suicídio...) a longa catarse da protagonista muda de rumo quando ela recebe a visita de Miguel (o sempre bom Demián Bichir), que também tem sua cota de fantasmas a superar e disposição para fazer Edee tomar as rédeas daquele ambiente desafiador. Um Lugar marca assim uma bem vinda transição na personagem, que volta a descobrir sentimentos sobre si mesma que pareciam ter desaparecido em meio às dores que precisou lidar ao longo do caminho. É um filme simples, mas que trata de temas delicados com bastante sensibilidade e desenvoltura. Talvez, por já ter sentido vontade de me isolar da loucura do mundo atual várias vezes, o filme me cativou ao sair gradativamente da angústia para uma mensagem esperançosa ao final. Por esta transição trabalhada sem pressa ou pieguice, Robin Wright merece crédito para seu trabalho como cineasta. 

Um Lugar (Land/EUA-2021) de Robin Wright com Robin Wright, Demián Bichir, Sarah Dawn Pledge, Kim Dickens, Brad Leland e Warren Christie. ☻☻ 

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