Marwan e Carice: estranha atração. |
Nicoline (Carice Van Houten) é uma experiente psicóloga que começa a trabalhar em um presídio, entre seus pacientes está Idris (Marwan Kenzadri), que está prestes a receber a permissão para poder sair sem supervisão e, provavelmente, em breve, poder estar em liberdade condicional. Ele foi preso por ter cometido crimes sexuais e pelas consultas com Nicoline, ela percebe que não é uma boa ideia deixar o moço solto por aí. Este é um dos principais pontos do filme, o outro é a estranha atração mútua que começa a existir entre os dois. Em seu primeiro trabalho como diretora a atriz Halina Reijn faz um trabalho na medida para gerar polêmica e provocar discussões, isso acontece porque, propositalmente, ela deixa muitas pontas soltas, várias intenções subentendidas e carrega as entrelinhas com intenções que muitos realizadores evitariam. Há quem diga que o filme é bastante inconsequente na forma como aborda a relação da protagonista com seu paciente, há quem considere que tudo passa pelo território da fantasia que se torna perigosa quando se torna real e há quem ressalte que desde o início tudo é um plano arriscado para que Nicoline chegue aos seus objetivos. Seja como for, Instinto pode gerar várias interpretações e tanto seus méritos quanto suas fragilidades nascem das mesmas provocações. No entanto, se Idris pode sempre ser visto como um maníaco a procura de sua próxima vítima (e o jogo de poder com uma figura de autoridade não o deixa intimidado, pelo contrário, o deixa ainda mais excitado), Nicoline se torna a figura mais complexa da narrativa. Não apenas pela sua dificuldade de estabelecer relacionamentos, mas a forma complicada como vivencia o sexo e a suspeita constante de que já vivenciou situações de abuso em sua trajetória - esta perspectiva paira principalmente pelo seu estranho relacionamento com a mãe (que poderia render um filme somente para abordar isso). Se Idris é um enigma para Nicoline, para o espectador, é a psicóloga que levanta mais indagações, afinal, para Idris resta sempre a pergunta se ele está regenerado ou não, mas a resposta não demora muito a aparecer, já o que se passa na mente da protagonista é bem mais complicado de supor. Até o nome do filme gera dúvidas na mente do espectador, afinal, a que a palavra Instinto se refere? Seria à sexualidade de seus personagens? Ao instinto de sobrevivência? Ou seria ao instinto de defesa? Halina Reijn não gasta tempo exibindo explicações, mas enfileira possibilidades que permanecem na mente do espectador até o final da sessão. A proposta parece ter funcionado muito bem, já que o filme fez sucesso nas bilheterias de seu país e ganhou o prestigiado posto de disputar uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro em 2020 representando a Holanda. A indicação não veio, mas Halina engatou uma carreira interessante em Hollywood, realizou o irônico Morte! Morte! Morte! (2022) e recentemente rendeu o prêmio de melhor atriz em Veneza para Nicole Kidman pelo seu novo filme, Babygirl (2024), em que mais uma vez explora os meandros da sexualidade de sua protagonista.
Instinto (Instinct/) de Halina Reijn com Carice Van Houten, Marwan Kenzari, Pieter Embrechts, Robert De Hoog, Betty Schuurman e Kuno Bakker. ☻☻☻
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