Gunnar e Ilmur: coração cheio de boas intenções.
A maioria das pessoas quando escutam o adjetivo desajustado associam a alguém problemático, rebelde, inconstante e difícil de se conviver. Por outro lado, a palavra pode simplesmente dizer que a pessoa não consegue se ajustar ao que está ao seu redor. O filme islandês Desajustados, dirigido por Dagur Kári brinca com alguns pré-conceitos que podemos construir sobre esse conceito - sendo que o mais gratificante é perceber que seu protagonista parece um tanto alheio ao mundo não por vontade própria, mas por não se encaixar nas expectativas que os outros possuem sobre ele. O protagonista é Fúsi (Gunnar Jónsson), um homem de 43 anos que vive com a mãe. Fã de heavy metal ele passa a maior parte do tempo construindo uma miniatura de uma batalha da Segunda Guerra Mundial. Fúsi trabalha no aeroporto e aguenta a implicância de seus colegas de trabalho, que sempre fazem cometários desagradáveis por ele ser grandalhão, calado e (possivelmente) virgem. Essa não aceitação perante sua personalidade é o principal motivo para que Fúsi faça o possível para passar desapercebido nos espaços que frequenta. Seu mundo parece se abrir quando uma simpática menina muda-se para os eu prédio e ao não parecer intimidada com a aparência do vizinho grandalhão, ele percebe que tem uma amiga, ainda que as pessoas possam atribuir segundas intenções a esse relacionamento. Meio que sem querer ele aceita se matricular numa aula de dança (country) e conhece Sjöfn (Ilmur Kristánsdóttir), forte candidata a ocupar um lugar em seu solitário coração. Porém, Sjöfn tem seus próprios problemas (mas verá que Fúsi está sempre disposto a ajudar). Desajustados é um filme simples, sem truques narrativos ou exuberância visual, mas consegue desenvolver sua história sem pressa e com grande simpatia, para isso, a direção e o roteiro de Dagur Kári conta com o apoio primordial do ator Gunnar Jónsson para tornar palpável como o mundo pode ser doloroso para quem tem um coração de ouro. Ainda que seja repleto de boas intenções, Fúsi sempre se depara com a impressão de que elas não são suficientes para melhorar a vida dos que estão ao seu redor ou, pelo menos, fazer com que as pessoas o tratem da mesma forma como ele as trata. Trata-se de um lição que aprendemos geralmente ao final da adolescência quando o mundo perde parte do seu encantamento. Sorte que Fúsi, assim como muitas pessoas não desanimam e percebem que talvez o mais importante seja procurar um lugar onde você se encaixe melhor, o difícil é quando demoramos muito para encontrar (nem que seja dentro de nós mesmos).
Desajustados (Fúsi / Islândia - Dinamarca/2015) de Dagur Kári com Gunnar Jónsson, Ilmur Kristánsdóttir, Sigurjón Kjartansson e Franziska Una Dagsdóttir. ☻☻☻
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