Moore e Bridges: o roteiro mais delirante dos manos Coen.
Poucos filmes conseguem ser tão gratificantemente delirantes quanto O Grande Lebowski dos irmãos Coen. Os manos adoram contar histórias sobre sujeitos que caem como pato em enrascadas, seja em dramas sérios ou comédias insanas. Quando lançaram Lebowski, os manos ainda sentiam o gosto dos prêmios conquistados com Fargo (1996) - o que inclui o Oscar de roteiro original e o prêmio de atriz para Frances McDormand. O que essa comédia tem de mais original é o fato de contar a história de um personagem que não tem nada de especial e, por isso mesmo, torna-se inesquecível (com o auxílio de minha atuação favorita de Jeff Bridges). Bridges interpreta com maestria Jeff Lebowski, um sujeito pós-hippie, que nunca fica claro de onde vem o dinheiro que o sustenta, mas é bastante explícito que o seu passatempo favorito é jogar golfe com o veterano pancada Walter (John Goodman, antológico) e o passivo Donny (Steve Buscemi), seus parceiros em desafios com tipos estranhos, como um cigano pervertido chamado Jesus (John Turturro). A vida de Jeff poderia seguir tranquilamente em sua rotina sossegada. Conhecido entre os amigos como O Cara, ele acaba confundido com um milionário homônimo (vivido por David Huddleston) e termina tendo alguns prejuízos (o maior deles é um tapete que "combinava com a sala"). Afim de reaver os prejuízos, Cara procura o outro Lebowski, que é casado com uma mulher mais jovem, Bunny (Tara Reid) e de passado bastante comprometedor. Mas os xarás não se entendem muito bem, mesmo quando Bunny é sequestrada e O Cara é levado a colaborar na negociação com os bandidos. Desse ponto em diante, os Coen capricham nas situações mais improváveis, nos diálogos mais insanos e no aparecimento de personagens que parecem ter saído de alguma máquina de fabricar doidos. Dos criminosos vindos de uma banda de electropop dos anos 1980 (formado por Peter Stormare, Mark Pellegrino e - o Chilli Pepper - Flea), passando pelo mundo da pornografia e pela artista plástica filha do milionário (vivida com ânimo impagável por Julianne Moore), O Grande Lebowski leva a criatividade dos Coen ao limite, numa trama que caminha sem que o protagonista tenha o menor domínio sobre ela. Além disso, o filme tem um delicioso jogo de espelhos com a densidade narrativa de Fargo. Afinal, o filme também gira em torno de um sequestro mal explicado, tem bandidos mais desastrados do que deviam ser (e parece piada que um personagem tenha um infarto ao ver ser algoz de Fargo), sem falar no "momento reflexão" sobre a comédia humana em suas tragédias cotidianas. O Grande Lebowski foi feito para divertir com seus estereótipos do avesso e o auge do delírio visual dos manos numa pista de boliche (e Julianne de armadura romana pronta para O Cara ensiná-la a arremessar uma bola de boliche). Os pinos jamais foram os mesmos depois desse encontro.
O Grande Lebowski (The Big Lebowski/EUA-1998) de Joel e Ethan Coen, com Jeff Bridges, John Goodman, Julianne Moore, Steve Buscemi, Phillip Seymour Hoffman, Peter Stormare e Flea. ☻☻☻☻
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