Joel (de peruca) e Johnny (sem cabelo): podia ser melhor.
Aliança do Crime deve ter um dos melhores elencos já reunidos, mas toda a expectativa sobre o filme parece ter sido gerada na caracterização de Johnny Depp para viver William Bulger no cinema - mas basta procurar a foto do verdadeiro Bulger para perceber que a maquiagem, lentes azuis (bizarras) e todo o resto conferem uma imagem mais grotesca do que propriamente aceitável, beira a caricatura. Depois de fracassos repetidos nas bilheterias americanas, Depp necessitava que o filme fosse um grande sucesso - e tinha tudo para isso: um elenco estelar, diretor em ascensão (Scott Cooper que ajudou Jeff Bridges a ganhar o Oscar pelo mediano Coração Louco/2009) e uma história real que parece de mentira onde um chefe da máfia irlandesa de torna informante do FBI e acaba fazendo um agente acobertar seus crimes. Parecia estar tudo no lugar certo até que o filme estreou e viram que ele não tinha nada demais. A história de Bulger realmente parece coisa de cinema, afinal, trata-se de um sujeito que dominava o crime organizado e matava seus desafetos sem firulas. O mais interessante é como seu amigo de infância, o agente John Connolly (Joel Edgerton), acreditava ser capaz de dominá-lo para conseguir promoções sucessivas dentro do FBI. Desde o início sabemos que tudo dará errado e, mesmo que a esposa (a estupenda Julianne Nicholson, que eu adoraria ver em uns cinco filmes por ano) sempre tente alertar Connolly, ele mergulha cada vez mais nos jogos de Bulger - deixando evidente o fascínio que o criminoso causava nele. Depp consegue ter uma boa atuação (mas que foi lembrada somente no prêmio do Sindicato de Atores... o que está de bom tamanho) em meio ao que fizeram com sua aparência, mas não chega a se sobressair do resto do ótimo elenco - veja por exemplo o que Peter Sarsgaard faz na cena em que percebe estar com os dias contados (e quando a Academia irá reconhecer o talento de Peter?) ou os poucos minutos de Juno Temple duelando com Depp. No entanto, o problema está longe de ser do astro, mas do roteiro que não consegue construir um Bulge para além das cenas ameaçadoras que encena. Todos ao seu redor ganham nuances mais variadas do que ele próprio - o que lá pela metade do caminho o faz parecer mais um coadjuvante de luxo do que propriamente o protagonista do filme. Por outro lado, se o roteiro não aprofunda todas as possibilidades que tem em mãos, Scott Cooper também precisa de mais alguns anos para dar conta de uma rede de personagens tão complexa. Ainda que encontre referências em Martin Scorsese, Cooper não tem a habilidade de gerar a tensão crescente necessária, deixando a narrativa um tanto episódica. Aliança do Crime é um filme que deixa aquele gosto de que poderia ter sido genial nas mãos de um diretor mais experiente, afinal, concentra-se na relação de um dos criminosos mais perigosos dos EUA e sua estranha relação com um agente do FBI.
Aliança do Crime (Black Mass/EUA-2015) de Scott Cooper com Johnny Depp, Joel Edgerton, Julianne Nicholson, Benedict Cumberbatch, Peter Sarsgaard, David Harbour, Adam Scott, Corey Stohl e Dakota Johnson. ☻☻☻
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