Os Gadelha: família distante em busca do filho que sumiu.
O baiano Wagner Moura é um talento incontestável. Ele é capaz de atuar com grande versatilidade entre diferentes gêneros e mídias. Seja na televisão, no cinema ou no teatro, Wagner consegue sempre ser motivo para que alguma produção chame a atenção e instigue o espectador até o final de sua performance. Dito isso, ele é o principal motivo pelo qual muita gente assistiu ao filme A Busca, longa metragem dirigido por Luciano Moura. Quando o filme começa, vemos apenas o desespero de Wagner dentro de um carro e o barulho de um atropelamento, diante daí, iremos acompanhar o que aconteceu antes daquele fato. Theo Gadelha (Wagner Moura) é um médico que conseguiu construir uma casa confortável para a família formada pela mulher (Mariana Lima) e o filho Pedro (Brás Antunes), mas isso não foi o suficiente para que a família se entendesse. Como dá para perceber pelo início cheio de discussões e cobranças, o casamento já ruiu e o relacionamento de Theo com o filho não é dos melhores. A única cena em que vemos os três personagens juntos consegue ser bastante verossímil, ao dar conta de uma dessas discussões familiares onde palavras que não deveriam ser ditam vem à tona e ações inconsequentes traçam a relação diante dos nossos olhos. Pouco depois, Pedro diz que irá viajar com uns amigos no dia de seu aniversário, a mãe assiste sua despedida sem maiores esforços (revelando um grande abismo entre ele e seus pais) e ele não volta para o lar dentro do prazo previsto, O pânico se instaura entre o casal e eles começam a juntar pistas para descobrir onde o filho está. Existe tensão e suspense nesse momento, mas a cada nova pessoa encontrada que cruzou o caminho de Theo, o filme vai mostrando que não tem fôlego para esticar essa estrutura narrativa por noventa minutos - especialmente se você for esperto para descobrir onde o menino foi logo nos minutos iniciais do filme. Talvez esse tenha sido o meu maior problema com o filme, desde o início eu sabia que a conclusão seria simplista demais para todo o tormento que Theo atravessa. No entanto, essa parece ser a intenção do filme, fazer Theo pagar seus pecados perante o árduo relacionamento que estabeleceu com sua família, como se todos fossem vítimas de sua postura. Theo não parece uma pessoa ruim, mas assumiu uma postura quase ditatorial para decidir o que é ideal para sua família e, se a família não concorda, é porque eles devem ter algum problema. No início, parece impossível estabelecer um diálogo com Theo, ele está sempre nervoso, falando sem parar, insatisfeito com a postura dos outros perante suas vontades, mas no decorrer do filme, conforme cruza com diversos personagens, tão distantes da bolha da classe média em que vive, as coisas mudam um pouco... talvez ele devesse ter feito um tour por comunidades paulistanas a mais tempo. Luciano Moura tem uma ideia interessante, mas que parece redundante demais quando estamos diante de três gerações de uma família e seus conflitos particulares que são mais uma vez silenciados, só que dessa vez, em nome de uma gentileza geradora de bem estar da plateia insatisfeita. Insatisfeita porque toda a angústia que sentimos junto com Theo se transforma numa espécie de raiva diante de um fato tão estúpido que lampejo de pensamento poderia ter resolvido sem tantos problemas. O simplismo de seu final (que poderia ser poético) é quase cômico no contraste que estabelece com o resto da história.
A Busca (Brasil/2013) de Luciano Moura com Wagner Moura, Mariana Lima, Theo Gadelha e Lima Duarte. ☻☻☻
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