domingo, 10 de abril de 2016

Na Tela: O Filho de Saul

Saul: em busca de redenção. 

Ganhador do prêmio de melhor filme estrangeiro no último Oscar, o húngaro O Filho de Saul segue em cartaz nos cinemas brasileiros chamando atenção pela forma diferenciada com que conta uma trama em meio ao holocausto. Embora a história se passe no campo de concentração de Auschwitz, o diretor mantém o foco numa trama bastante particular, enquanto a História (com "H" maiúsculo) se desenrola em segundo plano, ao fundo, numa construção cênica que impressiona. Essa preocupação fica evidente desde a primeira cena, onde um grupo de pessoas é vista fora de foco, até que a câmera encontra Saul Ausländer (Géza Röhrig), prisioneiro judeu húngaro que integra o Sonderkommando, grupo com a assustadora tarefa de conduzir os judeus para a câmara de gás, levar os mortos para o crematório,  limpar a câmara para as próximas execuções, além de jogar as cinzas num rio. O roteiro se concentra nos dias em que, após encontrar um garoto que sobreviveu à câmara de gás (e morreu logo depois), Saul dedica-se a procurar um rabino capaz de dar um enterro digno ao menino. Embora a história sirva para o personagem expiar seus pecados, na busca de um perdão por todo o "trabalho" que realizou, ela serve mais ainda para  criar uma experiência sensorial imersiva para o espectador. A sensação claustrofóbica dos enquadramentos junto ao tom caótico do que acontece em torno de Saul, transforma o filme numa tarefa árdua aos que pensam que cinema é a maior diversão. O Filho de Saul é um filme que exige muito da plateia por compor cenas onde os diálogos são escassos e menos vigorosos do que as cenas impactantes que exibe, sejam sutis (como o encontro de Saul com sua esposa) ou brutais. O diretor estreante László Nemes não tem pudores de submeter a plateia aos horrores que seu protagonista presencia, afinal, ainda que a câmera sempre enquadre Saul incansavelmente nos longos planos que compõem o filme, a visão periférica sempre é composta pelo horror. Enquanto o protagonista tenta cumprir sua missão, o mundo desaba ao seu redor em tramas paralelas que se desenhariam como notas de rodapé em outros filmes do gênero. De certa forma, Laszlo Nemes cria uma nova fórmula para os filmes sobre o holocausto (que poderia gerar desdobramentos infinitos em vários filmes dedicados aos personagens que cruzam o caminho de Saul), sinto essa sugestão explicitamente no desfecho -  quando a câmera deixa de seguir Saul e escolhe um representante de uma nova Alemanha, que desde pequeno terá que conviver com as lembranças da História que o precede.

O Filho de Saul (Saul Fia/Hungria-2015) de László Nemes com Géza Röhrig, Levente Mólnar, Urs Rechn e Todd Charmont. ☻☻☻☻

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