Wagner e Matt: Mudando apenas de endereço.
Distrito 9 deve ser uma das ficções científicas mais bacanas de todos os tempos com seu estilo documental e trama cheia de referências sociais. Lançado em 2009, produzido por Peter Jackson e dirigido por Neill Blomkamp, o filme concorreu a quatro merecidos Oscars (filme, edição, roteiro e efeitos especiais - merecia ter concorrido a outros), mas não levou nenhum. A legião de fãs cabia aguardar que se concretizassem as especulações acerca de uma possível sequência (Distrito 10?). Na falta disso, o novo filme de Blomkamp foi aguardado com grande expectativa. Elysium tem uma produção mais caprichada, mas mantém o discurso social do cineasta, embora, não tenha uma das características mais fortes de sua obra de estreia: o roteiro enxuto. O texto é bom, mas em alguns momentos padece de excessos que fazem os personagens parecerem presos a estereótipos tão fortes que, mesmo as metáforas perseguidas pelo diretor, se tornam óbvias demais. No ano de 2154 a Terra se tornou um planeta devastado destinado somente aos menos favorecidos - que tentam sobreviver com empregos marcados pela exploração e as péssimas condições de execução. É numa prévia desse universo que conhecemos o pequeno Max, que desde pequeno queria mudar-se para Elysium, uma colônia espacial habitada por milionários que podem bancar um estilo de vida a anos luz da realidade terrena (ainda que com o dinheiro arrecadado às custas do trabalho sobre as reservas naturais escassas do planeta deixado para trás). Max cresce (e vira Matt Damon) distante de Elysium, mas por conta de um acidente no trabalho seus dias estão contados. Enquanto seu organismo entra em colapso com a radiação a que foi submetido, ele conta com a ajuda de uma espécie de líder da resistência, chamado Spider (Wagner Moura, inventor do hilário "baianinglish") que organiza tentativas de chegar a Elysium com naves espaciais clandestinas que são destruídas pela vilanesca Delacourt (Jodie Foster) - a responsável pelo padrão de vida e segurança da colônia. Max consegue mais algum tempo de vida com a ajuda de um exoesqueleto e irá colaborar com uma invasão e possível revolução no sistema da Colonia futurista. Além de Spider ele conta com a ajuda de uma amiga de infância (Alice Braga) que tem uma filha doente e a oposição do estranho Kruger (Sharlto Copley, o protagonista de Distrito 9), matador responsável pelo serviço sujo que Delacourt precisa fazer para deixar a Terra distante daquele universo idílico. Os efeitos especiais são caprichados, os atores também são bons apesar da mão surpreendentemente pesada do seu diretor. Wagner Moura aproveita a chance de estrear em Hollywood com eficiência (o ator ficou conhecido por lá com Tropa de Elite 2 - que fez muito sucesso por lá, enquanto o primeiro mal foi visto pelo Tio Sam) mas sabemos que ele pode dar conta de um personagem mais complexo do que a tagarelice de Spider. Alice Braga faz o mesmo papel que lhe cabe sempre no cinema americano: a latina boazinha que ajuda o mocinho. Apesar das boas ideias, Blomkamp corre o risco de tornar-se repetitivo se não souber dosar sutilezas em seu discurso autoral. Com as fronteiras da fantasia esgarçadas por sua abordagem, Elysium não fez o sucesso esperado, mas ainda mostra-se gratificante por ser algo que não pretende ser um espetáculo de violência embalado por efeitos especiais deslumbrantes. Aqui, mais uma vez, as diferenças sociais aparecem mudando apenas de endereço.
Elysium (EUA-2013) de Neill Blomkamp com Matt Damon, Jodie Foster, Wagner Moura, Sharlto Copley e Alice Braga. ☻☻☻
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