Devido as várias listas de final de ano e a correria do início do ano novo, deixei para fazer a lista dos cinco destaques dos filmes de dezembro junto com as de fevereiro (lembrando que em janeiro o blog estava de férias). Segue a lista dos cinco filmes assistidos no período que merecem atenção, especialmente em tempos de Oscar:
terça-feira, 28 de fevereiro de 2023
domingo, 12 de fevereiro de 2023
Na Tela: TÁR
Na Tela: Os Banshees de Inisherin
Na mitologia celta (irlandesa), Banshees são seres da família das fadas que são consideradas malignas por preverem a morte das pessoas. Não é por acaso que Martin McDonagh oferece destaque a esta palavra no título de seu novo filme. O longa não apenas é localizado na Irlanda (mais precisamente na fictícia ilha de Inisherin), como também narra uma história que traz algumas mortes. A maioria delas não acontece na ilha, mas a certa distância dela, já que na pacata ilha se escuta o som de bombas e tiros vindos do continente por conta da guerra civil que assolava a Irlanda no ano de 1923. Se de um lado irlandeses matavam irlandeses, na ilha dois amigos irlandeses deixam de ser amigos. Pádraic (Colin Farrell) tenta seguir a rotina de todos os seus dias até ali, mas se surpreende quando seu melhor amigo, Colm (Brendan Gleeson) não quer mais conversar com ele, sem apresentar um motivo para isso. Pádraic não aceita. Pensa que deve ter feito alguma coisa quando encheram a cara na véspera. Pensa que é alguma brincadeira de mal gosto e insiste para que continuem sendo amigos, afinal, ontem mesmo, eles eram inseparáveis. Acontece que Colm está irredutível e chegou à conclusão que ser amigo de Pádraic é uma grande perda de tempo. Este é o ponto de partida para um filme de rumos imprevisíveis, que mistura humor obscuro e drama em iguais medidas. Martin McDonagh encontra um equilíbrio entre estes dois pontos com maestria, deixando um tom cômico pairar sobre a história que mergulha cada vez mais no absurdo e incomoda o espectador por deixar a impressão que aquele rompimento não precisava chegar ao extremo que caminha a passos largos até o desfecho. Se Colin e Brendan estão muito bem em cena (e repetem a outra parceria que tiveram com o diretor, o elogiado Na Mira do Chefe/2008), o primeiro como o homem um tanto ingênuo e o segundo como um homem mais velho e cada vez mais amargo, ambos estão muito bem amparados por atores secundários, sobretudo Kerry Condon na pele de Siobhán (a esclarecida irmã de Pádraic que está prestes a desistir de encontrar sentido nas coisas que acontecem naquela ilha) e Barry Keoghan, que interpreta Dominic (um rapaz que sofre nas mãos do pai policial e que tenta se aproximar de Pádraic e Siobhán). De um ponto de partida simples, o texto de McDonagh dá voltas sobre si mesmo, intensificando cada vez mais as notas de sua história emoldurada por bela fotografia e uma trilha sonora que casa perfeitamente com cada cena. Embora seja temperado com certo humor, o filme é terno em sua melancolia e caiu no gosto da Academia que o indicou ao Oscar em nove categorias: filme, direção, ator (Colin Farrell), ator Coadjuvante (Brendan e Barry), atriz coadjuvante (Kerry Condon), roteiro original, trilha sonora e montagem.
