Cooper e Sienna: pratos de ego inflado.
Após conseguir o feito de ser indicado ao Oscar por três anos consecutivos (por O Lado Bom da Vida/2012, Trapaça/2013 e Sniper Americano/2014), o ano passado foi um ano difícil para o astro Bradley Cooper. Ele teve uma participação especial no criticado Joy (do seu diretor favorito, David O. Russell), protagonizou o tenebroso Sob o Mesmo Céu de Cameron Crowe (que ainda não tive coragem de terminar de assistir), além de estrelar Pegando Fogo do diretor John Wells. A verdade é que esperavam muito do filme, mas quando estreou, revelou-se apenas mediano com mais uma história sobre um temperamental chef de cozinha que pretende recuperar o prestígio perdido. Adam Jones (Cooper) já trabalhou em conceituados restaurantes europeus, mas ao abusar do uso de drogas variadas, entrou em decadência e passou algum tempo limitando-se à tarefa complicada de abrir ostras (um verdadeiro purgatório para seus pecados). Quando começa o filme, ele está abrindo a sua milionésima ostra, acreditando assim, que está na hora de voltar a ser reconhecido. Ele irá encontrar velhos amigos (alguns desafetos), além de conhecer prodígios da cozinha e convencê-los a colaborar no seu ambicioso restaurante. O grande objetivo da história é fazer com que Jones receba sua terceira estrela (cotação máxima) na classificação Michelin - e sempre que tem sua ambição ameaçada, Jones tem uma crise de fúria. No entanto, Jones nunca é um sujeito fácil de lidar, como manda a cartilha dos chefs no cinema, ele é arrogante, presunçoso e bastante egocêntrico, ou seja, uma diva! O mais interessante é que o roteiro reverencia esse egocentrismo do personagem, colocando todos os personagens girando em torno dele, sem que tenham grandes aspirações ou desenvolvimento favorável na história - os que tem um pouco mais de destaque são Sienna Miller (na pele de Helene, promissora assistente de Jones) e Daniel Brühl (que entrega a melhor atuação do filme como Tony, um velho conhecido que nutre uma discreta atração pelo protagonista). Embora seja bem produzido e conte com um ótimo elenco, Pegando Fogo é um filme bastante irregular, já que o roteiro se embola na apresentação dos personagens secundários, nunca dando-lhes a atenção necessária, exagerando nas referências ao passado de Jones. Além disso, os diálogos parecem pela metade ou truncados (especialmente quando pretendem ser profundos), gerando algumas situações exageradas (o xilique de Jones no primeiro dia de trabalho de Helene é um exemplo desses tropeços). São nesses momentos que o diretor John Wells parece querer repetir a fórmula de seu filme anterior, Álbum de Família (2013), onde as pendengas entre Meryl Streep e Julia Roberts garantiram indicações ao Oscar para as duas, no entanto, aqui não funciona como deveria. No fim das contas, o protagonista precisa aprender que não é o centro do universo e que precisa dos outros para caminhar... não sei se o roteiro consegue se desenvolver o suficiente para ilustrar isso (portanto, o final vai deixar um bocado de gente com uma interrogação na cabeça) e aquele beijo (e não me refiro ao de Helene) pode revelar mais sobre o personagem do que o roteirista imaginava.
Pegando Fogo (Burnt/EUA-2015) de John Wells com Bradley Cooper, Sienna Miller, Daniel Brühl, Omar Sy, Sam Keeley, Emma Thompson, Uma Thurman e Matthew Rhys. ☻☻☻
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