Young@Heart Chorus: vitalidade que rompe paradigmas.
Faz tempo que queria assistir a esse documentário que acompanha o célebre coro de velhinhos de Northampton que cantam versões de clássicos do rock em suas apresentações. Sabia que a garganta deles era capaz de explorar sonoridades de bandas como Arcade Fire, Talkin Heads, David Bowie... No entanto, engana-se quem imagina que o mais interessante são as cenas de bastidores que exploram os conflitos dos cantores com seu maestro na escolha do repertório e os problemas que encontram para se adaptar (ou se apegar) a elas. Logicamente que é interessante ver o grupo desbravar os versos de canções dançantes como I Feel Good de James Brown ou a melosa Fix You do Coldplay, mas o interessante mesmo é a forma como eles não desistem diante das dificuldades, seja em memorizar os 71 "can" encaixados de Yes, We Can Can que se tornou sucesso na voz do grupo Pointer Sisters ou (confesso que ri um bocado) quando o coordenador do grupo os desafia a criar uma versão para Schizophenia do Sonic Youth - com toda aquela sonoridade distorcida que é peculiar à banda de Kim Gordon & Cia (confesso que até eu desistiria). Mas essas dificuldades sônicas não se comparam aos problemas de saúde que alguns membros do coral encontram entre o início dos ensaios e o dia da estreia. É essa visão da vitalidade lutando contra um corpo que não consegue mais acompanhar seus anseios que torna o filme ainda mais interessante. No entanto, o filme não é fúnebre, pelo contrário, celebra a vida, a música, a amizade, os laços que só conseguem se fortalecer com o tempo (que vai embora aos poucos e tão rápido). Existe um grupo de personagens notáveis no filme - que alguns poderão rotular como "exemplo de vida", como se o recorte que nos é apresentado os fizesse se tornar "super sujeitos", quando o que os torna tão especiais é ser um grupo de pessoas comuns que não tem pudores ao ressignificar canções conhecidas como Dancing In the Dark de Springsteeen ou Forever Young de Bob Dylan diante de uma plateia formada por detentos boquiabertos. Acompanhar os destinos desse grupo de pessoas já seria um espetáculo, mas eles ainda são capazes de preencher Schizophrenia com arranjos vocais que tomam o lugar de guitarras barulhentas e cantar a um amigo falecido para que ele se faça presente diante de nossa memória de mero espectador. O filme Young At Heart (ou Young@Heart como podemos encontrar na Internet) até faz graça com alguns irônicos clipes de sucessos de apresentações anteriores do grupo, mas eles se tornam até sem graça diante da história que preenche de significados canções que parecíamos conhecer tão bem - e de quebra, rompe com o estereótipo de um coral onde a média etária é de 81 anos.
Young At Heart (Reino Unido-2007) de Stephen Walker e Sally George com Joe Benoit, Helen Boston, Louise Canady e Len Fontaine. ☻☻☻☻
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