Os Banshees de Inisherin (The Banshees of Inisherin/Reino Unido - EUA - Irlanda / 2022) de Martin McDonagh com Colin Farrell, Brendan Gleeson, Kerry Condon, Barry Keoghan, Gary Lydon, Aaron Monaghan, Pat Shortt e David Pearse. ☻☻☻☻
INDICADOS OSCAR 2023: Atriz Coadjuvante
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023
PL►Y: Pantera Negra - Wakanda Para Sempre
Bassett e Huerta: A revolta dos excluídos. |
Já está disponível no Disney+ o sucesso Pantera Negra - Wakanda Para Sempre, o filme se tornou o filme mais visto da Marvel no complicado ano de 2022, em que as produções do estúdio não apenas sofreram críticas severas dos fãs como precisou passar por uma reavaliação dos rumos que o estúdio tomará em diante. O curioso é que Wakanda Para Sempre não é apenas o filme que fecha a fase mais desengonçada do estúdio, como também foi o mais aguardado após o duro golpe que foi o falecimento de Chadwick Boseman, alçado ao posto de astro com o sucesso de T'challa/Pantera Negra e que morreu em decorrência de um câncer. A Marvel se viu num dilema. Diante da perda de um dos seus atores mais populares, o que fariam com a franquia? Usar efeitos especiais para substituí-lo? Colocar outro ator no lugar dele? Criar uma trama para um novo herdeiro do manto do herói? As cenas iniciais deixam claro a opção do filme de Ryan Coogler. Uma justa homenagem, que emociona se esquivando do melodrama e da promoção da tragédia que se abateu sobre a carreira promissora do artista, o problema é o que vem depois. Sem um protagonista pré-definido, o filme se beneficia bastante da presença de Angela Bassett (favorita ao Oscar de melhor atriz coadjuvante deste ano após receber os principais prêmios da temporada) na pele da Rainha Ramonda preocupada com os rumos de seu reino, agora que só lhe resta a filha, Shuri (Letitia Wright) - que não se conforma de não ter conseguido salvar o irmão. Para além do drama familiar, está o olho gordo de outras nações sobre o minério Vibranium que, até onde se sabe, só existe em Wakanda. Eis que subitamente descobre-se que nas profundezas do mar também existe o cobiçado minério, só não contavam que a ambição internacional se depararia com uma civilização que mora nas profundezas do Oceano e está disposta a se proteger sob a liderança do príncipe submarino Namor (Tenoch Huerta). Ele pede uma aliança com Wakanda... que não concorda muito com as medidas radicais do rapaz. Diante de todas as narrativas que se propõe desenvolver, Wakanda Para Sempre funciona melhor do que eu esperava, embora lá para o meio da sessão dependa cada vez mais de Letitia Wright para segurar a narrativa - e a moça está longe de ter a força de Angela Bassett. Visualmente e sonoramente o filme continua um deslumbre e soube muito bem lidar com o desafio de evitar comparações com Aquaman, embora toda aquela parte de exposição do reino de Talokan tenha se estendido um pouco mais do que devia. No entanto, não deixa de ser interessante a analogia que o filme faz na identificação que Namor percebe entre Talokan e Wakanda, duas nações que se esconderam por muito tempo devido à colonização sofrida em países da África e da América Latina. Neste ponto, Coogler demonstra mais uma vez que sua intenção não é apenas fazer um filme de super-heróis, mas contextualizar os conflitos que movem seus personagens, especialmente, aqueles que podem ser apressadamente chamados de "vilões da história" (não por acaso, ele encontra até espaço para uma participação especial de Killmonger). Outro fator interessante é como a maior parte da história se move em torno de personagens femininas, o que também denota uma diferenciação com os outros filmes de herói que vemos por aí. No entanto, nada impede a sensação de que o filme fez o que foi possível - o bom é que, ainda assim, se tornou melhor do que os dois últimos filmes da Marvel da fase 4.
sábado, 4 de fevereiro de 2023
PL►Y: Rainha de Copas
PL►Y: O Menu
Tyler (Nicholas Hoult) é um rapaz um tantinho arrogante que espera há tempos para experimentar o menu de um renomado restaurante localizado em uma ilha remota. As reservas para uma refeição por lá são disputadíssimas e somente uma elite de poucas pessoas no mundo conseguem uma vaga (e pagar uma pequena fortuna) pelo que servem. Acontece que quando Tyler finalmente consegue ir para o tal restaurante, ele é deixado na mão por sua namorada e convida uma outra garota, Margot (Anya Taylor Joy) para lhe fazer companhia. Diferente de Tyler, e todos os demais convidados, Margot acha tudo aquilo um bocado estranho e menos interessante do que deveria. Da viagem de barco, aos demais fregueses pedantes, passando pela excursão para verificar como cada ingrediente é produzido e até mesmo qual é a ideia por trás de cada prato, enquanto todos os outros apontam a genialidade do chef Slowik (Ralph Fiennes), Margot considera tudo aquilo um verdadeiro circo gastronômico pedante. Tyler percebe isso e não consegue disfarçar o constrangimento pela sua companhia. Slowik também percebe que aquela moça, que sequer foi convidada, é diferente dos demais e, por isso mesmo, todos o planejamento de seu menu pode ir por água abaixo. O que começa como uma comédia aos poucos ganha cores cada vez mais sombrias e se torna no misto de um olhar crítico sobre gastronomia, mas também sobre arte, elitismo, culto, seitas, delírios coletivos e temas derivados disso. Conforme os atos de O Menu avançam junto com cada prato (descritos elegantemente com seus nomes e ingredientes) o filme se aproxima do terror numa alegoria sobre a forma como vivemos cada vez mais voltados para jogos sociais de aparência. Não por acaso é o conflito de Slowik e Margot que move a história quando ela começa a ficar repetitiva, de forma que gera certa identificação entre os dois personagens, aparentemente tão opostos. Assim, entre cozinheiros que adoram o chef como se fosse um guru acima do bem e do mal e fregueses (que nem sabem muito bem o motivo de estarem naquela presepada), O Menu é uma alfinetada sobre o motivo de se fazer o que se faz, seja comer temperos em uma rocha ou optar por um cheeseburger. Sim, trata-se de um filme sobre aparências e o bocado de loucura que se esconde por trás delas e, por isso mesmo, não vale revelar muito sobre os rumos estapafúrdios da trama os ingredientes da história. Bom apetite.
O Menu (The Menu) de Mark Mylod com Ralph Fiennes, Anya Taylor Joy, Nicholas Hoult, Janet McTeer, Hong Chau, John Leguizamo, Judith Light, Rob Yang e Aimee Carrero. ☻☻☻☻
PL►Y: PAMELA ANDERSON: Uma História de Amor / Pam & Tommy
Pamela Anderson foi descoberta meio que por acaso em um estádio no Canadá durante um jogo. A câmera a focalizou durante a partida e foi quase como se um contrato fosse selado instantaneamente. Dali em diante se tornou garota propaganda de uma marca de cervejas, foi convidada para posar para a revista Playboy e depois foi escalada para viver uma das salva-vidas do seriado Baywatch, (chamado por aqui de S.O.S Malibu) que se tornou sucesso mundial de 1989 até 2001. No entanto, no meio da ascensão deste verdadeiro furacão dos anos 1990 houve um conjunto de polêmicas que acabou lhe custando a carreira, sobretudo a famigerada fita com um registro íntimo dela com seu então marido Tommy Lee, bateirista da banda Mötley Crüe. A tal fita foi roubada de um cofre na mansão do casal e fez o casal mergulhar num verdadeiro pesadelo em tempos em que a internet estava engatinhando e ninguém sabia muito bem como lidar com a comercialização daquele conteúdo em sites obscuros. Muito se falou na época sobre Pamela e Tommy tirarem proveito da situação, mas ela queria apenas conciliar sua carreira com as duas vezes em que ficou grávida e, posteriormente com os dois filhos pequenos. Quase três décadas depois do seu auge e toda a confusão que gravitou em torno de sua