Rogen e Michelle: o amor resiste à comodidade do casamento?
Entre e o Amor e a Paixão já é um título que não inspira muita confiança, mas até que serve bem para esse drama romântico assinado pela multitarefa canadense Sarah Polley. Depois de todo o sucesso de Longe Dela (que ganhou mais de 40 prêmios internacionais), Sarah (que na maior parte do tempo é atriz) provou que era uma realizadora competente (e a indicação ao Oscar pelo roteiro sobre a crise no casamento de uma personagem com Alzheimer só comprovou isso). É evidente que ao lançar seu novo filme, a diretora queria continuar no caminho por dramas humanos e relações humanas, especialmente sobre o assunto casamento (tema recorrente em sua cinematografia, para entender melhor essa obsessão, basta ver o documentário Histórias que Contamos/2012). Porém, apesar dos elogios, Entre o Amor e a Paixão é um filme difícil. Michelle Williams faz das tripas coração para que possamos simpatizar com sua personagem, a insatisfeita Margot. No início do filme vemos Margot em uma excursão, onde no final dela precisa dar uma chicotadas num personagem adúltero diante de uma plateia de turistas. Ironicamente, naquele momento ela conhece Daniel (Luke Kirby), rapaz que ainda ficará próximo dela na viagem de volta e com quem dividirá um táxi até chegar em casa. Margot não aparenta muita vaidade. Usa roupas largas, pouca maquiagem e os cabelos estão quase sempre desgrenhados, enquanto Daniel tem aquele jeito despojado sedutor com olhos verdes que parece hipnotizá-la. Quando o táxi chega ao destino de Margot ela confessa que é casada enquanto Daniel, decepcionado, revela que são vizinhos, já que ele mora numa casa quase em frente à ela. "Ai meu Deus", diz a personagem ciente de que não cair em tentação com ela tão próxima será um grande desafio. Margot é casada com Lou (Seth Rogen dando conta de um personagem mais sutil com bastante competência), um cara gorducho (afinal é um chef que prepara um livro sobre pratos envolvendo frangos em preparos variado), com um humor quase infantil e bem carinhoso. A casa deles é cheia de objetos que retratam anos de convivência e memórias compartilhadas, assim como visitas de parentes e amigos. Pena que nada disso é capaz de tornar Margot feliz. Michelle Williams tem o talento suficiente para mostrar que o que era aconchegante parece fazê-la sobrar a partir de certo momento, aí, as investidas do esposo, assim como as suas sobre ele sempre parecem desengonçadas. Ela diz que precisa de "coragem" para seduzí-lo. Atônito Lou pergunta: "Você precisa de coragem para seduzir o seu esposo?". De fato, há algo que não está funcionando no casamento dos dois (talvez só a brincadeira bizarra de descrever formas de ferir um ao outro seja espontânea para ela). Tudo só piora quando Margot passa a se encontrar com Daniel e ele revela-se um artista plástico sem sucesso que ganha a vida carregando um riquixá pelas ruas de Montreal. Com Daniel tão próximo, a resistência de Margot é testada a todo instante e a nossa também, já que o filme deixa tudo em marcha lenta, arrastado e vagaroso - deixando que o espectador desfrute de todo o tédio que Margot enxerga em seu casamento e vendo no adultério a única injeção de ânimo em sua rotina. A pergunta que o título brasileiro propõe é se a personagem deve optar pela segurança do amor no casamento com Lou ou os riscos da paixão tórrida com Daniel. Talvez, ao final das contas, Margot descubra que nada é tão sedutor quanto suas fantasias e que toda sua insatisfação nem fosse por conta de Lou (que é um cara bacana e imperfeito como todos os outros) mas das expectativas que tem sobre si mesma.
Entre o Amor e A Paixão (Take this Waltz/Canadá-2011) de Sarah Polley com Michelle Williams, Seth Rogen, Luke Kirby, Sarah Silverman e Aaron Abrahms. ☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário