Zach e Will: trapassas como plano de campanha.
Jay Roach é um diretor que me chama atenção, quando dirige para a TV realiza produções sérias (e premiadas) como Recontagem (2008) e Game Change (2012), sempre com uma saudável mistura entre a linguagem cinematográfica e a televisiva. Quando o assunto é cinema, ele prefere criar comediotas como a série Austin Powers (iniciada em 1997) ou Entrando numa Fria (que começou em 2000). Essa particularidade peculiar em seu currículo é comprovada mais uma vez com Os Candidatos, que consegue ser tão idiota quanto ácida em sua abordagem de uma competição descarada pelo gosto dos eleitores americanos. Como era de se esperar, o que menos importa são os planos de governo, e sim, a capacidade que um tem de avacalhar o concorrente durante as propagandas eleitorais. Nessa disputa vale tudo, instigar suspeitas infundadas, espremer feridas do passado, provocar escândalos, factóides e vídeos comprometedores na internet. Para levar essa disputa descarada ao limite, cabia a Roach ter dois atores que não tivessem pudores em ser ridículos na tela, sendo assim, não tinha melhor escolha do que o grandalhão Will Ferrell e o baixinho rechonchudo Zach Galifianakis. Will é Cam Brady, o congressista que pretende ser reeleito (mais uma vez) para representar o distrito de Carolina do Norte. Apesar de estar longe de ser um candidato exemplar (os escândalos sexuais são constantes, seus interesses são pouco nobres e a sua esposa está mais preocupada em manter o status do que o casamento), com a ajuda do fiel escudeiro coordenador de campanha Mitch (Jason Sudeikis), a reeleição parece certa. Eis que surge no páreo o novato Marty Huggins (Galifianakis), o ingênuo filho de um astuto articulador político republicano (Brian Cox, um ator que adoro e que pouca gente dá o valor que ele merece). Experiência política? Bem, Marty dirige o turismo local. Resta à Brady destruir a imagem do concorrente. No início ele ressalta o apelido de infância de Huggins, depois atiça suspeitas de ter um cão de raça chinesa (o que mais poderia revelar intenções comunistas?!) e até com o bigode do concorrente (seria sinal de adesão ao terrorismo?), depois a coisa piora com Brady sempre errando o alvo (com hilários socos em um bebê e num cãozinho) enquanto Huggins ganha o apoio de uma dupla sinistra de industriais (Dan Aykroyd e John Lithgow) cheia de segundas intenções. Ao roteiro cabe criar apenas uma sucessão de golpes baixos de um no outro, mas fica interessante quando Huggins precisa reinventar sua própria imagem para ganhar respeito - o que compromete até a estabilidade de sua família suburbanamente tranquila. A maioria das piadas funcionam e poucas caem na baixaria pura e simples (a cena das confissões familiares da família Huggins ao jantar sempre me parece um exagero), o fato é que o estilo expansivo de Will contrasta belamente com as sutilezas infantis que Galifianakis injeta em seu personagem. No duelo entre os dois comediantes, eu diria que Zach ganha ao criar um personagem pueril que se envolve com alguns dos truques mais sórdidos da politicagem. É verdade que a comédia prima pelo exagero, mas, ainda assim, consigo enxergar um bocado de fatos reais nas trambicagens da dupla, talvez por isso eu ache que é a melhor comédia de Jay Roach nas telonas.
Os Candidatos (The Capaign/EUA-2012) de Jay Roach com Will Ferrell, Zach Galifianakis, Brian Cox e Jason Sudeikis. ☻☻☻
Os Candidatos (The Capaign/EUA-2012) de Jay Roach com Will Ferrell, Zach Galifianakis, Brian Cox e Jason Sudeikis. ☻☻☻
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