carreira, Pamela conta finalmente a sua versão da história no documentário Pamela Anderson: Uma História de Amor que está em cartaz na Netflix e que serve de complemento para a minissérie lançada no ano passado, Pam & Tommy disponível no Star+ que dramatiza (em tom quase cômico) toda a confusão em que os dois atravessaram nos anos 1990. Agora com 55 anos, a artista coloca sua trajetória em perspectiva com ajuda de seus inúmeros diários e fitas de registros pessoais (que era uma verdadeira mania nos anos 1990), fazendo questão de aparecer sem maquiagem durante a entrevista, Pamela surge tranquila vivendo na mesma ilha canadense em que cresceu, mas desta vez na companhia dos filhos e do atual marido. Ela fala sobre a forma como a mídia lidava com ela sempre de forma sexualizada, especialmente após a tal fita se tornar pública, comenta seus casamentos e projetos que não deram certo, demonstrando certa melancolia por nunca ter sido levada a sério (e sabemos bem como a sociedade pode ser cruel com uma mulher que encara o sexo sem tabus). Pamela demonstra ter revivido o pesadelo quando a minissérie foi lançada pela plataforma Hulu e que teve medo de que aquilo a machucasse novamente. Agora com a vida longe dos holofotes, dedicada a causas ambientais e a retomada de sua carreira com uma nova montagem de Chicago, a minissérie pairou sobre ela como um fantasma. Produzida por Seth Rogen (que interpreta o marceneiro responsável pelo roubo da fita), Pam & Tommy olha de forma sensível para todos os problemas que o casal atravessou. Do início apaixonado (que gerou um casamento após quatro dias de namoro) e alguns excessos cotidianos, a fama dela se expandia, quando a dele declinava com a mudança do rock gerado pelo grunge . A coisa só piorou quando a fita demonstrou como a sociedade americana ainda era conservadora - mesmo com as revistas Playboys sendo sucessos editoriais e a fita vender inúmeras cópias na terra do Tio Sam. Porém, ficava cada vez mais claro que Pamela era objetificada com tudo aquilo e que esperavam que ela se calasse perante todo o rosário de humilhações que surgiu em torno dela. Pam & Tommy deixa de ser uma trama baseada na vida dos dois e se torna um pesadelo marital quando as fronteiras entre a vida pública e a íntima se desfizeram de vez na era da internet. Vale dizer que Sebastian Stan está muito bem encarnando Tommy Lee, mas é Lily James que surpreende ao dar vida à uma Pamela Anderson de carne e osso. Embora a Pamela da vida real demonstre mágoas com a produção da minissérie, seu documentário serve de complemento para o programa, expondo como o estrelato pode ser bastante cruel e, inacreditavelmente, desrespeitoso.
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023
PL►Y: O Pálido Olho Azul
INDICADOS AO OSCAR 2023: ATOR
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023
PL►Y: Aftersun
4EVER: Glória Maria
Glória Maria Matta da Silva nasceu em Vila Isabel na cidade do Rio de Janeiro e sempre foi muito discreta quanto à sua vida pessoal (ao ponto de sua idade ter se tornado um mistério até a data de seu falecimento). Formada em jornalismo pela PUC do Rio de Janeiro, Glória chegou à Rede Globo disposta a conseguir um estágio e se tornou a primeira repórter preta a ter destaque na emissora nos anos 1970. Entre suas matérias históricas que foram ao ar, ela foi a repórter a aparecer ao vivo na primeira transmissão jornalística a cores da televisão brasileira. Aos poucos se consolidou como âncora nos principais programas jornalísticos da emissora em especial no Fantástico (de 1998 a 2007) e em 2010 passou a integrar a equipe do Globo Repórter. Famosa por seu estilo despojado, seja como jornalista ou apresentadora, Glória se tornou uma referência icônica no jornalismo brasileiro, além de ser a primeira pessoa a usar a Lei Afonso Arinos, em 1988 ao ser vítima de racismo. Em 2009, Glória adotou suas duas filhas. A jornalista faleceu em decorrência de metástase cancerígena.