Rose e Hugh: lidando com a síndrome de Asperger.
A autraliana Rose Byrne e o britânico Hugh Dancy são dois atores talentosos que ainda batalham pelo devido reconhecimento em Hollywood (e isso inclui convites para embarcar em produções interessantes). Rose tem aparecido cada vez mais em comédias, desde que demonstrou fôlego para manter a classe diante de piadas mais refinadas e outras de pura baixaria (ao ponto de muitos considerarem que ela merecia uma indicação ao Oscar de coadjuvante por sua atuação no besteirol Vizinhos/2014, onde encarna a esposa de Seth Rogen). Já Hugh ficou famoso por sua encarnação do perturbado investigador Will Graham no finado seriado Hannibal (além de ser casado com Claire Danes). Em 2009 os dois atores se encontraram em Adam, um romance que perde a chance de ser algo mais quando tenta investir em truques manjados da comédia romântica. O maior diferencial da história é que seu protagonista, Adam Raki (Hugh Dancy) possui síndrome de Asperger, um transtorno do espectro autista que afeta a forma do indivíduo se relacionar com os outros - comprometendo, muitas vezes sua vida amorosa. O diretor Max Mayer fez a lição de casa direitinho e criou um personagem que apesar da inteligência (ele é apresentado como um perito em tecnologias) não consegue olha no olho das pessoas quando conversa, fala incessantemente sobre o assunto que lhe interessa, não consegue perceber as emoções das outras pessoas, possui dificuldades em compreender ironias e sentidos figurados - além de não saber lidar com momentos onde sua rotina segura é quebrada. Essa quebra na rotina de Adam torna-se cada vez maior conforme ele se aproxima da nova vizinha, Beth (Rose Byrne). No início ela sente dificuldades em entender o comportamento do rapaz, que parece atencioso, mas incapaz de realizar algumas gentilezas. No entanto, ela é conquistada pelas doses cavalares de açúcar com que o roteiro apresenta-lhe o personagem - e quando descobre a síndrome de Adam, ela começa a aceitar o desafio de viver um romance com ele. O casal de atores tem carisma de sobra para segurar a atenção da plateia, o problema é quando na metade do caminho o roteiro começa a investir em outro tom. A partir do momento em que insere os pais de Beth na história o relacionamento entre os dois começa a desmoronar, não por conta de Adam, mas pelas infantilidades de Beth - que em certo momento é toda compreensiva e atenciosa e no seguinte torna-se uma histérica mimada que não aprendeu nada sobre o namorado. Parece que ao invés de investir no desenvolvimento da relação do casal, o roteiro resolveu pegar o caminho mais fácil e desviar sua atenção para o que deveria ser apenas um acessório. Desse momento em diante, o que menos importa é o romance entre os dois, mas uma pendenga jurídica envolvendo o pai de Beth. Embora tenha alguns momentos de exagero, Hugh Dancy torna seu personagem bastante palpável, enquanto Rose tem a tarefa ingrata de lidar com uma personagem que oscila a todo instante - e que conduz o filme para uma decisão que não faz o menor sentido diante da história. Adam poderia ser um belo filme, mas se perde na própria ideia que sugere rumo a um desfecho desanimador.
Adam (EUA/2009) de Max Mayer com Hugh Dancy, Rose Byrne, Amy Irving, Peter Gallagher e Peter O'Hara. ☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário