Xavier & Xavier: O passado não é mais como era antigamente.
Faz onze anos que X-Men 2 (2003) superou a bilheteria do primeiro filme (2000) dos mutantes e o diretor Brian Singer não tinha pudores em dizer que seu passo seguinte seria filmar uma das sagas mais cultuadas dos heróis da Marvel: Dias de Um Futuro Esquecido. A trama ficou conhecida pela visão apocalíptica a que seus personagens eram submetidos num universo onde a perseguição aos mutantes chegava ao limite, sacrificando os heróis conhecidos do público. Singer estava animado para mergulhar nesse universo com o estilo que o consagrou à frente da série, mas a cobiça falou mais alto. O diretor organizou sua agenda para filmar Superman - O Retorno (2006) e engatar o terceiro longa mutante, mas o estúdio não gostou da decisão do diretor e manteve o cronograma de lançamento da terceira aventura de Xavier & Cia. O Superman de Singer foi um fiasco e sobrou para Brett Ratner dirigir o terceiro longa da franquia. Saiu a trama ambiciosa sobre viagens no tempo e entrou a história da cura mutante mesclado à Fênix Negra. Apesar do sucesso na bilheteria, o filme não conseguia ter metade das sacadas que Singer imprimiu aos dois primeiros longas - e os fãs perceberam que não era qualquer diretor que daria conta de explorar a complexidade dos cultuados personagens. Diante do roteiro do terceiro filme, algo parecia desengonçado para continuar a saga mutante e, posteriormente, até os filmes solo de Wolverine. O jeito era voltar às raízes dos X-Men no mais que eficiente X-Men: Primeira Classe (2011), que dirigido por Mathew Vaughn revisitou fatos históricos sob a influência dos mutantes (o que já aparecia no primeiro X-Men na emblemática cena de Magneto no campo de concentração - aquela que deve ser a cena mais emblemática da série). Depois de três filmes que não empolgaram (Superman que foi ignorado, o bom Operação Valkíria/2008 e o bobo Jack - O Caçador de Gigantes/2008), fica ainda mais notável que Singer nasceu para os mutantes na telona. Seu retorno aos personagens foi tão celebrada que ele conseguiu fazer tudo o que planejava, mas que até então, ainda havia receio dos estúdios em investir. Além disso, o filme serviu para mesclar as duas gerações de personagens (e atores) com maestria impressionante (sem falar que passa a limpo as barreiras deixadas por O Confronto Final à série). Sendo assim, os fãs não tem do que reclamar do filme e da quantidade de mutantes que aparecem na telona.
Mercúrio: novo querido da plateia.
A trama é bem fiel aos quadrinhos, já que Lince Negra (Ellen Page) é a responsável por manter alguns poucos mutantes vivos ao utilizar seu poder para fazer a consciência de Bishop (Omar Sy) voltar minutos antes no tempo para avisar aos sobreviventes que os robôs-gigantes-caçadores-de-mutantes chamados Sentinelas se aproximam. Mudar a história em questão de minutos é o que basta para manter vivo o pequeno grupo que restou dos X-Men (que inclui ainda Blink, Apache, Colossus, Homem de Gelo e o brasileiro Mancha Solar vivido pelo mexicano Adam Canto). Diante disso, o professor Xavier sugere que Wolverine (Hugh Jackman) volte no tempo para impedir um crime que motivará a dizimação não apenas dos mutantes, mas da humanidade em geral, já que os não-mutantes que podem gerar descendentes portadores do gene X alterado são igualmente perseguidos no futuro. Obviamente que o roteiro faz graça do envio de Wolverine (e seu poder persuasivo) para o passado, precisamente no ano de 1973 - onde deve convencer o jovem Xavier (James McAvoy) a continuar o seu legado, por mais que esteja decepcionado com a guerra do Vietnã, o assassinato de JFK por Magneto (Michael Fassbender) e o o fato de Raven tornar-se uma criminosa conhecida como Mística (Jennifer Lawrence). O resultado é bem mais sombrio do que Primeira Classe, já que muitos personagens que nos foram apresentados foram vítimas de torturas e experiências (incluindo Banshee e Angel), existe uma distância de dez anos entre as tramas - e descobrimos aos poucos o que houve a partir dali. Nunca antes a visão de Magneto pareceu tão certeira e, ao mesmo tempo, Xavier pareceu tão fraco em seu ideais. Esse tom borrado entre a amizade de ambos sempre trouxe aos filmes X-Men um verniz único, já que Magneto não é um vilão qualquer, ele tem uma causa muito semelhante a dos heróis, mas diferente em suas estratégias. Não bastasse toda a complexidade a que os heróis são submetidos, o diretor ainda coloca Magneto contra aquela que conhecemos como sua maior aliada, Mística. É verdade que o filme investe em efeitos especiais impressionantes, cenas de ação mirabolantes, mas nunca deixa seus protagonistas sem a profundidade de que necessitam. Assim, mesmo em participações secundárias, personagens como Fera (Nicholas Hoult) e Mercúrio (Evan Peters, num dos momentos mais descolados do filme) tem sua chance de brilhar. Poucos diretores dariam conta de tantos talentos num mesmo filme com tamanho equilíbrio. Destinado a se tornar um dos grandes sucessos do ano, X-Men: Dias de um Futuro Esquecido marca o retorno triunfal de Singer ao universo da Marvel (e ele já anunciou X-Men: Apocalipse para 2016), mas talvez o motivo das bilheterias astronômicas não seja a forma como relê a história sob a ótica dos personagens, ou por se tratar de um filme pipoca nascido para faturar. O que faz os X-Men tão interessantes é a forma como vivem seus ideais, no conflito interno que nem sempre demarca claramente o que é o bem e o mal, sendo sob as lentes de Singer que os personagens aparecem plenos em seus dilemas.
Os jovens Magneto e Mística: aliados inimigos.
X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido (X-Men: Days Of Future Past/EUA-2014) de Brian Singer com Michael Fassbender, James McAvoy, Hugh Jackman, Jennifer Lawrence, Peter Dinklage, Patrick Stewart, Ian McKellen, Nicholas Hoult, Evan Peters, Halle Berry, Shaun Ashmore e Omar Sy. ☻☻☻☻
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